soprando fumaça para o céu. Chegaram a uma estradinha lateral que levava até a fábrica. Angeli entrou nesse caminho e avançou até um muro alto. O portão estava fechado. Angeli tocou a buzina e um homem de capa e guarda-chuva apareceu atrás do portão. Assentiu ao ver DeMarco, destrancou o portão e abriu-o. Angeli entrou e o portão foi prontamente fechado. Tinham chegado.
O Tenente McGreavy estava na sala no 19º Distrito, examinando uma lista de nomes com três
detetives, o Capitão Bertelli e os dois agentes do FBI.
- Esta é a lista das famílias da Cosa Nostra aqui no leste - disse ele. - Todos os chefes e
subchefes estão relacionados aqui. O nosso problema é que não sabemos a que família Angeli está ligado.
- Quanto tempo vai demorar para se investigarem todos? - perguntou o Capitão Bertelli.
Um dos homens do FBI falou:
- Há mais de sessenta nomes aqui. Demoraria pelo menos vinte e quatro horas, mas…
Ele parou de falar e McGreavy concluiu a frase:
- Mas o Dr. Stevens não tem a menor condição de viver por mais de vinte e quatro horas.
Um jovem guarda uniformizado entrou correndo pela porta aberta. Hesitou, ao ver o grupo
ali reunido.
- O que é? - indagou McGreavy.
- Nova Jersey não sabe se é importante, Tenente, mas pediu que informassem qualquer coisa
fora do normal. Uma telefonista recebeu um chamado de uma mulher adulta, pedindo que a ligasse com a polícia. Ela disse que era uma emergência e logo depois a linha ficou muda. A telefonista ficou esperando, mas a mulher não ligou novamente.
- De onde foi dado o telefonema?
- De uma cidadezinha chamada Old Tappan.
- A telefonista descobriu o número do telefone?
- Não. A pessoa desligou muito depressa.
- Isso é ótimo - murmurou McGreavy, amargurado.
- Esqueça - disse Bertelli. - Provavelmente era alguma velha informando que seu gato se
extraviara.
O telefone de McGreavy tocou, um toque longo e insistente. Ele atendeu.
- Tenente McGreavy falando.
Os outros que estavam na sala ficaram observando o rosto dele contrair-se de tensão.
- Certo. Diga-lhe para não fazerem nada até eu chegar aí. Já estou a caminho.
Ele bateu o telefone.
- A Patrulha Rodoviária acaba de avistar o carro de Angeli, seguindo para o sul, na rodovia
206, logo depois de Milstone.
- Estão seguindo o carro? - indagou um dos agentes do FBI.
- O carro da Patrulha Rodoviária estava indo na direção oposta. Ao terminar a curva, o carro
de Angeli já desaparecera. Eu conheço bem aquela região. Não há nada ali à exceção de algumas fábricas velhas.
Ele virou-se para um dos homens do FBI e perguntou:
- Pode providenciar-me uma relação dos nomes das fábricas da região e de seus proprietários?
- Certo.
O homem do FBI estendeu a mão para o telefone.
- Estou indo para lá - disse McGreavy. - Entre em contato comigo pelo rádio assim que tiver
a resposta.
Virou-se então para os outros homens e disse:
- Vamos indo!
Partiu para a porta, seguidos pelos três detetives e pelo outro agente do FBI.
Angeli passou pelo barracão do vigia e continuou em frente, na direção de um grupo de
estruturas de aspectos estranho que se seguiam para o céu. Haviam imensas chaminés de barro e gigantescas caixas dágua, os formatos arredondados elevando-se além da chuva, como monstros pré-históricos numa paisagem antiga e imutável.
O carro foi para junto de um complexo de canos e correias para transportadoras. Angeli e
Vaccaro saltaram. Vaccaro abriu a porta do lado de Judd, com um revólver na mão.
- Saia, Doutor.
Judd saltou do carro vagarosamente, seguido por DeMarco. Um tremendo barulho e um
vento forte os receberam. Ali perto, a uns dez metros de distância, passava um cano enorme, cheio de ar comprimido, que com um barulho enorme sugava tudo o que se aproximasse de sua boca sequiosa.
- Este é um dos maiores sistemas de transportes canalizados do país - gabou-se DeMarco,
falando alto para ser ouvido acima do barulho. - Gostaria de ver como funciona.
Judd fitou-o, incrédulo. DeMarco estava novamente representando o papel de anfitrião. Não,
ele não estava representando-o. Falava sério. O que era mais terrível ainda. DeMarco estava prestes a assassinar Judd. Seria uma rotina do negócio, algo de que teria de se livrar, assim como uma peça inútil de equipamento. Antes, porém, ele queria impressionar Judd.
- Vamos, Doutor. É bem interessante.
Aproximando-se do cano transportador, com Angeli na frente, DeMarco e Judd Lado a lado
, Vaccaro na retaguarda.
- Esta fábrica proporciona um lucro anual de cinco milhões de dólares. - disse DeMarco,
orgulhosamente. - E toda a operação é automática.
O ruído foi aumentando à medida que chegaram mais perto, até tornar-se insuportável. A cem
metros da entrada da câmara de vácuo havia uma grande corrente transportadora, que levava troncos gigantescos até uma máquina de aplainar, com seis metros de comprimento por dois de altura, equipada com meia dúzia de lâminas afiadas. Os troncos aplainados eram então conduzidos para uma máquina que parecia um porco-espinho, com lâminas afiadíssimas. O ar estava cheio de serragem e chuva, sendo tudo sugado pelo cano transportador.
- Não importa quão grandes os troncos sejam - disse DeMarco, sem esconder o orgulho que
sentia. - As máquinas reduzem-nos para caberem no cano transportador, que tem 36 polegadas.
DeMarco tirou do bolso um Colt 38, de cano curto, e gritou:
- Angeli!
Angeli virou-se.
- Faça uma boa viagem para a Flórida.
DeMarco apertou o gatilho e um buraco vermelho surgiu no peito de Angeli, que olhou para
ele com um meio sorriso perplexo no rosto, como se estivesse esperando a resposta a uma charada que acabara de ouvir. DeMarco apertou o gatilho novamente e Angeli caio no chão. DeMarco fez um gesto de cabeça para Rocky Vaccaro. O grandalhão levantou o corpo de Angeli e levou-o na direção do cano transportador.
DeMarco virou-se então para Judd.
- Angeli era um estúpido. Todos os tiras do país estão à procura dele. Se o encontrassem, ele
acabaria por me denunciar.
O assassinato a sangue-frio de Angeli foi chocante, mas o que se seguiu foi ainda pior. Judd
ficou observando, horrorizado, enquanto Vaccaro carregava o corpo de Angeli para a boca do
gigantesco cano transportador. A tremenda pressão sugou o corpo de Angeli. Vaccaro teve que segurar-se a uma alça do cano para não ser sugado também pelo mortal ciclone de ar. Judd teve uma última visão do corpo de Angeli, girando no sorvedouro, no meio da serragem de troncos. E logo desapareceu. Vaccaro segurou uma válvula junto à boca do cano transportador e girou-a. Uma tampa de metal se estendeu sobre a boca do cano, isolando o ciclone de ar. O súbito silêncio era ensurdecedor.
DeMarco virou-se para Judd e levantou a arma. Havia uma expressão exaltada e mística em
seu rosto. Judd compreendeu que o assassinato era quase uma experiência religiosa para ele. Era um cadinho purificador. Judd sabia que chegara o momento da sua morte. Não sentia medo por si mesmo, mas estava dominado por uma raiva intensa, revolta pelo fato de que aquele homem continuaria a viver, para assassinar Anne, para destruir outras pessoas decentes e inocentes. Ele ouviu um grunhido, um gemido de raiva e frustração, só depois se apercebeu que estava saindo dos seus lábios. Era como um animal encurralado, obcecado pelo desejo de matar o seu algoz.
DeMarco estava sorrindo, lendo os pensamentos de Judd.
- Vou dar o tiro na virilha, Doutor. Vai demorar mais um pouco a morrer, mas assim terá
tempo para pensar no que vai acontecer a Anne.
Havia uma esperança. Uma esperança muito tênue.
- Alguém precisa mesmo preocupar-se com ela - disse Judd. - A pobre coitada nunca teve um