homem em toda a sua vida.
DeMarco assumira uma expressão aturdida. Judd estava gritando agora, para que DeMarco
não deixasse de ouvi-lo.
- Sabe o que é seu membro? É esse revólver que está em sua mão. Sem uma faca ou revólver,
você não passa de um palhaço.
O rosto de DeMarco foi-se lentamente enchendo de raiva.
- Você não tem colhões, DeMarco. Sem um revólver, você não passa de um palhaço.
Os olhos de DeMarco estavam ficando vermelhos, no aviso da morte. Vaccaro deu um passo
para a frente. DeMarco fez-lhe um sinal para que recuasse.
- Vou matá-lo com minhas próprias mãos, sem nenhuma arma - disse DeMarco, jogando o
revólver No chão. - Com minhas mãos nuas!
Lentamente, como um animal de força excepcional, ele começou a avançar para Judd. Judd
recuou. Sabia que não tinha a menor possibilidade de vencer DeMarco, fisicamente. Sua única
esperança era continuar a trabalhar a mente doentia de DeMarco, deixando-a incapaz de funcionar.
Tinha que continuar a atacar DeMarco no seu ponto mais vulneráveclass="underline" o orgulho que ele sentia por sua virilidade.
- Você é um homossexual, DeMarco!
DeMarco riu e arremessou-se contra Judd, que conseguiu desviar-se. Vaccaro pegou o
revólver no chão.
- Deixe-me acabar com ele, chefe!
- Fique fora disso! - rugiu DeMarco.
Os dois homens começaram a dar voltas, procurando a melhor posição. O pé de Judd
escorregou num monte de serragem encharcada e DeMarco então atacou-o, como um touro. O seu punho gigantesco acertou Judd no canto da boca, jogando-o para trás. Mas Judd conseguiu recuperar-se e desferiu um soco contra DeMarco, atingindo-o no rosto. DeMarco recuou, depois lançou-se para a frente, os dois punhos se chocaram no estômago de Judd. Judd perdeu o fôlego.
Tentou falar, para escarnecer de DeMarco, mas estava ofegante, em busca de ar. DeMarco estava parado à sua frente, como um gigantesco pássaro predador.
- Está sem fôlego, Doutor?
Ele soltou uma risada.
- Já fui lutador de boxe. Vou-lhe dar algumas lições. Vou-me concentrar nos seus rins e
depois na cabeça e nos olhos. Vou arrancar-lhe os olhos, Doutor. Antes que eu termine, vai implorar para que o mate com um tiro.
Judd acreditou nele. A luz sobrenatural que se irradiava do céu nublado, DeMarco parecia
um animal enfurecido. Ele avançou para Judd novamente e desferiu-lhe um soco no rosto, abrindo uma ferida na face com um anel de camafeu. Ele golpeou DeMarco, acertando-lhe o rosto com os dois punhos, DeMarco nem recuou.
DeMarco começou a dar socos nos rins de Judd, os punhos parecendo pistões. Judd
conseguiu desvencilhar-se, o corpo parecendo um oceano de dor.
- Está ficando cansado, não é, Doutor?
DeMarco começou novamente a se aproximar. Judd sabia que seu corpo não poderia
agüentar um castigo mais intenso. Tinha que continuar a falar. Era a sua única chance.
- DeMarco…
Ele ofegou. DeMarco deu um soco em falso e Judd atacou-o. DeMarco abaixou-se, riu e
bateu com o punho no meio das pernas de Judd. Judd desabou no chão, sentindo uma agonia
incrível. DeMarco imediatamente montou em cima dele, as mãos apertando-lhe a garganta.
- Com minhas mãos nuas! - gritou DeMarco. - Vou arrancar-lhe os olhos com as minhas
mãos!
E arremessou os punhos gigantescos contra os olhos de Judd.
Eles estavam passando por Bedminster, seguindo para o sul, pela Rodovia 206, quando veio
o chamado pelo rádio:
- Código três… Código três… Todos os carros de prontidão… Unidade 27 de Nova York…
Unidade 27 de Nova York…
McGreavy segurou o microfone.
- Unidade 27 de Nova York… Pode falar!
A voz excitada do Capitão Bertelli soou pelo rádio:
- Já descobrimos tudo, Mac. Há um cano transportador em Nova Jersey, a três quilômetros
de Milstone. Pertence à Five Star Corporation, a mesma proprietária do frigorífico em que foi
encontrado o corpo de Moody. É uma das fachadas de que Tony DeMarco se utiliza.
- Deve ser isso mesmo - disse McGreavy. - Já estamos no caminho.
- Estão muito longe de lá?
- A uns quinze quilômetros.
- Boa Sorte.
- Obrigado.
McGreavy desligou o rádio e acionou a sirene, pisando no acelerador até o fim.
O céu estava rodopiando em círculos úmidos e algo batia nele, dilacerando-lhe o corpo. Judd
tentou ver o que era, mas os olhos estavam tão inchados que não conseguiu abri-los. Um punho se abateu contra as suas costas e ele sentiu a dor angustiante de ossos que se quebravam. Podia sentir a respiração quente de DeMarco em seu rosto, rápida e excitada. Tentou vê-lo, mas estava encarcerado na escuridão. Abriu a boca e forçou as palavras a passarem pela língua áspera e inchada:
- Está… vendo… Era o que… eu dizia… Só pode… bater… num homem… quando… ele está…
caído…
A respiração em seu rosto cessou. Judd sentiu duas mãos agarrarem-no e levantarem-no.
- Já é um homem morto, Doutor. E eu o liquidarei com as minhas próprias mãos, desarmado.
Judd recuou para longe da voz.
- Você é… um… animal… Um psicopata… devia ser… trancafiado… num hospício…
A voz de DeMarco estava enrolada pela raiva:
- Você é um mentiroso!
- É… a verdade… - disse Judd, continuando a recuar. - Seu… seu cérebro está… doente… Sua
mente… vai desmoronar… e será… como um bebê idiota…
Judd continuou a recuar, incapaz de ver onde estava indo. Por trás ele ouviu o zumbido fraco
do cano transportador fechado, esperando como um gigante adormecido.
DeMarco arremessou-se novamente para Judd, agarrando-lhe a garganta.
- Eu vou-lhe quebrar o pescoço!
Os dedos enormes se fecharam sobre a traquéia de Judd, apertando-a.
Judd sentiu a cabeça começar a flutuar. Era sua última oportunidade. Todos os seus instintos
lhe diziam que agarrasse as mãos de DeMarco e as afastasse para longe de sua garganta, a fim de poder respirar. Em vez disso, porém, num último esforço, ele estendeu as mãos para trás, à procura da válvula do cano transportador. Sentiu que estava começando a desmaiar e foi nesse momento que suas mãos encontraram a válvula. Com uma erupção final e desesperada de energia, ele abriu a válvula e girou o corpo, de modo que DeMarco ficasse mais próximo da abertura. Um tremendo vácuo de ar envolveu-os subitamente, procurando sugá-los para o interior do aparelho. Judd agarrou-se freneticamente à válvula, com as duas mãos, resistindo à fúria ciclônica do vento. Sentiu os dedos de DeMarco se enterrarem em sua garganta, no instante em que ele começava a ser sugado para o cano. DeMarco poderia salvar-se. Mas, em sua fúria insana, ele recusava-se a largar Judd.
Judd não podia ver-lhe o rosto, mas a voz dele era o grito irado de um animal enlouquecido, as
palavras se perdendo no rugido do vento.
Os dedos de Judd começaram a escorregar da válvula. Ele ia ser sugado também para o cano,
juntamente com DeMarco. Murmurou mentalmente uma última prece e nesse instante sentiu as mãos de DeMarco largarem a sua garganta. Judd ouviu um grito estridente, que ecoou por um momento.
Depois ouviu apenas o rugido do vento. DeMarco desaparecera.
Judd ficou parado ali, num cansaço mural, incapaz de mover-se, à espera do tiro de Vaccaro.
Um momento depois veio a expulsão do tiro.
Judd continuou parado no mesmo lugar, sem compreender porque Vaccaro errara. Através da
neblina de dor ele ouviu mais tiros e o barulho de pés correndo. Em seguida gritaram o seu nome.
E então alguém passou um braço pelo seu corpo enquanto a voz de McGreavy dizia:
- Santa Mãe de Deus! Olhem só os olhos dele!