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- E o que descobriram?

- Ela estava grávida.

Angeli exibiu uma expressão de perplexidade.

- E já de três meses. Um pouco tarde para um aborto seguro e um pouco cedo para que se

pudesse notar.

- Acha que isso tem relação com o assassinato dela? - indagou Angeli.

- É uma boa pergunta. Se foi o namorado de Carol que a engravidou e ele pretendia casar-se

com ela, por que haveria de fazer uma coisa dessas? O único problema seria terem um filho poucos meses depois do casamento, antes da data que seria natural. Mas essas coisas acontecem todos os dias. Por outro lado, se ele a engravidou e não queria se casar… qual o problema? Ela simplesmente teria um filho e não teria marido. Isso acontece com mais freqüência ainda.

- Nós conversamos com Chick. Ele queria de fato casar-se com ela.

- Eu sei disso. Assim, o que temos que nos perguntar é onde isso nos deixa. E a resposta é

simples: temos uma garota negra que está grávida, vai procurar o pai da criança e conta-lhe tudo. Ele a mata para proteger-se.

- Mas ele teria de ser um louco para fazer uma coisa dessas!

- Ou muito esperto. Eu fico com a segunda hipótese. Vistas as coisas por este ângulo: Carol

vai procurar o pai da criança, dá a má notícia e diz que não pretende abortar; que vai ter o filho.

Talvez a intenção dela fosse fazer chantagem, obrigá-lo a casar. Mas suponhamos que ele não

pudesse casar-se com ela, por já ser casado. Ou talvez por ser um branco. Suponhamos que fosse um médico bastante conhecido, com uma clientela elegante. Se uma coisa dessas transpirasse, ele ficaria arruinado. Quem haveria de querer tratar-se com um psicanalista que engravidou a sua recepcionista negra e teve que se casar com ela?

- Stevens é médico - disse Angeli. - Ele poderia tê-la matado de uma dúzia de maneiras

diferentes, sem despertar qualquer suspeita.

- Talvez sim, talvez não. Mas se alguém desconfiasse, sempre seria possível chegar até ele.

Se comprasse veneno, o seu nome estaria registrado. Se comprasse uma corda ou uma faca, sempre se poderia descobrir. Pense agora se ele poderia ter armado um cenário mais inteligente. Aparece um maníaco e, sem razão alguma, assassina sua recepcionista. Ele está à vontade para bancar o patrão abalado com a tragédia, a exigir da polícia que prenda o assassino.

- Acho uma história meio difícil de acreditar.

- Ainda não acabei. Vamos ver agora o caso do paciente dele, John Hanson. Outro crime sem

motivo, praticado pelo maníaco desconhecido. Sabe de uma coisa, Angeli? Eu não acredito em coincidências. E duas coincidências assim, no mesmo dia, deixam-me nervoso. Por isso, fiquei me perguntando que relação podia haver entre a morte de John Hanson e a de Carol Roberts e, finalmente, cheguei à conclusão de que não houve tanta coincidência assim. Suponhamos que Carol tenha entrado na sala de Stevens e dado a má notícia de que ia ser pai. Tiveram uma briga e ela tentou fazer chantagem. Disse que Stevens tinha que se casar, dar-lhe dinheiro, qualquer coisa, enfim. John Hanson estava esperando na sala de recepção, escutando tudo. Talvez Stevens não soubesse que ele ouvira a discussão até Hanson se deitar em tal divã. Hanson ameaçou denunciá-lo. Ou tentou levá-lo para a cama.

- Acho que está fazendo suposições demais.

- Mas será que não vê que tudo se ajusta? Quando Hanson saiu, Stevens foi atrás dele e

liquidou-o para que nada contasse. Depois ele tinha que voltar para livrar-se de Carol. Fez com que parecesse um crime de algum maníaco. Foi então visitar a Sra. Hanson e fez um passeio a Connecticut, achando que todos os seus problemas estavam resolvidos. E, enquanto ele fica sentado calmamente, a polícia quebra a cabeça atrás de algum maníaco que simplesmente não existe.

- Não aceito essa teoria - disse Angeli. - Está tentando preparar uma acusação de homicídio

sem ter a menor prova concreta.

- O que você chama de prova concreta, Angeli? Não se esqueça de que temos dois cadáveres.

Um deles é o de uma garota grávida que trabalhava para Stevens. O outro é o de um de seus

pacientes, assassinado a um quarentão do consultório dele. O cara estava se tratando porque era homossexual. Quando pedi a Stevens para ouvir as gravações das sessões que teve com Hanson, ele simplesmente não deixou. Por quê? A quem o Dr. Stevens está querendo proteger? Perguntei-lhe se alguém poderia ter arrombado seu consultório à procura de alguma coisa. Talvez pudéssemos então seguir a teoria de que haviam torturado Carol para que ela dissesse onde estava a tal coisa misteriosa.

Mas lembra-se do que Stevens disse? Que não há nada de misterioso em seu consultório. Ele não guardava narcóticos no consultório. Nem dinheiro. Portanto, só nos resta procurar um maníaco. Não é isto mesmo? Só que eu não concordo com isso. Acho que devemos procurar é o Dr. Judd Stevens.

- Eu acho que você está querendo agarrá-lo de qualquer maneira - disse Angeli calmamente.

O rosto de McGreavey ficou vermelho de raiva.

- Porque eu tenho a certeza de que ele é culpado!

- Vai prendê-lo?

- Agora não. Vou dar-lhe primeiro bastante corda. E, enquanto Stevens estiver-se

enforcando, vou descobrir todos os seus segredos. Quando eu o prender, ninguém vai conseguir mais soltá-lo.

McGreavy virou-se e afastou-se.

Angeli ficou olhando-o, pensativo. Se ele não tomasse nenhuma providência, era bem possível que McGreavy tentasse meter o Dr. Stevens na cadeia de qualquer maneira. Ele não podia deixar que isso acontecesse. Angeli disse a si mesmo que, pela manhã, conversaria com o Capitão Bertelli a esse respeito.

Capítulo 4

Os jornais da manhã publicaram em manchete o sensacional assassinato de Carol Roberts,

torturada até a morte. Judd sentiu-se tentado a cancelar todas as consultas que tinha marcado para aquele dia. Não se deitara e sentia os olhos pesados e irritados. Mas verificou a relação dos pacientes que receberia naquele dia e concluiu que dois ficariam desesperados se cancelasse suas consultas, três ficariam um tanto transtornados, e os outros poderiam agüentar sem maiores problemas. Decidiu que era melhor manter a sua rotina normal, em parte pelo bem de seus pacientes, em parte por si mesmo, pois seria uma boa terapia tentar manter os pensamentos afastados do que acontecera.

Judd chegou cedo ao consultório, mas o corredor já estava apinhado de repórteres, pessoal

de televisão e fotógrafos. Ele recusou-se a deixá-los entrar e a fazer declarações, conseguindo finalmente livrar-se de todos eles. Abriu a porta de sua sala lentamente, apreensivo. Mas o tapete manchado de sangue fora removido e tudo recolocado nos devidos lugares. A sala parecia normal.

Só que Carol nunca mais entraria ali novamente sorridente e cheia de vida.

Judd ouviu a porta externa abrir-se. Seu primeiro paciente acabara de chegar.

Harrison Burke era um homem de aparência distinta, cabelos prateados, o protótipo de um

executivo dos altos escalões. O que na verdade era, pois ocupava o cargo de vice-presidente da Internacional Steel Corporation. Quando Judd se encontrara com Burke pela primeira vez, ficara imaginando se fora o executivo que criara a imagem estereotipada ou se a imagem é que criara o executivo. Algum dia ele escreveria um livro a respeito das aparências, como a atitude cordial e íntima do médico, a exuberância do advogado no tribunal, o rosto dramático da atriz. Eram imagens universalmente aceites, sempre superficiais, nunca se procurando os valores básicos.

Burke deitou-se no divã e Judd concentrou-se nele. Burke fora-lhe enviado pelo Dr. Peter

Hadley dois meses atrás. Judd levara apenas dez minutos para verificar que Burke era um paranóico, com tendências homicidas. Os jornais matutinos traziam estampada em manchetes a notícia do brutal assassinato que ocorrera ali no consultório na noite passada, mas Burke não mencionou o assunto.