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- Como foi que começou a suspeitar de Angeli? - indagou Sullivan.

- Tudo começou com certas informações de que ele andava achacando alguns comerciantes.

Fui verificar, mas as vítimas não quiseram falar. Estavam apavoradas e eu não consegui entender o motivo. Não disse nada a Angeli, mas comecei a vigiá-lo de perto. Quando Hanson foi assassinado, Angeli veio perguntar se poderia trabalhar no caso comigo. Disse que sempre me admirava e que gostaria de ser meu companheiro no caso. Eu sabia que ele devia ter um motivo para insistir, por isso resolvi dar-lhe corda, com a devida permissão do Capitão Bertelli. Não é de admirar que ele quisesse trabalhar no caso, pois estava afundado nele até o pescoço! Na ocasião eu não sabia ao certo se o Dr. Stevens estava ou não envolvido nos assassinatos de Hanson e Carol Roberts, mas decidi usá-lo para agarrar Angeli. Arquitetei uma teoria para incriminar Stevens e disse a Angeli que ia prendê-lo pelos assassinatos. Imaginei que Angeli iria relaxar e despreocupar-se, se soubesse que estava livre de

suspeitas.

- E deu certo?

- Não. Angeli surpreendeu-me, fazendo todo o possível para impedir que Stevens fosse preso.

Sullivan ficou perplexo.

- Mas por quê?

- Porque ele estava querendo liquidar Stevens e não poderia fazê-lo se fosse efetuada a

prisão.

- Quando McGreavy começou a pressionar - interveio o Capitão Bertelli - Angeli veio

procurar-me, insinuando que McGreavy estava tentando incriminar o Dr. Stevens de qualquer

maneira.

- Tivemos certeza então de que estávamos no caminho certo - retornou McGreavy. - Stevens

contratou um detetive particular chamado Norman Moody. Investiguei Moody e descobri que ele já se envolvera antes com Angeli, que prendera um cliente dele por porte de narcóticos. Moody alegou que seu cliente tinha sido incriminado falsamente. Sabendo o que eu sei agora, creio que Moody estava dizendo a verdade.

- Então Moody teve um golpe de sorte e descobriu a resposta logo de saída.

- Não foi tanto assim por sorte. Moody era um detetive particular dos mais inteligentes. Ao

encontrar a bomba no carro do Dr. Stevens, entregou-a ao FBI e pediu que eles investigassem.

- Ele teve receio de entregar a bomba à polícia, achando que Angeli poderia pegá-la e dar

sumiço nela?

- É a impressão que eu tenho. Mas alguém deu com a língua nos dentes e Angeli soube de

tudo. Compreendeu imediatamente que Moody suspeitava dele. A primeira pista que tivemos foi quando Moody falou no nome "Don Vinton".

- A expressão da Cosa Nostra para "O Chefão"?

- Exatamente. Por algum motivo, alguém da Cosa Nostra está querendo liquidar o Dr.

Stevens.

- Como foi que ligou Angeli à Cosa Nostra?

- Procurei novamente os comerciantes a quem Angeli andara arrancando dinheiro. Quando

mencionei a Cosa Nostra, eles entraram em pânico. Angeli trabalhava para uma das famílias da Cosa Nostra, mas era muito ganancioso e começou a fazer algumas extorsões por conta própria.

- Mas por que a Cosa Nostra haveria de querer matar o Dr. Stevens? - indagou Sullivan.

- Não sei. Estamos investigando diversas possibilidades.

Ele suspirou.

- No momento temos dois problemas terríveis. Angeli escapou dos homens que mandáramos

segui-lo. E o Dr. Stevens fugiu do hospital antes que eu pudesse alertá-lo a respeito de Angeli e dar-lhe a proteção necessária.

Acendeu-se outro botão vermelho no painel. O telefonista ouviu por um momento e depois

chamou:

- Capitão Bertelli.

Bertelli atendeu na extensão.

- Capitão Bertelli falando.

Ficou escutando, sem dizer coisa alguma, depois repôs o telefone no gancho e virou-se para

McGreavy:

- Eles os perderam de vista!

Capítulo 22

Anthony DeMarco tinha mana.

Judd pôde sentir a força intensa da personalidade dele do outro lado da sala, emanando em

ondas quase tangíveis. Anne não exagerara ao dizer que o marido era bonito.

DeMarco possuía um rosto romano clássico, com um perfil impecável, olhos negros como

carvão, algumas mechas grisalhas nos cabelos pretos. Tinha quarenta e poucos anos, era alto e

atlético, movia-se com uma agilidade animal algo irrequieta. A voz era grave e magnética:

- Aceita um drinque, Doutor?

Judd sacudiu a cabeça, fascinado pelo homem que estava à sua frente. Qualquer um seria

capaz de jurar que DeMarco era um homem encantador, inteiramente normal, um anfitrião perfeito a receber um hóspede distinto.

Havia cinco homens na biblioteca revestida de painéis de madeira: Judd, DeMarco, o detetive

Angeli e os dois homens que haviam tentado matar Judd em seu apartamento, Rocky e Nick Vaccro.

Os outros quatro formavam um círculo ao redor de Judd. Ele fitava os rostos de seus inimigos e sentia nisso uma estranha satisfação. Finalmente sabia contra quem estava lutando. Se é que "lutando" era a palavra certa. Ele caíra na armadilha de Angeli. Pior que isso. Ele próprio telefonara para Angeli e convidara-o a ir agarrá-lo! Angeli, o Judas que trouxera até ali para ser liquidado!

DeMarco examinou com profundo interesse os olhos negros especulativos.

- Já ouvi falar muito a seu respeito - disse ele finalmente.

Judd ficou calado.

- Perdoe-me por tê-lo trazido até aqui dessa maneira, mas era necessário para que eu pudesse

fazer-lhe algumas perguntas.

Ele sorriu, numa expressão de desculpa, irradiando simpatia. Judd sabia o que ia acontecer.

- O que andou conversando com a minha esposa, Dr. Stevens?

Judd imprimiu um tom de surpresa à sua voz:

- Sua esposa? Não conheço sua esposa.

DeMarco sacudiu a cabeça, num gesto de repreensão.

- Ela tem ido ao seu consultório duas vezes por semana, nas últimas três semanas.

Judd franziu o rosto, pensativo.

- Não tenho nenhuma paciente chamada DeMarco…

DeMarco assentiu, com uma expressão compreensiva.

- Talvez ela tenha usado outro nome. Possivelmente o seu nome de solteira, Blake, Anne

Blake.

Judd cuidadosamente manifestou sua surpresa:

- Anne Blake?

Os dois irmãos Vaccaro chegaram-se mais perto dele.

- Não! - disse DeMarco rispidamente.

Ele virou-se para Judd. A atitude afável desaparecera por completo.

- Doutor, se quiser brincar comigo, vou-lhe fazer coisas que jamais poderia acreditar.

Judd fitou-o atentamente aqueles olhos pretos e acreditou no mesmo instante. Sabia agora

que sua vida estava suspensa por um fio. Imprimiu um tom de indignação.

- Pode fazer o que bem lhe aprouver. Mas o fato é que até este momento eu não tinha a

menor idéia de que Anne Blake era sua esposa.

- Talvez seja verdade - disse Angeli. - Ele…

DeMarco ignorou Angeli inteiramente.

- O que conversou com a minha esposa durante as últimas três semanas?

Eles haviam chegado ao momento da verdade. No momento em que Judd vira o galo de

bronze no telhado, os últimos pedaços do quebra-cabeças se haviam ajustado em seus lugares. Anne não participara da conspiração para assassiná-lo. Assim como ele, Anne também era uma vítima.

Casara-se com Anthony DeMarco, próspero proprietário de uma empresa de construções, sem ter a menor idéia de quem ele realmente era. Depois devia ter acontecido alguma coisa que a levara a desconfiar de que o marido não era exatamente o que parecia, que estava envolvido em algo sombrio e terrível. Sem ninguém com quem falar, ela procurara a ajuda de um analista, um estranho, a quem pudesse fazer confidências. Mas a lealdade básica que sentia para com o marido impedira-a de discutir as suas apreensões no consultório de Judd.