A mente de Judd trabalhava rapidamente. Diversos outros pedaços do quebra-cabeças se
ajustaram em seus lugares. Ele censurou-se por ter estado cego e assustado demais para vê-los antes.
- Eu sou a única pessoa que Don Vinton está realmente querendo liquidar, seu alvo principal.
John Hanson foi morto porque o confundiu comigo. Quando o assassino descobriu o erro, veio ao meu consultório para uma segunda tentativa. Eu tinha saído, mas ele encontrou Carol.
A voz de Judd estava furiosa. Ele fez uma pausa, que Angeli aproveitou para perguntar:
- Ele matou-a só para que ela não pudesse identificá-lo?
- Não. O homem que estamos procurando não é um sádico. Carol foi torturada porque ele
queria alguma coisa. Digamos que se tratasse de alguma prova incriminadora que ela não quis ou não pôde fornecer-lhe.
- Que espécie de prova, Doutor?
- Não tenho a menor idéia. Mas aí está a chave de tudo. Moody descobriu a resposta e foi por
isso que o mataram.
- Mas há uma coisa que ainda não está fazendo sentido - insistiu Angeli. - Se eles o tivessem
assassinado na rua, Doutor, então não poderiam encontrar o que estão procurando. Isso não se ajusta ao resto da sua teoria.
- É possível. Vamos supor que eles estejam procurando alguma coisa nas minhas gravações.
Por si só, talvez seja uma informação inteiramente inofensiva. Mas, eles têm duas alternativas. Ou arrancam a fita de mim ou me assassinam, a fim de que eu não possa transmitir a informação a ninguém. Primeiro eles tentaram eliminar-me, mas cometeram um engano e mataram Hanson. Depois buscaram a segunda alternativa. Tentaram arrancar de Carol a informação de que precisavam.
Quando fracassaram, decidiram concentrar-se em matar-me. Houve o acidente de carro. Provavelmente fui seguido quando contratei Moody, que por sua vez foi também seguido. Quando ele descobriu a verdade, trataram de assassiná-lo.
Angeli franziu o rosto, pensativo.
- É por isso que o assassino não vai parar enquanto não conseguir matar-me - concluiu Judd
calmamente. - Torna-se um jogo mortal, e o homem que eu descobri não suporta a idéia de perder.
Angeli estudava-o atentamente, avaliando tudo o que acabava de ouvir.
- Se está certo, Doutor, então vai precisar de proteção.
Ele tirou o revólver do coldre e verificou se estava tudo carregado.
- Obrigado, Angeli, mas não preciso de uma arma. Vou lutar contra eles com as minhas
próprias armas.
Houve um estalido agudo. A porta externa se abriu.
- Está esperando alguém, Doutor?
Judd sacudiu a cabeça.
- Não. Não tenho nenhum paciente marcado para esta tarde.
Com a arma na mão, Angeli avançou rapidamente até a porta que dava para a sala de
recepção. Ficou de lado e abriu-a bruscamente. Peter Hadley estava parado ali, com uma expressão aturdida no rosto.
Judd foi até a porta e disse a Angeli:
- Está tudo bem. Ele é amigo meu.
- Que diabo está acontecendo aqui? - indagou Peter.
- Desculpe - disse Angeli, guardando a arma.
- Este é o Dr. Peter Hadley… Detetive Angeli.
- Que espécie de clínica psiquiátrica inteiramente louca você está fazendo aqui, Judd -
indagou Peter.
- Houve um pequeno problema - explicou Angeli. - O consultório do Dr. Stevens foi…
assaltado e pensamos que fosse o ladrão que estivesse de volta.
Judd aproveitou a deixa:
- Isso mesmo. Eles não encontraram o que estavam procurando.
- Isso tem alguma relação com o assassinato de Carol? - indagou Peter.
Angeli falou antes que Judd pudesse responder:
- Não tenho certeza, Dr. Hadley. Mas, por enquanto, a polícia pediu ao Dr. Stevens que não
discutisse o caso com ninguém.
- Eu compreendo - disse Peter, olhando em seguida para Judd: - O compromisso de
almoçarmos juntos ainda está de pé?
Judd esquecera-se completamente.
- Mas claro que sim - disse ele rapidamente, dirigindo-se depois a Angeli: - Acho que já
examinamos tudo.
- Creio que sim, Doutor. Tem certeza de que não quer…
- Ele indicou o revólver.
Judd sacudiu a cabeça.
- Não, obrigado.
- Está certo. Tome cuidado, Doutor.
- Fique tranqüilo. Tomarei.
Judd mostrou-se bastante preocupado durante o almoço e Peter não o pressionou.
Conversaram sobre amigos e pacientes comuns. Peter contou a Judd que falara ao chefe de Harrison Burke. Tudo já foi providenciado para que se submetesse a um exame psiquiátrico, sendo internado numa clínica particular.
Ao café, Peter disse:
- Não sei qual é o problema que está enfrentando, Judd, mas se eu puder ajudar em alguma
coisa…
Judd sacudiu a cabeça.
- Obrigado, Peter. É um problema que terei de resolver sozinho. Eu lhe contarei quando tudo
estiver acabado.
- Só espero que não demore - disse Peter, procurando falar jovialmente.
Hesitou por um momento, mas acabou perguntando:
- Judd… você está correndo algum perigo?
- É claro que não!
O que seria verdade se não houvesse um maníaco homicida que já cometera três assassinatos
e estava determinado a fazer Judd sua quarta vítima.
Capítulo 15
Judd voltou para o escritório depois do almoço. Efetuou novamente a mesma rotina
cuidadosamente, tentando expor-se o mínimo possível.
Se é que essas preocupações adiantavam alguma coisa.
Começou a ouvir as fitas novamente, tentando achar algo que pudesse proporcionar-lhe uma
pista. Era como ligar uma torrente de grafito verbal. O jorro de som estava repleto de ódio…
perversão… medo… comiseração de si próprio… megalomania… solidão… vazio… dor…
Ao fim de três horas descobrira um único novo nome a acrescentar na sua lista: Bruce Boyd,
o homem com quem John Hanson vivera por último. Ele pôs novamente a fita de Hanson no gravador.
- …Acho que me apaixonei por Bruce à primeira vista. Era o homem mais bonito que já tinha
conhecido.
- Ele era o parceiro passivo ou dominante, John?
- Dominante. Foi uma das coisas que me atraíram nele. Bruce é muito forte. Mais tarde,
quando nos tornamos amantes, costumávamos brigar por causa disso.
- Como assim?
- Bruce não tinha consciência da sua própria força. Costumava aproximar-se por trás de mim
e dar-me um soco nas costas. Ele o fazia como um gesto de amor, mas um dia quase me quebrou a espinha. Tive vontade de matá-lo. Quando apertava a mão de alguém, quase lhe esmagava os dedos.
Ele sempre fingia estar arrependido, mas no fundo Bruce gosta de machucar as pessoas. E ele não precisava de um chicote para isso. É um homem muito forte…
Judd parou a fita e ficou imóvel, pensando. O padrão do homossexual não se ajustava ao seu
conceito do assassino. Mas por outro lado, Bruce estivera envolvido com Hanson e era sádico e egocêntrico.
Judd olhou para os dois nomes em sua lista: Teri Washburn, que matara um homem em
Hollywood e nunca mencionara o fato; Bruce Boyd, o último amante de John Hanson. Se fora um deles… qual dos dois?
Teri Washburn morava num apartamento de cobertura em Sutton Place. Todo o apartamento
era decorado num tom de rosa berrante: as paredes, os móveis, as cortinas. Havia peças caríssimas espalhadas por toda a parte. As paredes estavam cobertas de impressionistas franceses. Judd reconheceu dois Manets, dois Degas, um Monet e um Renoir, antes que Teri entrasse na sala. Ele lhe telefonara dizendo que queria visitá-la. Teri se preparava para recebê-lo. Estava usando um négligé rosa algo transparente, sem nada por baixo.
- Você veio mesmo! - exclamou ela, alegremente.
- Eu queria falar-lhe, Teri.
- Mas claro! Aceita um drinque?