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- Por Deus!

- O que é?

- Acabo de ter uma idéia. Se eu estiver certo, pode ser que haja mais de dois homens nessa

história.

Judd mostrou-se incrédulo.

- Está querendo dizer que pode haver todo um bando de maníacos atrás de mim? Mas isso

não faz sentido!

Havia uma expressão de excitamento crescente no rosto de Moody.

- Doutor, tenho a impressão de que sei quem é o juiz neste jogo. Ainda não sei como nem

porquê…,. mas talvez eu possa saber quem.

- Quem?

Moody sacudiu a cabeça.

- O senhor me mandaria para um hospício se eu lhe dissesse. Eu sempre digo que se precisa

ter certeza de que a arma está de fato carregada antes de se começar a disparar. Quero antes praticar um pouco de tiro ao alvo. Se eu tiver certeza de que estou na trilha certa, virei contar-lhe tudo.

- Espero que esteja - disse Judd, ansioso.

- Não, Doutor. Se aprecia a sua vida, um pouco que seja, deve rezar para que eu esteja

errado.

E com isso Moody partiu.

Judd tomou um táxi e seguiu para o seu consultório.

Era meio-dia de sexta-feira. Faltando apenas três dias para o Natal, as ruas estavam apinhadas

de pessoas que faziam compras de última hora, encolhendo-se contra o vento gelado que soprava no rio Hudson. As vitrinas das lojas eram festivas e iluminadas, com árvores de Natal e figuras esculpidas da Natividade, Paz na Terra. Nata, Elizabeth e o filho que não chegara a nascer. Se conseguisse sobreviver, não estaria longe o dia que alcançaria a sua própria paz, libertando-se de um passado morto e enterrado. Ele sabia que, com Anne, teria… Judd conteve-se firmemente. De que adiantava

fazer fantasias com uma mulher casada que estava perto de ir para longe com o marido, a quem ela amava?

O táxi parou diante do edifício em que ficava seu consultório e Judd saltou, olhando

nervosamente ao redor. Mas o que ele devia procurar? Não tinha a menor idéia de qual seria a arma assassina e nem de quem a estaria empunhando.

Chegando ao consultório, Judd trancou cuidadosamente a porta externa, depois foi ao

armário embutido onde guardava as gravações das sessões e abriu-o. As fitas estavam arquivadas cronologicamente, sob o nome de cada paciente. Ele tirou as mais recentes e levou-as para o gravador. Com todas as consultas daquele dia canceladas, poderia concentrar-se inteiramente em tentar descobrir alguma pista que pudesse envolver amigos e parentes dos seus pacientes. Judd tinha a impressão de que a sugestão de Moody era inútil, mas passara a ter respeito bastante pelo detetive particular para ignorá-la.

Ao colocar a primeira fita no gravador, recordou-se da última vez em que usava o gravador.

"Será que fora mesmo apenas na noite anterior"? A recordação produziu nele uma sensação aguda de pesadelo. Alguém planeara assassiná-lo naquela sala, o mesmo lugar em que haviam assassinado Carol.

Judd compreendeu subitamente que nem se lembrara dos pacientes da clínica gratuita onde

trabalhava uma vez por semana. Provavelmente porque os assassinos tinham aparecido no seu

consultório e não no hospital. Mesmo assim… Ele foi até à parte do armário embutido onde estava escrito "CLÍNICA", examinou as fitas e selecionou meia dúzia. Pôs a primeira no gravador.

Rose Graham.

- …um acidente, Doutor. Nancy chora demais. Está sempre gemendo. Assim, quando bato

nela, é para o seu próprio bem, entende?

- Já procurou alguma vez descobrir por que Nancy chora tanto? - indagou a voz de Judd.

- É porque ela é mimada. O pai estragou-a completamente e depois foi embora e nos deixou.

Nancy sempre se julgou a filhinha do papai. Mas como Harry poderia amá-la, se nos abandonou desse jeito?

- Você e Harry nunca se casaram, não é?

- Bem… nós vivíamos maritalmente. É assim que chamam, não é? ïamo-nos casar.

- Há quanto tempo viviam juntos?

- Quatro anos.

- Quanto tempo depois de Harry tê-la abandonado é que você quebrou o braço de Nancy?

- Acho que uma semana depois. Eu não tinha intenção de machucá-la. Mas ela não parava de

se lamuriar e acabei pegando a vara da cortina e batendo nela.

- Acha que Harry amava Nancy mais do que a você?

- Não. Harry era louco por mim.

- Então por que acha que ele a deixou?

- Porque ele era homem. E sabe como os homens são? Uns animais! Todos vocês! Deviam

ser massacrados como porcos!

Soluços.

Judd desligou o gravador e ficou pensando em Rose Graham. Ela era uma misantropa

psicopata e quase matara de pancada a filha de seis anos, em duas ocasiões. Mas os padrões dos crimes não se ajustavam à psicose de Rose Grahan.

Ele pôs outra fita de pacientes da Clínica no gravador.

Alexandre Fallon.

- A polícia diz que atacou o Sr. Champion com uma faca, Sr. Fallon?

- Fiz apenas o que me mandaram.

- Alguém o mandou matar o Sr. Champiom?

- Ele me disse para fazê-lo.

- Ele quem?

- Deus.

- Porque é que Deus o mandou matar o sr. Champion?

- Porque Champion é um homem do diabo. Ele é um ator. Eu o vi no palco. Beijou aquela

mulher, aquela atriz, na frente de todo o mundo. Beijou-a e…

Silêncio.

- Continue.

- Segurou-lhe… a teta.

- E isso o perturbou?

- Mas claro que sim! Deixou-me transtornado. Será que não compreende o que aquilo

significava? Que ele tinha um conhecimento carnal dela! Quando saí do teatro, a sensação que tive foi de que acabara de voltar de Sodoma e Gomorra. Eles tinham que ser punidos.

- E então decidiu matá-lo?

- Não fui eu quem decidiu. Deus é quem o fez. Eu apenas executei as Suas ordens.

- Deus lhe fala com muita freqüência?

- Somente quando há trabalho Seu para ser feito. Ele me escolheu como Seu instrumento

porque sou puro. Sabe o que me torna puro? E sabe o que é a coisa mais purificadora do mundo?

Exterminar os maus.

Alexandre Fallon. Trinta e cinco anos. Assistente de padeiro. Fora enviado para um hospício

durante seis meses e depois solto. Será que Deus lhe ordenara que destruísse Hanson, um

homossexual, e Carol, uma antiga prostituta, além de Judd, o benfeitor de ambos? Judd concluiu que era improvável. Os processos mentais de Fallon obedeciam a espasmos breves e dolorosos. Quem quer que tivesse planeado os crimes, era inegavelmente uma pessoa altamente eficiente e organizada.

Ele tocou diversas fitas dos pacientes da clínica, mas nenhuma delas se ajustava ao padrão

que estava procurando. Não, não era nenhum paciente da clínica.

Repassou então os pacientes do consultório e um nome logo lhe despertou a atenção.

Skeet Gibson.

Pôs a fita no gravador.

- Bom dia, Doutor. O que acha desse lindo dia que lhe preparei especialmente?

- Estou-me sentindo bem hoje.

- Se eu me estivesse sentindo melhor, eles certamente me iriam trancafiar. Foi ao meu

espetáculo ontem à noite?

- Não me foi possível. Lamento.

- Foi um estouro. Jack Gould chamou-me de "o maior comediante do mundo". E quem sou

eu para discutir com um gênio Jack Gould? Devia ter ouvido o público. Eles aplaudiram freneticamente. Sabe o que isso prova?

- Que eles sabem ler os cartões de "Aplausos"?

- É muito esperto, seu diabo! É disso que eu gosto: um "espreme-crânios" que tem senso de

humor. O último que eu tive era um chato! Tinha uma barba imensa que realmente me incomodava.

- Por quê?

- Porque era uma mulher.

Risadas. - Eu o peguei desta vez, não é? Agora falando sério, uma das razões pelas quais

estou-me sentindo tão bem hoje é que acabei de investir um milhão de dólares para ajudar as crianças em Biafra.

- Não é de admirar que se sinta bem.

- Pode apostar que sim. A história saiu nas primeiras páginas dos jornais do mundo inteiro.