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guardas uniformizados passaram por ali, levando um gigante algemado. Um dos guardas tinha um olhar preto e o outro segurava um lenço no nariz a sangrar. A manga do seu uniforme fora rasgada pela metade. O próprio guarda é que teria de pagar a nova blusa. Aqueles homens estavam dispostos a arriscar as suas vidas todos os dias e todas as noites do ano inteiro. Mas isso não dava manchete.

Um polícia corrupto dava manchete. Um polícia corrupto era uma nódoa para toda a corporação. E acontece que o policial corrupto era o seu companheiro de trabalho.

Cansado, ele se levantou e percorreu o velho corredor até o gabinete do Capitão. Bateu a

porta uma vez e entrou.

Sentado à mesa escalavrada, marcada por pontas de cigarro de anos incontáveis, achava-se

o Capitão Bertelli. Dois agentes do FBI estavam na sala, usando ternos comuns. O Capitão Bertelli levantou os olhos quando a porta se abriu.

- E então?

O detetive assentiu.

- Está comprovado. O encarregado da guarda das provas disse que ele pegou a chave de

Carol Roberts na tarde de quarta-feira e devolveu-a a noite. Foi por isso que o teste de parafina deu negativo. Ele entrou no consultório do Dr. Stevens com uma chave original. O encarregado não pensou duas vezes no assunto, porque sabia que ele estava incumbido do caso.

- Sabe onde ele está agora? - perguntou o mais jovem dos agentes do FBI.

- Não. Tínhamos um homem a segui-lo, mas ele conseguiu despistá-lo. Pode estar em

qualquer parte.

- Certamente está procurando o Dr. Stevens - disse o segundo agente do FBI.

O Capitão Bertelli virou-se para os agentes do FBI.

- Quais são as chances do Dr. Stevens permanecer vivo?

O mais velho sacudiu a cabeça.

- Se o encontrarem antes de nós, absolutamente nenhuma.

O Capitão Bertelli assentiu.

- Temos que encontrá-lo primeiro.

Ele fez uma pausa. Quando voltou a falar, sua voz tinha um tom furioso:

- E quero Angeli também. Não me interessa a maneira como o peguem.

Ele virou-se para o detetive e acrescentou:

- Mas quero que o pegue de qualquer maneira, McGreavy.

O rádio de polícia começou a transmitir uma mensagem:

- Código dez… Código dez… Atenção todos os carros…

Angeli desligou o rádio.

- Alguém sabe que eu fui apanhá-lo?

- Ninguém.

- Falou sobre a Cosa Nostra com mais alguém?

- Só com você.

Angeli assentiu, satisfeito.

Haviam atravessado a Ponte George Washington e estavam seguindo para Nova Jersey. Só que

agora estava tudo diferente para Judd. Antes ele estivera ali cheio de apreensões. Agora, com Angeli ao seu lado, não mais se sentia como um animal caçado. Era o caçador. E o pensamento proporcionou-lhe uma imensa satisfação.

Por sugestão de Angeli, Judd deixara o seu carro alugado em Manhattam e seguia no carro

da polícia sem identificação do detetive. Angeli seguira para o norte, passando por Orangeburg.

Estavam-se aproximando agora de Old Tapan.

- Foi muito esperto percebendo o que estava acontecendo, Doutor.

Judd sacudiu a cabeça.

- Eu já deveria ter imaginado assim que soube que havia mais de um homem envolvido. Não

podia deixar de ser uma organização, usando assassinos profissionais. Creio que Moody desconfiou da verdade quando viu a bomba em meu carro. Eles tinham acesso a todos os tipos de armas.

"E Anne". Ela era parte da trama, preparando tudo para que pudessem assassiná-lo. Mesmo

assim, ele não conseguia odiá-la. Não importava o que ela fizesse, Judd jamais poderia odiá-la.

Angeli saiu da estrada principal. Habilmente dirigiu o carro por uma estrada secundária, que

levava a uma área bastante arborizada.

- Seu amigo sabe que estamos indo para a casa dele? - indagou Judd.

- Telefonei para ele. Está pronto para recebê-lo.

Abruptamente surgiu uma estrada lateral e Angeli entrou por ela. Percorreu quase dois

quilômetros e parou diante de um portão eletrificando. Judd notou uma pequena câmara de televisão instalada no alto do portão. Houve um clique e o portão se abriu, fechando-se assim que passaram.

Começaram a subir por um caminho longo e sinuoso. Através das árvores à sua frente, Judd viu o telhado de uma enorme casa. Lá no alto, rebrilhando ao sol, havia um galo de bronze - ao qual estava faltando a cauda.

Capítulo 21

No centro de comunicações à prova de som e abundantemente iluminada da Chefatura de

Polícia trabalhavam doze polícias, em manga de camisa, e seis telefonistas de cada lado. No meio da mesa havia um tubo pneumático. Os operadores tomavam notas das mensagens telefônicas, punham a anotação no tubo pneumático e despachavam-na lá para cima, onde o coordenador a transmitia imediatamente para uma delegacia ou uma radiopatrulha. Os telefonemas nunca paravam. Fluíam para ali dia e noite, como um rio de tragédia a tragar os cidadãos da gigantesca metrópole. Homens e mulheres que estavam aterrorizados… solitários… desesperados… embriagados… feridos… homicidas… Era uma cena de Hogarth, pintada com palavras vividas e angustiadas ao invés de tintas.

Naquela tarde de segunda-feira havia uma sensação maior de tragédia no ar. Cada telefonista

se concentrava em seu serviço, mas não podia deixar de perceber o fluxo constante de detetives e agentes do FBI, entrando e saindo da sala, recebendo e dando ordens, trabalhando eficientemente na vasta rede eletrônica à procura do Dr. Judd Stevens e do detetive Frank Angeli. O ambiente estava estranhamente acelerado, como um espetáculo encenado por um controlador de marionetes sombrio e nervoso.

O Capitão Bertelli estava falando com Allen Sullivan, membro da Comissão Municipal Contra o Crime, quando McGreavy entrou. McGreavy já conhecia Sullivan. Era um homem duro e honesto.

Bertelli interrompeu a conversa e virou-se para o detetive, com uma expressão interrogativa.

- As coisas estão andando - informou McGreavy. - Descobrimos uma testemunha, um vigia

noturno que trabalha no prédio em frente àquele em que fica o consultório do Dr. Stevens. Na noite de quarta-feira, quando arrombaram o consultório do Dr. Stevens, esse vigia viu dois homens entrarem no prédio em frente. A porta da rua estava trancada, mas eles abriram-na com uma chave.

O vigia pensou que trabalhavam ali.

- Obteve alguma identificação?

- Ele identificou uma fotografia de Angeli.

- Na noite de quarta-feira Angeli fora dado como estando em casa, de cama, com um forte

resfriado.

- Exatamente.

- O que me diz do outro homem?

- O vigia não conseguiu vê-lo direito.

Uma telefonista enfiou um plug por baixo de um botão vermelho a brilhar no painel, escutou

por um momento e virou-se para o Capitão Bertelli:

- É para o senhor Capitão. Patrulha Rodoviária de Nova Jersey.

Bertelli atendeu rapidamente numa extensão.

- Capitão Bertelli falando.

Ele escutou por um momento.

- Tem certeza?… ótimo!…, Pode mandar todas as unidades que tiver para lá., Bloqueie as

estradas. Quero que toda a região seja coberta. Fique em contato comigo… Obrigado.

Ele virou-se para os dois homens:

- Parece que temos uma pista. Um patrulheiro de Nova Jersey viu o carro de Angeli numa

estrada secundária perto de Orangeburg. A Patrulha Rodoviária vai começar a revistar toda a área.

- E o Dr. Stevens?

- Ele estava no carro com Angeli. Não se preocupe que iremos encontrá-los.

McGreavy tirou dois charutos do bolso. Ofereceu um a Sullivan, que recusou, e entregou o

outro a Bertelli. Pôs o que Sullivam recusara entre os dentes e acendeu-o, comentando:

- Temos uma coisa a nosso favor. O Dr. Stevens parece ter um encantamento a protegê-lo.

Falei há pouco com um amigo dele, o Dr. Peter Hadley. Na semana passada, ele foi apanhar Stevens em seu consultório e encontrou Angeli lá, com um revólver na mão. Angeli contou uma história fantástica sobre um misterioso assaltante. Meu palpite é que a chegada do Dr. Hadley salvou a vida de Stevens.