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― Há pouco tempo passei da marca de 1,5 milhão de anos ― disse Marvin, aéreo.

― Pergunte-me se em algum momento me sinto chateado, vamos, pergunte-me. O colchão perguntou.

Marvin ignorou a pergunta, apenas se arrastou com mais determinação.

― Fiz um discurso uma vez ― disse ele, do nada, e aparentemente sem qualquer conexão com o assunto. ― Você talvez não entenda por que estou tocando neste assunto, mas é só porque minha mente funciona tão fenomenalmente rápido e sou, em uma estimativa genérica, 30 bilhões de vezes mais inteligente que você. Deixe-me lhe dar um exemplo. Pense em um número, qualquer número.

― Ahn... cinco ― disse o colchão.

― Errado ― respondeu Marvin. ― Você entende agora?

O colchão ficou muito impressionado por isso e percebeu que estava na presença de uma mente invulgar. Ele uilomeou ao longo de todo o seu corpo, gerando pequenas ondulações excitadas ao longo de sua poça coberta por algas.

Glupou.

― Conte-me ― pediu, animado ― sobre o seu discurso, eu adoraria ouvi-lo.

― Foi muito mal recebido ― disse Marvin ―, por uma série de motivos. Eu fiz esse discurso a cerca de um quilômetro e meio naquela direção ― acrescentou, fazendo uma pausa numa tentativa de apontar que resultou num gesto estranho com seu braço que não

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estava exatamente bem. O seu braço que estava melhor era o que estava deprimentemente soldado a seu lado esquerdo.

Estava apontando tão bem quanto podia, e obviamente queria deixar bem claro que aquilo era o melhor que podia fazer através da névoa, sobre os juncos, indicando uma parte do pântano que se parecia exatamente com qualquer outra parte do pântano.

― Ali ― repetiu. ― Eu era uma espécie de celebridade na época. O colchão foi tomado por grande excitação. Nunca tinha ouvido falar que alguém tivesse feito um discurso em Squornshellous Zeta, sobretudo não uma celebridade. Gotas d'água respingaram dele enquanto um tremor de excitação gluriou por suas costas. Ele fez algo que os colchões muito raramente se dão ao trabalho de fazer. Reunindo cada átomo de sua força, ele curvou seu corpo retangular, elevou-o no ar e o manteve tremendo por lá durante alguns segundos enquanto tentava olhar, através da névoa, sobre os juncos, na direção do pântano que havia sido indicada por Marvin, notando, sem nenhum desapontamento, que era exatamente igual a qualquer outra parte do pântano. Foi esforço demais, e ele acabou flogando de volta em sua poça, encharcando Marvin com uma lama fedorenta, musgo e ervas daninhas.

― Eu fui uma celebridade ― prosseguiu o robô em tom monocórdio ― durante um curto período de tempo devido à minha miraculosa escapada (da qual muito me ressinto) de um destino quase tão bom quanto a morte no coração de um sol resplandecente. Você pode perceber, olhando para a minha condição atual ― acrescentou ―, por quão pouco escapei. Fui salvo por um vendedor de ferro-velho, imagine só. Aqui estou, com um cérebro do tamanho de um... ah, deixa pra lá.

Arrastou-se novamente por mais algum tempo.

― Foi ele que me arrumou esta perna. Odiosa, não é? Me vendeu para um Zoológico Mental. Eu era a estrela da exposição. Tinha que ficar sentado em uma caixa e contar a minha história enquanto as pessoas me diziam para me animar e pensar de forma positiva. "Dê um sorriso, robozinho", gritavam eles, "dê uma risada." Nessa hora eu geralmente explica-que, para fazer meu rosto sorrir, levaria algumas horas em uma oficina com um alicate, o que resolvia bem a situação. ― O discurso ― insistiu o colchão. ―

Quero muito ouvir o discurso que você deu no pântano.

― Uma ponte ia ser construída através dos pântanos. Era uma hiperponte ciberestruturada, com centenas de quilômetros de extensão, para carregar carroças iônicas e transportes de cargas por cima do pântano.

― Uma ponte? ― inquirulou o colchão. ― Aqui no pântano?

― Sim, uma ponte ― confirmou Marvin ―, aqui no pântano. A idéia é que ela revitalizasse a economia do Sistema de Squornshellous. Dedicaram todos os recursos da economia do Sistema de Squornshellous para construí-la. E me pediram para inaugurá-la. Pobres tolos.

Uma chuva fina começou a cair através da névoa.

― Lá estava eu na plataforma. Por centenas de quilômetros à minha frente e centenas de quilômetros atrás de mim estendia-se a ponte.

― Ela reluzia? ― perguntou o colchão, entusiasmado.

― Sim, reluzia.

― Atravessava as milhas majestosamente?

― Sim, atravessava as milhas majestosamente.

― Alongava-se como um fio de prata até se tornar invisível em meio à névoa?

― Sim ― disse Marvin. ― Você quer ou não ouvir a história?

― Quero ouvir o seu discurso ― respondeu o colchão.

― Eis o que eu disse. Disse: "Gostaria de dizer que é um grande prazer, uma enorme honra e um privilégio para mim inaugurar esta ponte, mas não posso fazer isso

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porque todos os meus circuitos de falsidade estão fora de ação. Eu odeio desprezo todos vocês. A partir deste momento, declaro esta miserável ciberestrutura aberta aos abusos inimagináveis de todos aqueles que irão petulantemente cruzá-la." Em seguida me conectei aos circuitos de abertura.

Marvin fez uma pausa enquanto se lembrava da ocasião.

O colchão flureou e gluriou. Ele flopolou, glupou e uilomeou de uma forma particularmente flúpida.

― Vuum ― vurfou por fim. ― E foi uma ocasião magnífica?

― Razoavelmente magnífica. A ponte de 1.500 quilômetros em toda a sua extensão, espontaneamente redobrou-se em sua cintilante travessia e submergiu, chorando, no lodo, levando todos junto com ela.

Houve uma triste e terrível pausa neste ponto da conversa, durante a qual a 100 mil pessoas pareceram ter dito "uop" inesperadamente e um time de robôs brancos desceu do céu como sementes de dentes-de-leão esvoaçando pelo vento em formação militar cerrada. Durante um curto e violento momento estavam todos lá, no pântano, arrancando a perna falsa de Marvin e, logo em seguida, estavam de volta em sua nave, que fez "fuop".

― Você entende o tipo de coisa que tenho que aturar? ― disse Marvin para o colchão goberingante.

Então, logo em seguida, os robôs voltaram para outro incidente violento e, desta vez, quando partiram, o colchão estava sozinho no pântano. Ele flopolou em volta, perplexo e assustado. Quase lurglou de medo. Suspendeu a si mesmo para ver por cima dos juncos, mas não havia nada para ver a não ser mais juncos.

Prestou atenção aos sons, mas o único som vindo com o vento era o já familiar ruído de alguns etimologistas semi-enlouquecidos gritando à distância, uns para os outros, através do lodo fedorento.

Capítulo 10

O corpo de Arthur Dent girou.

O Universo se estilhaçou em um milhão de fragmentos reluzentes em volta dele e cada um dos cacos girou silenciosamente pelo vazio, refletindo em sua superfície prateada um único e causticante holocausto de fogo e destruição.

E então a escuridão por trás do Universo explodiu, e cada pedaço de escuridão era a furiosa fumaça do inferno.

E por trás da escuridão por trás do Universo irrompeu o vazio, e por trás do vazio por trás da escuridão por trás do Universo estilhaçado surgiu enfim a sombria figura de um homem imenso proferindo imensas palavras.

― Essas, então ― disse a figura, sentada em uma cadeira imensamente confortável

―, foram as Guerras de Krikkit, a maior devastação que já tomou conta de nossa Galáxia. O