- Não, obrigado.
- Pois acho que vou preparar um para mim. A ocasião merece uma comemoração.
Teri dirigiu-se ao bar que havia a um canto da imensa sala de estar. Judd ficou observando-a,
pensativo.
Ela voltou com um drinque e sentou-se perto dele, no sofá rosa.
- Então quer dizer que o sexo finalmente o trouxe até aqui, querido. Eu sabia que você não
poderia continuar a resistir à pequena Teri. Estou louquinha por você, Judd. Farei qualquer coisa que quiser. Basta dizer. Você faz com que todos os caras que já conheci na vida pareçam pobres coitados.
Teri largou o copo em cima de uma mesinha e estendeu as mãos para as calças de Judd. Ele
segurou-lhe as mãos.
- Teri, estou precisando da sua ajuda.
A mente dela estava viajando num mundo próprio.
- Eu sei, meu bem - gemeu ela. - Você vai ter de mim o que nunca recebeu em toda a vida.
- Teri, por favor, escute! Alguém está tentando assassinar-me!
Os olhos dela foram pouco a pouco manifestando surpresa. Ela estaria representando… ou
seria uma reação genuína? Judd recordou-se do desempenho dela num de seus últimos espetáculos.
Era uma reação genuína. Teri era uma boa atriz, mas não a esse ponto.
- Oh, Deus! E quem… quem está querendo assassiná-lo?
- Talvez seja alguém ligado a um dos meus pacientes.
- Mas… mas por quê?
- É isso que estou tentando descobrir, Teri. Algum dos seus amigos já falou em matar… Ou
assassinar? Talvez numa festa, por brincadeira?
Teri sacudiu a cabeça.
- Não.
- Conhece alguém chamado Don Vinton?
- Don Vinton? Não. Acha que devo conhecer?
- Teri… como se sente com relação a um homicídio?
Um pequeno estremecimento correu no corpo dela. Judd estava segurando-lhe os pulsos e
sentiu que dispararam.
- O homicídio a deixa nervosa, Teri?
- Não sei…
- Pense um pouco, Teri. A idéia de homicídio a deixa excitada?
Os pulsos dela pulavam irregularmente.
- Não! É claro que não!
- Por que não me disse nada a respeito do homem que matou em Hollywood?
Sem qualquer aviso, ela estendeu as mãos para rasgar-lhe o rosto com as unhas compridas.
Judd conseguiu contê-las.
- Seu filho da puta nojento! Isso aconteceu há vinte anos atrás. Então foi por isso que veio
até aqui! Saia! Saia!
Teri desabou no sofá, em soluços histéricos.
Judd ficou a observá-la por mais um momento. Teri era passível de ser envolvida num crime.
Sua insegurança e a ausência total de amor-próprio tornavam-na presa fácil de quem quer que
desejasse usá-la. Ela era como um pedaço de argila mole largada numa sarjeta. A pessoa que a recolhesse poderia moldá-la numa linda estátua… ou numa arma fatal. A questão era saber quem a recolhera por último. Don Vinton?
Judd levantou-se.
- Lamento muito, Teri.
E saiu do apartamento cor-de-rosa.
Bruce Boy vivia numa casa em Greenwich Village onde outrora ficavam umas cavalariças.
A porta foi aberta por um mordomo filipino de jaleco branco. Judd disse o seu nome e foi convidado a entrar e aguardar no vestíbulo. O mordomo desapareceu. Dez, quinze minutos se passaram. Judd conteve sua irritação. Deveria ter dito ao Detetive Angeli que viria até ali. Se a teoria de Judd fosse correta, a próxima tentativa de matá-lo não demoraria a ocorrer. E, dessa vez, o assassino tudo faria para garantir a consumação do crime.
O mordomo voltou.
- O Sr. Boyd irá recebê-lo.
Ele conduziu Judd até um estúdio muito bem decorado no segundo andar, retirando-se em
seguida, discretamente.
Boyd estava sentado a uma escrivaninha. Parecia ocupado em escrever algo. Era um homem
bonito, com feições delicadas, nariz aquilino, boca peluda e sensual, cabelos louros, encaracolados. levantou-se assim que Judd entrou. Tinha mais de 1,90 metros de altura, peito e ombros de atleta.
Judd pensou no esboço de identificação física do assassino que fizera. Boyd correspondia plenamente.
Judd desejou mais do que nunca ter deixado algum aviso para Angeli.
- Perdoe-me por fazê-lo esperar, Dr. Stevens - disse ele cordialmente. - Eu sou Bruce Boyd.
Estendeu a mão. Judd adiantou-se para apertá-la e, nesse momento, Boyd desferiu-lhe um
soco na boca, com um punho de granito. O golpe foi totalmente inesperado e o impacto arremessou
Judd para trás, derrubando um abajur ao cair no chão.
- Desculpe, Doutor - disse Boyd, fitando-o tranqüilamente. - Mas o senhor bem que merecia
isso. Foi um menino muito mau, não acha? Levante-se e eu lhe preparo um drinque.
Judd sacudiu a cabeça, completamente tonto. Começou a levantar-se, mas Boy chutou-o na
virilha com a ponta do sapato e Judd caiu novamente no chão, contorcendo-se de dor.
- Eu já estava esperando que me viesse procurar, Doutor.
Judd levantou os olhos, por entre as ondas incessantes de dor, para o vulto de pé à sua frente.
Tentou falar, mas não conseguiu pronunciar uma só palavra.
- Não tente falar - disse Boyd, mais benevolente. - Deve estar doendo bastante. Eu sei por
que está aqui. Quer-me fazer perguntas a respeito de Johnny.
Judd assentiu e Boyd chutou-o na cabeça. Através de uma neblina vermelha, a voz de Boyd
chegou até Judd, distante e abafada, volta e meia se desvanecendo:
- Nós nos amávamos até que ele foi procurá-lo. O senhor fez com que ele se sentisse anormal,
Doutor. Fez com que pensasse que nosso amor era algo sujo, repugnante. Sabe quem o tornou sujo assim, Dr. Stevens? Foi o senhor mesmo!
Judd sentiu algo duro bater em suas costelas, provocando um riu de dor que se espraiou por
suas veias. Ele estava agora vendo todos os objetos com cores vivas, como se a sua cabeça estivesse repleta de arcos-íris que tremeluziam.
- Quem lhe deu o direito de dizer às pessoas como devem amar, Doutor? Fica sentado lá em
seu consultório como se fosse um deus, condenando todo mundo que não pensa como o senhor!
"Mas isso não é verdade"! Judd ouviu uma parte de sua mente responder. “Hanson nunca”.
antes tivera qualquer alternativa. Foi a única coisa que fiz: proporcionar-lhe uma alternativa. E ele acabou não escolhendo “!”.
- Agora Johnny está morto - disse o gigante louro. - Matou meu Johnny, Doutor. E agora eu
vou matá-lo.
Judd sentiu outro pontapé atrás do ouvido e começou a resvalar para a inconsciência. Alguma
parte remota de sua mente observava, com um interesse distante, o resto do corpo começar a morrer.
Aquela parte pequena e isolada da sua inteligência, localizada no cerebelo, continuou a funcionar perfeitamente, sendo seus impulsos convertidos em pensamentos. Judd censurou-se por não ter chegado perto da verdade. Imaginara que o assassino fosse um tipo moreno, latino. Mas era louro.
Ficava convencido de que o assassino não era homossexual e se enganara completamente. Encontrara finalmente o seu maníaco homicida, e agora ia morrer por causa disso.
Judd perdeu os sentidos.
Capítulo 16
Alguma parte distante e remota da mente de Judd estava tentando enviar-lhe uma mensagem,
procurando comunicar-lhe algo de importância cósmica. Mas as marteladas dentro de seu crânio eram tão angustiantes que ele não podia concentrar-se em coisa alguma! Em algum lugar, perto dele, podia ouvir um gemido agudo, como o uivo de um animal ferido. Lentamente, dolorosamente, Judd abriu os olhos. Estava deitado numa cama, num quarto estranho. A um canto do quarto estava Bruce Boyd, chorando inconsoladamente.
Judd tentou senta-se. A dor lancinante em seu corpo inundou-lhe a memória com a
recordação do que lhe acontecera. E Judd sentiu-se subitamente dominado por uma fúria selvagem e incontrolável.
Boyd virou-se ao ouvir Judd mexer-se. Aproximou-se da cama e disse em tom de lamúria: