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- Lamento muito - disse Angeli.

Judd olhou para Angeli e lembrou-se de que o detetive passara a noite inteira fora de casa,

apesar de estar com um forte resfriado. Disse, agradecido:

- Muito obrigado por tentar.

Angeli inclinou-se para a frente.

- Tem certeza de que ouviu bem o nome que Moody lhe disse pelo telefone?

- Tenho.

Judd fechou os olhos, concentrando-se. Ele perguntara a Moody se tinha certeza de que sabia

quem realmente estava por trás de tudo. Ouviu novamente a voz de Moody: - Absoluta. Já ouviu falar em Don Vinton? - Era isso mesmo: Don Vinton. Judd abriu os olhos.

- Tenho.

Angeli suspirou.

- Então chegamos a um beco sem saída.

Ele soltou uma risada e acrescentou:

- Sem nenhum trocadilho.

Ele espirrou novamente e Judd comentou:

- É melhor voltar para a cama.

Angeli levantou-se.

- É, acho que tem razão.

Judd hesitou antes de perguntar:

- Há quanto tempo trabalha com McGreavy?

- Este é o nosso primeiro caso juntos. Por quê?

- Acha que ele é capaz de querer incriminar-me de qualquer maneira?

Angeli espirrou novamente.

- Acho que está certo, Doutor. O melhor mesmo é eu voltar para a cama.

Ele encaminhou-se para a porta, mas Judd disse antes que Angeli deixasse a sala:

- Talvez eu tenha uma pista.

Angeli parou e virou-se.

- Continue.

Judd falou-lhe a respeito de Teri. Acrescentou que iria também investigar alguns antigos

amiguinhos de John Hanson.

- Não parece muito promissor - disse Angeli, com franqueza. - Mas acho que é melhor do que

nada.

- Estou cansado de ser um alvo passivo. Vou começar a reagir, saindo atrás deles.

- De que forma? Estamos enfrentando sombras.

- Quando as testemunhas descrevem um suspeito, a polícia manda um desenhista fazer um

esboço de todas as feições e traços descritos, não é mesmo?

Angeli assentiu.

- É um esboço de identidade, um retrato falado.

Judd começou a andar de um lado para o outro, irrequieto.

- Pois vou lhe dar um esboço da personalidade do homem que está por trás de tudo.

- Como pode fazê-lo? Nunca o viu. Ele pode ser qualquer pessoa.

- Não, não pode. Estamos procurando alguém muito especial.

- Alguém que é insano.

- A insanidade é uma coisa muito ampla. Não tem qualquer definição médica. A insanidade

é simplesmente a capacidade da mente se ajustar-se à realidade. Se não conseguimos ajustar, ou nos escondemos da realidade ou nos colocamos acima da vida, onde somos super seres que não precisam acatar as regras da sociedade.

- Então o nosso homem se julga um super ser.

- Exatamente. Numa situação de perigo, Angeli, temos sempre três opções. Fugir, chegar

a um compromisso construtivo ou atacar. O nosso homem prefere atacar.

- Então ele é um lunático.

- Não. Os lunáticos raramente matam. Eles só se conseguem concentrar em algo por um

espaço de tempo muito curto. Estamos tratando de alguém muito mais complexo. Ele pode sofrer de alguma perturbação de origem psicossomática, hipofrênica, esquizofrênica, ciclóide, ou uma combinação de todas elas. Podemos também estar enfrentando um problema de fuga, uma amnésia precedida por atos irracionais. Mas, seja como for, a aparência e o comportamento dele parecerão a todos perfeitamente normal.

- Então não temos nada em que nos basear para continuarmos.

- Está enganado. Até que já temos muita base. Posso fornecer-lhe uma descrição física do

homem que estamos procurando.

Judd cerrou os olhos, concentrou-se

- Dom Vinton é de estrutura média, corpo bem proporcionado, e constituição atlética.

Veste-se impecavelmente e é meticuloso em tudo o que faz. Não possui o menor talento artístico.

Não pinta, não escreve, não toca piano.

Angeli ficou boquiaberto. Judd continuou falando mais rapidamente agora:

- Não pertence a nenhum clube ou organização social. A não ser que os esteja dirigindo. É

um homem que tem de estar no comando, implacável e impaciente. Joga alto. Por exemplo: jamais esteve implicado em roubos miúdos. Se tem ficha na polícia, é por assalto a banco, seqüestro ou homicídio.

A agitação na mente de Judd aumentava à medida que a imagem se ia definindo com nitidez

em sua mente.

- Quando o pegarem, provavelmente irão descobrir que foi rejeitado pelo o pai ou pela mãe

quando criança.

Angeli interrompeu-o:

- Doutor, não quero esvaziar seu balão, mas pode ser algum viciado maluco que…

- Não. O homem que estamos procurando não toma drogas.

A voz de Judd era positiva.

- Vou-lhe dizer mais uma coisa a respeito dele: praticou desporto coletivo na escola. Futebol

ou hóquei. Não possui o menor interesse por xadrez, jogos de palavras ou quebra-cabeças.

Angeli estava agora visivelmente cético.

- Há mais de um homem, Doutor. Foi o senhor mesmo quem disse.

- Estou-lhe dando uma descrição de Don Vinton, o homem que está dando as ordens. E tem

mais: ele é um tipo latino.

- O que o faz pensar assim?

- Os métodos que ele usou nos crimes. Uma faca, ácido, uma bomba. Ele é sul-americano,

italiano ou espanhol.

Judd respirou fundo antes de concluir:

- Aí está seu esboço de identificação. Esse é o homem que cometeu três assassinatos e está

querendo matar-me.

Angeli engoliu em seco.

- Como diabo pode saber de tudo isso?

Judd sentou-se e inclinou-se na direção de Angeli.

- É minha profissão.

- O lado mental, sim. Mas como pode dar a descrição física de um homem que nunca viu?

- Estou-me baseando na lei das probabilidades. Um médico chamado Kretschmer descobriu

que 85 por cento das pessoas que sofrem de paranóia possuem corpo atlético, bem proporcionado.

Nosso homem é evidentemente um paranóico. Tem mania de grandeza. é um megalomaníaco que pensa estar acima da lei.

- Então porque é que ele não foi ainda apanhado?

- Porque está usando uma máscara.

- Está usando o quê?

- Todos nós usamos máscaras, Angeli. Desde a infância, ensinam-nos a esconder os nossos

sentimentos verdadeiros, a encobrir nossos ódios e medos. Mas sob tensão, Don Vinton vai acabar deixando cair a máscara e exibindo a outra face.

- Entendo.

- O ego dele é seu ponto vulnerável. Se se sentir ameaçado, realmente ameaçado, então vai

desmoronar. Ele está agora pisando em gelo fino. Não vai demorar a desmoronar por completo.

Judd hesitou, mas depois continuou, quase que falando para si mesmo:

- Ele é um homem que tem… mana.

- Tem o quê?

- Mana. É um termo usado pelos primitivos para designar um homem que exerce influências

sobre os outros por causa dos demônios que existem dentro dele. Em suma, um homem com uma personalidade dominante.

- Disse que ele não pinta, não escreve nem toca piano. Como pode saber disso?

- O mundo está cheio de artistas que são esquizofrênicos. A maioria consegue atravessar a

vida sem cometer qualquer violência porque o trabalho proporciona um meio de expressão, de

evasão. Nosso homem não possui esse desaguadouro. Por isso ele é como um vulcão. A única

maneira que tem de se livrar da pressão interior é pela erupção: ou seja, pela morte de Hanson, Carol e Moody.

- Está querendo dizer que foram crimes sem sentido que ele cometeu para…

- Ele não faz coisas sem sentido. Pelo contrário…