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O gerente, um certo Paul Moretti, fora localizado numa festa pré-natalina e de lá arrancado

para responder a algumas perguntas. Ele explicara que havia liberado os empregados ao meio-dia, já que a semana de feriados estava começando. Trancara tudo e, ao que sabia, não ficara ninguém no interior do armazém. O Sr. Moretti estava ligeiramente embriagado. Quando McGreavy compreendeu que ele não poderia ajudar em mais nada, mandou que o levassem para casa. Judd mal se apercebera do que acontecia. Seus pensamentos estavam concentrados em Moody. Lembrava-se de como ele fora jovial e cheio de vida e indignava-o o seu cruel assassinato. E Judd atribuía a culpa a si mesmo.

Se ele não houvesse envolvido Moody no caso, o gordo detetive ainda estaria vivo.

Era quase meia-noite. Judd, exausto, já repetira dez vezes a história do telefonema de Moody.

McGreavy, encolhido dentro de seu sobretudo, fitava-o insistentemente, mastigando sem parar um charuto. Finalmente ele perguntou a Judd:

- Costuma ler histórias de detetives?

Judd ficou surpreso

- Não. Por quê?

- Vou-lhe dizer. Acho que é bom demais para ser verdadeiro, Sr. Stevens. Acreditei, desde

o início, que o Senhor estava enterrado nesse assunto até o pescoço. E eu lhe disse isso. O que

aconteceu, então? Subitamente transformou-se de assassino provável em possível vítima. Primeiro alega que um carro tentou atropelá-lo deliberadamente…

- E ele foi mesmo atropelado - recordou Angeli.

- Um recruta poderia facilitar explicar o que houve. Isso pode ter sido arrumado por alguém

que esteja trabalhando com o nosso Doutor.

McGreavy voltou a dirigir-se a Judd:

- Em seguida telefona para o Detetive Angeli com uma história delirante sobre dois homens

que estariam tentando arrombar seu consultório para matá-lo.

- E arrombaram mesmo - disse Judd.

- Não, não arrombaram coisa alguma. Usaram uma chave especial. E o senhor disse que só

existiam duas chaves: a sua e a de Carol Roberts.

- Exatamente. Mas eu já lhe expliquei que, provavelmente, eles tiraram uma cópia da chave

de Carol.

- Eu me lembro perfeitamente do que explicou. Mandei fazer um teste de parafina. A chave

de Carol nunca foi copiada, Doutor.

Ele fez uma pausa para deixar que a informação fosse absorvida.

- E como a chave dela está em meu poder… só resta a sua, não é mesmo, Doutor?

Judd estava aturdido demais para falar.

- Como eu não aceitasse a teoria do maníaco à solta, Doutor, o senhor resolveu contratar um

detetive particular pelas páginas amarelas e logo depois, convenientemente, ele descobre uma bomba instalada em seu carro. Chega então à conclusão de que já está na hora de jogar outro cadáver no meu caminho e conta a história a Angeli; uma história sobre um telefonema que recebeu de Moody.

Ele descobrira quem era o maluco que está tentando matá-lo. Mas veja o que acontece? Nós

chegamos aqui e descobrimos que Moody está pendurado num gancho de carne!

Judd ficou vermelho de raiva.

- Mas não sou responsável pelo que aconteceu!

McGreavy lançou-lhe um olhar duro.

- Sabe qual é a única razão de ainda não estar preso, Doutor? É não conseguir até agora

encontrar um motivo para este quebra-cabeças. Mas encontrarei, Doutor. É uma promessa.

Ele levantou-se. Subitamente Judd recordou-se de uma coisa:

- Espere um instante! E o que me diz de Don Vinton?

- O que há com ele?

- Moody disse-me que era o homem que estava por trás de tudo isso.

- Conhece alguém chamado Don Vinton, Doutor?

- Não. Mas… achei que a polícia deveria conhecer.

- Nunca ouvi falar nele!

McGreavy virou-se para Angeli, que sacudiu a cabeça negativamente.

- Muito bem. Mande um pedido de informação a respeito de Don Vinton para o FBI, Interpol

e para os chefes de polícia das principais cidades americanas.

Ele virou-se em seguida para Judd:

- Satisfeito?

Judd assentiu. Quem quer que estivesse por trás de tudo aquilo, não poderia deixar de ter uma

ficha criminal. Não deveria ser difícil identificá-lo.

Ele pensou novamente em Moody, seus aforismos de alegria e sua mente ágil. Deviam tê-lo

seguido até ali. Era pouco provável que tivesse falado com outra pessoa a respeito do encontro, porque ressaltara insistentemente a necessidade de segredo. Mas, pelo menos, eles sabiam agora o nome do homem que estava procurando.

Praemonitus, praemunitas.

Um homem prevenido vale por dois.

O assassinato de Norman Z. Moody foi estampado nas primeiras páginas dos jornais da

manhã seguinte. Judd comprou um jornal a caminho do consultório. Ele era mencionado, de

passagem, como uma testemunha que estava junto com a polícia quando o corpo fora encontrado.

McGreavy conseguira manter os fatos completos fora do conhecimento da imprensa. Isso significava que estava jogando com as cartas coladas no peito. Judd ficou imaginando o que Anne iria pensar.

Era sábado, e Judd costumava fazer uma ronda na clínica. Mas ele providenciara para que

alguém o substituísse. Foi para o consultório, subindo sozinho no elevador e certificando-se de que ninguém estava à espreita no corredor. Até quando uma pessoa poderia viver assim, à espera de que, a qualquer momento, um assassino o atacasse?

Por meia dúzia de vezes, durante a semana, ele estendeu a mão para pegar o telefone,

pensando em ligar para Angeli e perguntar-lhe a respeito de Don Viton. Mas em todas as vezes conteve a sua impaciência. Angeli, certamente, iria telefonar-lhe assim que soubesse de alguma coisa.

Por mais que pensasse a esse respeito, Judd não conseguia encontrar uma motivação para os atos de Don Viton. Talvez fosse um paciente que ele tratara há muitos anos, do tempo em que ainda era interno. Alguém que achava que Judd o desdenhara ou prejudicara, de alguma forma. Mas Judd não conseguia lembrar-se de nenhum paciente chamado Vinton.

Ao meio-dia ele ouviu um barulho na porta do corredor. Era Angeli. Judd nada pôde deduzir

de sua expressão, a não ser que estava mais pálido. Parecia extremamente cansado. O nariz estava vermelho e ele fungava constantemente. Entrou na sala de Judd e afundou-se pesadamente numa cadeira.

- Já recebeu alguma resposta a respeito de Don Vinton? - indagou Judd, ansiosamente.

Angeli assentiu.

- Recebemos teletipos do FBI, dos chefes de polícia das principais cidades americanas e da

Interpol.

Judd esperou, contendo a respiração.

- Ninguém jamais ouviu falar de Don Vinton.

Judd fitou Angeli, incrédulo. Sentiu subitamente um peso imenso no estômago.

- Mas isso é impossível! Alguém tem que conhecê-lo! Um homem capaz de fazer tudo isso

não pode ter surgido do nada!

- Foi o que McGreavy disse - respondeu Angeli, a voz cansada. - Doutor, eu e meus homens

passamos a noite inteira verificando cada Don Vinton que existe em Manhattam e nas localidades próximas. Investigamos até mesmo Nova Jersey e Connecticut.

Ele tirou um papel todo escrito do bolso e mostrou-o a Judd.

- Descobrimos dezessete Dons Vinton no catálogo telefônico. Mas reduzimos a lista a cinco

possíveis suspeitos e verificamos um por um. Um é paralítico. Outro é padre. O terceiro é

vice-presidente de um banco. O quarto é bombeiro que estava de serviço quando ocorreram dois dos três crimes. Só deixei fora o último da lista, que é dono de uma loja de animais domésticos e deve ter mais de oitenta anos.

A garganta de Judd estava seca. Ele compreendeu o quanto confiara em que se descobrisse

alguma coisa por aquele meio. Certamente Moody não lhe teria fornecido o nome se não tivesse certeza. E ele não dissera que Don Vinton era um simples cúmplice, mas sim um homem que estava por trás de tudo. Era inconcebível que a polícia não tivesse a ficha de um homem assim. Moody fora assassinado porque descobrira a verdade. E agora que Moody estava fora do caminho, Judd ficava completamente sozinho. O cerco estava-se fechando.