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- Deseja uma consulta?

Judd levantou os olhos. O Dr. Seymour Harris entrara no quarto. E acrescentou jovialmente:

- Você está-se tornando um dos nossos melhores clientes. Sabe em quanto vai somente a

conta dos pontos? É claro que lhe vamos dar os descontos de freqüência… Como dormiu, Judd?

Ele sentou-se na beira da cama.

- Como um bebê. O que foi que me deu?

- Uma injeção de sódio-luminol.

- Que horas são?

- Meio-dia.

- Meu Deus! Tenho que sair daqui!

O Dr. Harris tirou a ficha médica da prancheta que estava carregando.

- Sobre que gostaria de falar primeiro? Sua concussão? As escoriações? Ou as contusões?

Harris pôs a ficha de lado e disse em tom grave:

- Judd, seu corpo sofreu um severo castigo. Maior do que você imagina. Se for inteligente,

continuará nesta cama por mais alguns dias, descansando. Depois tirará férias de um mês.

- Obrigado, Seymour.

- Você diz obrigado, mas, na verdade, está querendo dizer é "não, obrigado".

- Há um problema urgente que preciso resolver.

O Dr. Harris suspirou.

- Sabe quais são os piores pacientes do mundo? Os próprios médicos.

Ele mudou de assunto rapidamente, reconhecendo a derrota.

- Peter passou a noite inteira aqui. E depois que saiu está telefonando de hora em hora. Ele

está bastante preocupado com você, Judd. Acha que alguém tentou matá-lo ontem à noite.

- Você sabe como os médicos são. Não há um que não tenha imaginação em excesso.

Harris ficou em silêncio por um momento, depois encolheu os ombros e disse:

- Você é o analista. Eu sou apenas Ben Casey. Talvez saiba o que está fazendo… mas eu não

apostaria um níquel nisso. Tem certeza de que não quer ficar na cama por alguns dias?

- Não posso ficar.

- Está certo, Tigre. Vou deixá-lo sair amanhã.

Judd fez menção de protestar, mas o Dr. Harris interrompeu-o:

- Não discuta. Hoje é domingo. Os caras que o estão surrando precisam de um descanso.

- Seymour…

- Mais uma coisa: detesto bancar a mãe judia, mas tenho que lhe perguntar se ultimamente

tem comido alguma coisa.

- Quase nada.

- Está certo. Vou dar vinte e quatro horas à Senhorita Bedpan para engordá-lo. Judd…

- O que é?

- Tome cuidado. Eu detestaria perder um cliente tão bom.

E com isso o Dr. Harris se foi.

Judd fechou os olhos para descansar por um momento. Ouviu um barulho de pratos e

abriu-os. Uma linda enfermeira irlandesa estava entrando no quarto com um carrinho de comida.

- Está acordado, Dr. Stevens?

Ela sorriu.

- Que horas são?

- Seis horas.

Ele dormia o dia inteiro. A enfermeira colocou a comida na bandeja especial para a cama.

- Vai ter um banquete esta noite: peru. Amanhã é véspera de Natal.

- Eu sei.

Judd não sentia apetite algum até engolir o primeiro pedaço. Descobriu então que estava

faminto. O Dr. Harris proibira todos os telefonemas e, por isso, ele ficou na cama sem fazer nada, recuperando-se, agrupando as forças interiores para o combate. No dia seguinte precisaria de toda energia de que pudesse dispor.

Às dez horas da manhã seguinte o Dr. Seymour Harris entrou no quarto de Judd.

- Como está o meu paciente predileto? disse ele, sorrindo. - Sabe que você está parecendo

quase humano?

- Eu me sinto quase humano - disse Judd, sorrindo também.

- Ótimo. Você tem uma visita. Mas eu não gostaria de que se assustasse. Peter. E provavelmente Norah também. Parecia que ultimamente eles passavam a maior parte do tempo a visitá-lo em hospitais. O Dr. Harris continuou:

- É o Tenente McGreavy.

O coração de Judd se contraiu.

- Está ansioso por falar-lhe e já se pôs a caminho daqui. Ele queria ter certeza de que você

estaria acordado quando chegasse.

Para prendê-lo… Com Angeli em casa doente, McGreavy estava livre para fabricar todas as

provas que pudessem incriminar Judd. E assim que McGreavy o agarrasse, não haveria mais qualquer esperança. Ele tinha que fugir do hospital antes que McGreavy chegasse.

- Poderia pedir à enfermeira que chamasse o barbeiro, Seymour? Eu gostaria de fazer a barba.

Sua voz deve ter soado de forma estranha, pois o Dr. Harris fitou-o com uma expressão

esquisita. Ou será que McGreavy dissera ao Dr. Harris alguma coisa a respeito dele?

- Mas é claro, Judd!

E o Dr. Harris retirou-se.

No momento em que a porta se fechou, Judd levantou-se. As duas noites de sono haviam

produzido nele um verdadeiro milagre. As pernas ainda estavam um pouco trêmulas, mas isso logo passaria. Precisava agir rapidamente. Levou apenas três minutos para se vestir.

Entreabriu a porta, certificou-se de que não havia ninguém no corredor para detê-lo, depois

saiu e encaminhou-se para a escada de serviço. Ao começar a descer, Judd ouviu a porta do elevador se abrir. Olhou para trás e viu McGreavy encaminhando-se para o quarto que ele acabara de deixar.

Um guarda uniformizado e dois detetives seguiam o Tenente. Judd continuou a descer rapidamente e saiu do hospital pela entrada das ambulâncias. Um quarteirão depois, fez sinal para um táxi.

McGreavy entrou no quarto do hospital e viu a cama vazia e o armário desocupado.

- Ele fugiu. Mas talvez ainda possam apanhá-lo.

Pegou o telefone. A telefonista do hospital ligou-o com a Chefatura de Polícia.

- Aqui é McGreavy - disse ele rapidamente. - Quero que expeça um boletim geral urgente…

Dr. Stevens, Judd, sexo masculino, caucasiano, idade…

O táxi parou diante do edifício onde Judd tinha seu consultório. A partir daquele momento,

não havia segurança para ele em parte alguma. Não podia voltar para seu apartamento. Teria que se hospedar em algum hotel. Voltar ao consultório era muito arriscado, mas ele precisava fazê-lo de qualquer maneira.

Tinha que pegar o número de um telefone.

Pagou ao motorista e entrou no saguão do edifício. Todos os músculos do seu corpo estavam

doloridos. Avançou rapidamente. Sabia que tinha muito pouco tempo. Era pouco provável que estivessem esperando que ele voltasse ao consultório, mas não podia correr riscos desnecessários. Agora era uma questão de saber quem o pegaria primeiro: a polícia ou os seus assassinos.

Judd abriu a porta do consultório e entrou, trancando-a imediatamente. A sua sala parecia

agora estranha e hostil. Judd sabia que não mais poderia continuar tratando os seus pacientes ali.

Estaria sujeitando-os a um perigo muito grande. Judd sentiu-se cheio de raiva pelo que Don Vinton estava fazendo com a sua vida. Poderia ver a cena que provavelmente ocorrera quando os dois irmãos haviam voltado e informado o fracasso de mais uma tentativa de matá-lo. Se ele bem compreendera o caráter de Don Vinton, o homem tivera um acesso de raiva. A próxima tentativa ocorreria a qualquer momento.

Judd atravessou a sala para pegar o telefone de Anne, pois lembrara-se de duas coisas

enquanto estivera no hospital.

Algumas sessões de Anne tinham sido imediatamente anteriores às de John Hanson.

E Anne e Carol gostavam de conversar. Inocentemente, Carol poderia ter transmitido alguma

informação fatal a Anne. Se isso ocorrera, ela talvez corresse perigo agora.

Ele tirou seu caderninho de endereços de uma gaveta fechada à chave, encontrou o telefone

de Anne e discou. A campainha tocou três vezes e uma voz neutra disse:

- Aqui é uma telefonista de auxílio. Qual foi o número que discou, por gentileza?

Judd disse o número do telefone de Anne. Momentos depois a telefonista voltou a falar:

- Lamento, mas está discando para número errado. Por gentileza, consulte o seu catálogo