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- Pois não?

Judd esforçou-se por sorrir, odiando-se por ter que fazê-lo.

- Não possuem uma espécie de sistema central de computação no qual podem descobrir os

nomes dos passageiros pelo…?

- Só se souber o número do vôo - disse o Sr. Friendly, virando-lhe as costas e afastando-se

de vez.

Judd ficou parado no balcão, sentindo-se arrasado. Estava derrotado. Não havia mais nada

que pudesse fazer.

Nesse momento entrou um grupo de sacerdotes italianos, de batinas negras que esvoaçavam,

com imensos chapéus negros. Pareciam figuras vindas diretamente da Idade Média. Carregavam malas baratas de papelão, caixas e cestos de frutas. Falaram alto, em italiano. Zombavam visivelmente do membro mais jovem do grupo, um rapaz que não parecia ter mais do que dezoito ou dezenove anos. "Os padres provavelmente estavam regressando a Roma depois de umas férias", pensou Judd, ao ouvi-lo pronunciarem a palavra Roma… "onde Anne estaria"… Anne novamente.

Os padres aproximaram-se do balcão.

- E molto bene di ritornare a casa.

- Si, d'acordo.

- Signore, per piacce, guardatemi.

- Tutto va bene?

- Si, ma…

- Dio mio, dave sono i miei biglietti?

- Cretino, hai perduto i biglietti.

- Ah, eccoli.

Os padres entregaram as passagens ao mais jovem, que se aproximou timidamente da moça

no balcão. Judd olhou para a porta de saída. Um homem gordo, de sobretudo cinza, estava parado ali.

O jovem padre estava falando com a moça:

- Diece. Dieci.

A jovem fitava-o impassível, sem compreender nada. O padre reuniu todos os seus

conhecimentos de inglês e por fim conseguiu fazer-se entender.

Ele apresentou as passagens à jovem. Ela sorriu e começou imediatamente a verificá-las. Os

padres irromperam em gritos, deliciados deram aplausos à capacidade lingüística do companheiro, batendo-lhe repetidamente nas costas.

"De nada adiantava continuar ali", concluiu Judd. Mais cedo ou mais tarde ele teria que

enfrentar o que quer que houvesse lá fora à sua espera. Judd virou-se lentamente e começou a

afastar-se do grupo de padres.

- Guardote che ha fatto il Don Vinton.

Judd estacou. O sangue afluiu-lhe ao rosto. Virou-se para o padre atarracado que falava e

segurou-lhe o braço.

- Com licença - disse ele, numa voz rouca e trêmula - mas falou em "Don Vinton"?

O padre olhou-o atônito, depois bateu no braço de Judd e fez noção de afastar-se. Judd

apertou-lhe o braço com mais força.

- Espere um instante!

O padre ficou visivelmente nervoso. Judd fez um grande esforço para falar com toda a calma:

- Don Vinton. Quem é ele? Mostre-me.

Todos os padres olharam para Judd. O padre atarracado olhou para os companheiros e disse:

- É um americano notto.

Houve um murmúrio nervoso de vozes italianas. Pelo canto dos olhos, Judd viu que Friendly

o observava do balcão. Friendly logo deu a volta ao balcão e encaminhou-se em sua direção. Judd procurou controlar o pânico crescente que o invadia. Largou o braço do padre, inclinou-se na direção dele e disse bem devagar e nitidamente:

- Don Vinton.

O padre olhou atentamente para Judd e logo seu rosto se iluminou com uma expressão

divertida.

- Don Vinton!

O gerente aproximou-se rapidamente, com uma expressão hostil. Judd sacudiu a cabeça para

o padre, encorajando-o a continuar. O padre apontou para o mais jovem do grupo.

- Don Vinton… o "grande homem", o "chefão".

E subitamente o quebra-cabeças foi decifrado.

Capítulo 20

- Calma, calma - disse Angeli, a voz muito rouca. - Assim não posso entender uma só palavra

do que está dizendo.

- Desculpe - disse Judd, respirando fundo e acrescentando: - Eu descobri a resposta!

Ele sentia-se tão aliviado por ouvir a voz de Angeli que quase gaguejava.

- Já sei quem está querendo matar-me. Sei quem é Don Vinton.

A voz de Angeli era céptica:

- Não conseguimos descobrir nenhum Don Vinton.

- Sabe por quê? Porque não é o nome de um homem e sim um título!

- Quer falar um pouco mais devagar?

A voz de Judd tremia de excitação.

- Don Vinton não é nome de pessoa. É uma expressão italiana que significa "o chefão". Foi

o que Moody quis dizer-me, que o "chefão" é que está atrás de mim.

- Não estou entendendo nada, Doutor.

- Não significa coisa alguma, em inglês, mas será que não lhe sugere nada se pensar em

italiano? Não seria uma organização de assassinos dirigida pelo Chefão?

Houve um longo silêncio do outro lado do fio.

- A Cosa Nostra?

- E quem mais poderia reunir dessa forma um grupo de assassinos e tantas armas? ácido,

bombas, revólveres! Lembra-se de que eu lhe disse que o nosso homem devia ser um europeu meridional? Pois ele é italiano.

- Isso não faz o menor sentido, Doutor. Por que a Cosa Nostra haveria de querer matá-lo?

- Não tenho a menor idéia. Mas sei que estou certo. E isso se ajusta a algo mais que Moody

me disse: que havia um grupo de homens querendo me matar.

- É a teoria mais louca que já ouvi, Doutor. - Ele fez uma pausa longa e depois acrescentou:

- Mas suponho que seja possível.

Judd sentiu-se aliviado. Se Angeli não quisesse dar-lhe atenção, ele não teria mais ninguém

a quem recorrer.

- Já falou a respeito disso com alguém, Doutor?

- Não.

- Pois não o faça - disse Angeli, com veemência inesperada. - Se está certo, sua vida depende

disso. Não chegue perto do seu apartamento nem do consultório.

- Não chegarei. Judd lembrou-se de uma coisa e perguntou:

- Já sabia que McGreavy tem um mandato de prisão contra mim?

- Já.

Angeli hesitou antes de acrescentar:

- Se McGreavy o apanhar, não chegará vivo à delegacia.

"Meu Deus"! Então ele não se enganara a respeito de McGreavy. Mas não podia acreditar

que McGreavy fosse o cérebro por trás de tudo. Havia alguém a dirigi-lo… Don Vinton. O Chefão.

- Está-me ouvindo, Doutor?

A boca de Judd estava ressequida.

- Estou.

Um homem com sobretudo cinza estava parado do lado de fora da cabine telefônica, olhando

para Judd. Seria o mesmo homem que ele vira antes?

- Angeli…

- Pois não?

- Não sei quem são os outros. Não sei como parecem. Como posso manter-me vivo até que

eles sejam apanhados?

O homem de sobretudo cinza continuava a olhar fixamente para Judd. A voz de Angeli disse

ao telefone:

- Vamos diretamente para o FBI. Tenho um amigo que tem contatos lá. Ele providenciará

para que o senhor receba proteção até que tudo esteja resolvido. Certo?

- Certo - respondeu Judd, agradecido.

Os joelhos de Judd pareciam ser de gelatina.

- Onde está agora, Doutor?

- Numa cabine telefônica no saguão da Pan-Am.

- Não saia daí. Procure ficar sempre cercado por uma multidão. Já estou indo encontrá-lo.

Houve um clique no outro lado da linha quando Angeli desligou.

Ele desligou o telefone na delegacia, sentindo uma náusea profunda invadi-lo. Ao longo dos

anos ele se acostumara a lidar com assassinos, tarados sexuais, pervertidos de toda espécie.

Desenvolvera uma carapaça protetora, que lhe permitira continuar a acreditar na dignidade e

bondade básica do homem.

Mas um policial corrupto era algo diferente.

Um policial corrupto era um câncer que afetava toda a polícia, uma ameaça a tudo aquilo

por que os policiais decentes lutavam e morriam.

Os ruídos de passos e murmúrio de vozes enchia a sala, mas ele não ouvia coisa alguma. Dois