telefônico ou ligue para as informações.
- Obrigado.
Judd desligou. Ficou sentado, pensando, recordando-se de que seu serviço de recados
telefônicos o informara, poucos dias atrás, de que todos os seus pacientes haviam sido localizados, à exceção de Anne. Ele procurou no catálogo, mas nem o nome do marido de Anne nem o dela constavam na lista. Subitamente Judd sentiu que era muito importante falar com Anne. Copiou o seu endereço: Woodside Avenue, 617, Bayonne, Nova Jersey.
Quinze minutos depois ele estava num balcão da Avis, alugando um carro. Havia um cartaz
por trás do balcão que dizia: "Somos a segunda por isso nos esforçamos mais". "Estamos no mesmo barco", pensou Judd.
Tudo acertado, ele saiu da garagem com o carro alguns minutos mais tarde. Deu uma volta
pelo quarteirão, certificando-se de que não estava sendo seguido, e então seguiu para a Ponte George Washington, a caminho de Nova Jersey.
Ao chegar a Bayonne, ele parou num posto de gasolina para pedir informações.
- Vire à esquerda na próxima esquina. É a terceira rua depois.
- Obrigado.
Judd prosseguiu. Só de pensar em ver Anne novamente seu coração disparou. O que poderia
dizer a ela sem alarmá-la? Será que o marido estaria em casa?
Judd entrou em Woodside Avenue. Verificou a numeração das casas. Ainda estava no
quarteirão da centena 900. As casas de ambos os lados eram pequenas, antigas, assoladas pelo tempo.
Ele entrou no quarteirão da centena 700. As casas pareciam tornar-se progressivamente ainda
menores e mais velhas.
Anne vivia numa linda propriedade, toda arborizada. Praticamente não havia árvores por ali.
Ao chegar ao endereço que Anne lhe dera, Judd já estava mais ou menos preparado para o que viu.
O número 617 de Woodside Avenue era um terreno baldio, coberto de mato.
Capítulo 19
Judd, parou o carro do outro lado do terreno baldio, procurando compreender a situação. O
número errado do telefone era um engano corriqueiro. Ou o endereço poderia ter sido um engano.
Mas não ambos. Anne lhe mentira deliberadamente. E se ela mentira em relação a quem era e onde morava, sobre o que mais poderia ter-lhe mentido. Judd forçou-se a analisar objetivamente tudo o que sabia a respeito dela. Quase nada. Ela entrara em seu consultório sem ser encaminhada por ninguém e insistira em tornar-se sua paciente. Evitava cuidadosamente revelar-lhe qual o seu problema, ao longo das quatro semanas em que o visitara. Depois, subitamente, anunciara que o problema estava resolvido e que iria viajar. Depois de cada sessão ela lhe pagava em dinheiro, de forma que não havia maneira de localizá-la agora. Mas que motivo ela poderia ter para se apresentar como sua paciente e depois desaparecer? Só havia uma resposta. E quando Judd chegou à conclusão
inevitável, sentiu-se fisicamente arrasado.
Se alguém queria preparar uma armadilha para assassiná-lo, precisando, para isso, conhecer
a sua rotina no consultório, como era a sala por dentro, que melhor maneira de descobri-lo senão fazendo-se passar por paciente? Fora o que Anne fizera. Don Vinton a mandara. Ela descobrira o que precisava e depois desaparecera, sem deixar vestígios.
Tudo não passara de fingimento, e ele se deixara lograr. Como Anne deveria ter rido ao
informar tudo a Don Vinton sobre o idiota apaixonado que se julgava um analista que conhecia a fundo as pessoas! Ele se apaixonara insensatamente por uma moça cujo único objetivo era armar o cenário para o seu assassinato. Era assim que ele julgava conhecer o caráter das pessoas? Daria um relatório dos mais divertidos para a Associação Psiquiátrica Americana.
Mas… e se isso não fosse verdade? E se Anne fora procurá-lo com um problema genuíno,
usando um nome fictício por recear prejudicar uma terceira pessoa? O problema terminara resolvendo-se por si mesmo, e ela concluíra que não precisava mais da ajuda de um analista. Mas Judd sabia que essa explicação era fácil demais. Havia um elemento ignorado a respeito de Anne que precisava ser desvendado. Judd teve o pressentimento de que a explicação para tudo o que estava acontecendo talvez estivesse nesse elemento desconhecido. Era possível que ela estivesse sendo coagida. Mas Judd sabia que estava sendo tolo. Tentava apenas imaginar Anne como uma donzela em desgraça e a ele próprio como um cavaleiro numa armadura refulgente. Será que ela preparara a armadilha para assassiná-lo? Ele tinha que descobrir, de qualquer maneira. Uma mulher idosa, num casaco puído, saiu de uma casa e ficou olhando para ele. Judd deu a volta e seguiu novamente para a Ponte George Washington.
Havia uma fila de carros atrás. Um deles poderia estar a segui-lo. Mas por que haveriam de
segui-lo? Seus amigos sabiam onde encontrá-lo. Não podia, contudo ficar sentado à espera
passivamente que o atacassem. Ele próprio tinha que atacar, apanhá-los desprevenidos, enfurecer Don Vinton até que este cometesse um erro pelo qual pudesse ser derrotado. E Judd tinha que fazer tudo isso antes que McGreavy o apanhasse. e o metesse na cadeia.
Judd seguiu para Manhattam. A única chave para o quebra-cabeças era Anne que
desaparecera sem deixar o menor vestígio. E ela sairia do país dentro de dois dias.
Judd vislumbrou então, repentinamente, uma possibilidade de encontrá-la.
Era véspera de Natal e o escritório da Pan-Am estava apinhado de viajantes e de pessoas que
esperavam uma desistência, para poderem viajar.
Judd conseguiu abrir caminho até o balcão, através das filas de espera, pedindo para falar ao
gerente. A jovem uniformizada dirigiu-lhe um sorriso profissional e pediu que esperasse.
Judd ficou parado ali, ouvindo babel de vozes.
- Quero ir para a Índia.
- Será que está muito frio em Paris?
- Quero um carro à minha espera em Lisboa.
Ele sentiu um desejo desesperado de entrar num avião e fugir. Só então compreendeu quão
exausto estava, física e emocionalmente. Don Vinton parecia ter um exército à sua disposição, mas Judd estava sozinho. Que chances poderia ter?
- Em que posso ajudá-lo?
Judd virou-se. Um homem alto e de aspecto cadavérico estava atrás do balcão.
- Meu nome é Friendly.
Ele ficou esperando que Judd apreciasse a piada. Judd sorriu para agradar-lhe e acrescentou:
- Charles Friendly. Em que posso servi-lo?
- Eu sou o Dr. Stevens. Estou tentando localizar uma paciente minha. Ela está de viagem
marcada para a Europa amanhã.
- O nome, por gentileza?
- Anne Blake.
Judd hesitou, mas acrescentou:
- Possivelmente a reserva foi feita em nome do Sr. e Sra. Anthony Blake.
- Para que cidade ela está seguindo?
- Eu… eu não tenho muita certeza.
- As reservas foram feitas para um dos nossos vôos matutinos ou para um vôo vespertino?
- Nem mesmo tenho certeza se é a sua companhia.
A cordialidade desapareceu dos olhos do Sr. Friendly.
- Então, infelizmente, não poderei ajudá-lo.
Judd foi dominado por um sentimento súbito de pânico.
- Mas é realmente muito importante! Tenho que localizá-la antes da partida!
- Doutor, a Pan-American tem um ou mais vôos diários para Amsterdã, Barcelona, Berlim,
Bruxelas, Copenhague, Dublim, Dussedorf, Frankfurt, Hamburgo, Lisboa, Londres, Munich, Paris, Roma, Shannon, Stuttgart e Viena. O mesmo acontece com as outras companhias aéreas
internacionais. Terá que procurar uma a uma. E duvido muito de que possam ajudá-lo, a menos que informe o destino e a hora da partida.
A expressão no rosto do Sr. Friendly era agora de impaciência.
- Se me dá licença…
Ele virou-se, afastando-se
- Espere um instante!
Como ele poderia explicar que aquela era a sua última chance de manter-se vivo, de descobrir
quem estava tentando matá-lo? Friendly fitava-o agora com uma hostilidade indisfarçável.