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― Parecem?

― Até onde posso ver. Não sou especialista em relacionamentos pessoais... Trillian levantou as sobrancelhas.

― Sou ― prosseguiu Zaphod ― um grande cara, posso fazer tudo que quiser, só

que não tenho a menor idéia do que seja isto.

Fez uma pausa.

Uma coisa deixou de levar à próxima ― em contradição com o que disse, tomou outro drinque e escorregou desajeitadamente de sua cadeira.

Enquanto ele dormia, Trillian pesquisou algumas coisas na cópia do Guia do Mochileiro das Galáxias que havia na nave. O Guia tinha alguns conselhos a respeito de porres.

― Vá fundo ― dizia o texto ― e boa sorte.

Havia uma referência cruzada para o verbete que falava sobre o tamanho do Universo e como lidar com isso.

Então ela encontrou o verbete sobre Han Wavel, um exótico planeta turístico e um dos prodígios da Galáxia.

Han Wavel é um mundo constituído basicamente de fabulosos hotéis e cassinos ultraluxuosos. Todos formados por erosão natural, provocada pela chuva e pelo vento. As chances de que algo assim aconteça são mais ou menos de um sobre infinito. Pouco se sabe a respeito de como isso aconteceu porque nenhum dos geofísicos, estatísticos

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de probabilidade, meteoroanalistas ou bizarrologistas que gostariam muito de estudar o assunto podem se dar ao luxo de ficar lá.

Incrível, pensou Trillian, e em poucas horas a grande nave branca estava lentamente descendo do céu, iluminada por um sol quente e brilhante, em direção a um espaçoporto recoberto por areia colorida. A nave estava obviamente causando sensação na superfície e Trillian estava se divertindo com isso. Ouviu Zaphod se movendo e assobiando em algum lugar da nave.

― Como você está? ― perguntou pelo intercomunicador.

― Bem ― disse ele alegremente ―, incrivelmente bem.

― Onde você está?

― No banheiro.

― Fazendo o quê?

― Ficando aqui.

Depois de uma ou duas horas tornou-se óbvio que ele realmente pretendia ficar por lá e a nave subiu novamente sem sequer abrir sua escotilha.

― Putz! ― disse Eddie, o computador.

Trillian assentiu pacientemente, batucou com seus dedos algumas vezes e depois pressionou de novo o botão do intercomunicador.

― Acho que diversão obrigatória provavelmente não é algo de que você precise neste momento.

― Provavelmente não ― retrucou Zaphod de algum lugar.

― Acho que uma boa atividade física ajudaria a tirar você de dentro de si mesmo.

― O que você achar eu também acho ― respondeu Zaphod. "Impossibilidades Recreativas" foi um tópico que chamou a atenção de Trillian quando, pouco depois, ela se sentou para dar outra lida no Guia. Enquanto a Coração de Ouro cruzava o espaço a velocidades improváveis em uma direção indeterminada, ela tomava uma xícara de algo impensável preparado pela máquina Nutrimática de bebidas e lia sobre como aprender a voar. O Guia do Mochileiro das Galáxias diz o seguinte a respeito de voar: Há toda uma arte, ele diz, ou melhor, um jeitinho para voar.

O jeitinho consiste em aprender como se jogar no chão e errar. Encontre um belo dia, ele sugere, e experimente.

A primeira parte é fácil.

Ela requer apenas a habilidade de se jogar para a frente, com todo seu peso, e o desprendimento para não se preocupar com o fato de que vai doer. Ou melhor, vai doer se você deixar de errar o chão.

Muitas pessoas deixam de errar o chão e, se estiverem praticando da forma correta, o mais provável é que vão deixar de errar com muita força.

Claramente é o segundo ponto, que diz respeito a errar, que representa a maior dificuldade.

Um dos problemas é que você precisa errar o chão acidentalmente. Não adianta tentar errar o chão de forma deliberada, porque você não irá conseguir. É preciso que sua atenção seja subitamente desviada por outra coisa quando você está a meio caminho, de forma que você não pense mais a respeito de estar caindo, ou a respeito do chão, ou sobre o quanto isso tudo irá doer se você deixar de errar.

É reconhecidamente difícil remover sua atenção dessas três coisas durante a fração de segundo que você tem à sua disposição. O que explica por que muitas pessoas fracassam, bem como a eventual desilusão com esse esporte divertido e espetacular. Contudo, se você tiver a sorte de ficar completamente distraído no momento crucial por, digamos, lindas pernas (tentáculos, pseudópodos, de acordo com o filo e/ou inclinação

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pessoal) ou por uma bomba explodindo por perto, ou por notar subitamente uma espécie muito rara de besouro subindo num galho próximo, então, em sua perplexidade, você irá

errar o chão completamente e ficará flutuando a poucos centímetros dele, de uma forma que irá parecer ligeiramente tola.

Esse é o momento para uma sublime e delicada concentração.

Balance e flutue, flutue e balance.

Ignore todas as considerações a respeito de seu próprio peso e simplesmente deixese flutuar mais alto. Não ouça nada que possam dizer nesse momento porque dificilmente seria algo de útil.

Provavelmente dirão algo como: "Meu Deus, você não pode estar voando!" É de vital importância que você não acredite nisso: do contrário, subitamente estará

certo. Flutue cada vez mais alto.

Tente alguns mergulhos, bem devagar no início, depois deixe-se levar para cima das árvores, sempre respirando pausadamente.

NÃO ACENE PARA NINGUÉM.

Quando você já tiver repetido isso algumas vezes, perceberá que o momento da distração logo se torna cada vez mais fácil de atingir.

Você pode, então, aprender diversas coisas sobre como controlar seu vôo, sua velocidade, como manobrar, etc. O truque está sempre em não pensar muito a fundo naquilo que você quer fazer. Apenas deixe que aconteça, como se fosse algo perfeitamente natural. Você também irá aprender como pousar suavemente, coisa com a qual, com quase toda certeza, você irá se atrapalhar ― e se atrapalhar feio ― em sua primeira tentativa. Há clubes privados de vôo aos quais você pode se juntar e que irão ajudá-lo a atingir esse momento fundamental de distração. Eles contratam pessoas com um físico inacreditável ― ou com opiniões inacreditáveis ―, e essas pessoas pulam de trás de arbustos para exibir seus corpos ― ou suas opiniões ― nos momentos cruciais. Poucos mochileiros de verdade terão dinheiro para se juntar a esses clubes, mas é possível conseguir um emprego temporário em um deles.

Trillian leu isso tudo em detalhes, mas, relutantemente, decidiu que Zaphod realmente não estava no clima certo para tentar voar, ou para caminhar por montanhas, ou para tentar conseguir que um funcionário público de Brantisvogan aceitasse uma notificação de mudança de endereço – estas eram as outras coisas listadas sob o tópico

"Impossibilidades Recreativas".

Ela decidiu então levar a nave até Allosimanius Syneca, um planeta feito de gelo e neve, de uma beleza atordoante e um frio estonteante. A viagem das planícies nevadas de Liska até o pico das Pirâmides de Cristal de Gelo de Sastantua é longa e exaustiva, mesmo com esquis a jato e uma matilha de cães de neve de Syneca, mas a vista lá de cima, uma vista que abrange os Campos de Geleiras de Stin, as reluzentes Montanhas Prismáticas e as longínquas luzes de gelo, etéreas e dançantes, é algo que congela a mente e então, aos poucos, a liberta para horizontes de beleza até então nunca experimentados, e, pessoalmente, Trillian achava que se sentiria bem com essa coisa de ter sua mente libertada aos poucos para horizontes de beleza até então nunca experimentados. Entraram em uma órbita baixa.