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correndo por ele e esbarrou em seu cotovelo. Ele deixou cair o saquinho de papel e seu conteúdo se esparramou no chão. Arthur olhou para baixo, contrariado. Ford olhou para ele.

― Podemos ir agora? ― disse.

Arthur soltou um longo suspiro. Olhou em volta para o planeta Terra, certo de que aquela seria a última vez.

― Vamos lá ― respondeu.

Naquele momento, em meio à fumaça que estava se dispersando, ele pôde ver que um dos wickets permanecia de pé, apesar de tudo.

― Espere um pouco ― disse para Ford. ― Quando eu era garoto...

― Você pode me contar isso mais tarde?

― Eu era apaixonado por críquete, sabe, mas não jogava muito bem.

― Ou talvez nem contar nada, se preferir.

― E sempre tive o sonho tolo de que um dia eu faria um arremesso no campo do Lord's.

Olhou em torno de si para a multidão em pânico. Ninguém iria se importar.

― Tá bom ― disse Ford, aborrecido. ― Termine logo com isto. Vou ficar ali na frente ― acrescentou ― me chateando. ― Saiu andando e sentou-se sobre um pedaço de grama fumegante.

Arthur lembrou-se de que, na primeira vez em que tinham estado lá naquela tarde, a bola de críquete havia caído dentro de sua bolsa, e olhou dentro dela. Já havia encontrado a bola dentro da bolsa quando se lembrou que aquela não era a mesma bolsa que ele estava usando antes. Ainda assim, a bola estava entre seus suvenires da Grécia.

Ele pegou-a, esfregou-a na roupa, cuspiu nela e esfregou-a novamente. Colocou a bolsa no chão. Queria fazer aquilo da forma apropriada. Jogou a bolinha vermelha de uma mão para a outra, sentindo seu peso. Com um maravilhoso sentimento de leveza e despreocupação, foi recuando para longe do wicket. Decidiu que daria uma corrida médio-rápida e mediu a distância para um bom arremesso.

Olhou para o céu. Os pássaros voavam, algumas nuvens brancas passavam. O ar estava sendo perturbado pelos sons das sirenes da polícia e das ambulâncias, além das pessoas gemendo e gritando, mas ele se sentia curiosamente feliz e distante daquilo tudo. Ia arremessar uma bola no famoso campo do Lord's. Virou-se e bateu algumas bolas no solo com seus chinelos. Endireitou os ombros, jogou uma delas para cima e pegou-a novamente.

Começou a correr.

Enquanto corria, notou que havia um batedor em frente ao wicket.

"Nossa", pensou, "isso realmente vai acrescentar um pouco de..." Então, enquanto seus pés corriam, fazendo com que se aproximasse, pôde ver com clareza. O batedor que estava a postos no wicket não era do time inglês. Também não era do time de críquete australiano. Era do time dos robôs de Krikkit. Era um robô assassino branco, frio, rígido e letal que aparentemente não havia retornado à sua nave com os outros.

Muitos pensamentos chocaram-se uns contra os outros dentro da cabeça de Arthur naquele momento, mas ele não conseguia parar de correr. O tempo parecia se mover de forma terrivelmente, terrivelmente lenta, mas ele não conseguia parar de correr. Movendo-se como se estivesse imerso em mel, lentamente virou sua cabeça perturbada e olhou para sua própria mão, aquela que segurava a pequena bola vermelha e dura.

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Seus pés continuavam se movendo para a frente enquanto ele olhava para a bola firmemente segura em sua mão, incapaz de agir. Ela estava emitindo um brilho vermelhoescuro e piscava de forma intermitente. Ainda assim seus pés se moviam para a frente, inexoravelmente.

Olhou novamente para o robô de Krikkit que estava de pé à sua frente, implacável e imóvel, com um único propósito, o bastão de batalha levantado em prontidão. Seus olhos queimavam com uma luz fria e hipnotizante: Arthur não conseguia desgrudar seus olhos dos dele. Encarava os olhos do robô com visão de túnel, como se não houvesse nada em torno dele.

Eis alguns dos pensamentos que estavam se chocando em sua mente naquele momento eram:

Ele se sentia um completo imbecil.

Sentia que deveria ter prestado muito mais atenção a uma série de coisas que ouvira dizer, frases que agora martelavam sua cabeça enquanto seus pés martelavam o chão na direção onde ele iria inevitavelmente lançar a bola para o robô de Krikkit, que iria inevitavelmente rebatê-la.

Lembrou-se de Hactar dizendo: "Fracassei? Agora o fracasso já não me preocupa." Lembrou-se das últimas palavras de Hactar, ao morrer: "O que está feito, está feito, cumpri minha função."

Lembrou-se de Hactar ter dito que conseguira fazer "algumas coisas". Lembrou-se do movimento súbito em sua bolsa que o havia feito segurá-la com firmeza quando estava na Nuvem de Poeira.

Lembrou-se de que tinha viajado para o passado um ou dois dias para retornar ao Lord's.

Lembrou-se também de que era um péssimo arremessador.

Sentiu seu braço preparando-se para o arremesso, segurando firmemente a bolinha que ele agora sabia, com certeza, ser a bomba de supernova que Hactar havia construído ele mesmo e colocado em sua bolsa, a bomba que levaria o Universo a um fim repentino e prematuro.

Torceu e rezou para que não houvesse vida após a morte. Então percebeu que havia uma contradição nisso e simplesmente torceu para que não houvesse vida após a morte. Ele iria se sentir extremamente envergonhado se tivesse que encontrar todo mundo. Torceu, torceu, torceu para que seus arremessos continuassem tão ruins quanto haviam sido, porque essa parecia ser a única coisa que se interpunha entre aquele momento e a destruição do Universo.

Sentiu suas pernas se movendo, seu braço girando, sentiu seus pés indo de encontro à bolsa que havia burramente deixado no chão à sua frente, sentiu que caía pesadamente para a frente, mas, com a mente tão repleta de outros pensamentos, naquele momento se esqueceu completamente de acertar o chão e portanto errou.

Ainda segurando firmemente a bola em sua mão direita, decolou, emocionado com a surpresa.

Girou e girou enquanto subia, sem controle nenhum.

Virou-se na direção do chão, lançando-se de forma caótica através do ar e, ao mesmo tempo, jogando a bomba bem longe, inofensivamente.

Atirou-se contra o robô atônito vindo de trás. O robô ainda estava com o bastão de batalha multifuncional erguido, mas, subitamente, não havia mais no que bater. Em um súbito acesso tresloucado de força, arrancou violentamente o bastão de batalha do robô ainda perplexo, executou uma impressionante pirueta no ar, desceu novamente num ataque furioso e, com um golpe alucinante, arrancou a cabeça do robô.

― Afinal, vamos ou não? ― perguntou Ford.

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Epílogo

A Vida, o Universo e Tudo Mais

E, no final, mais uma vez eles viajaram.

Houve um tempo em que Arthur Dent não teria ido. Ele disse que o Propulsor Bistromático lhe revelara que tempo e distância eram um, que mente e Universo eram um, que percepção e realidade eram um e que, quanto mais se viaja, mais se permanece no mesmo lugar, e, sendo assim, dado isso e aquilo outro ele preferia ficar quieto durante algum tempo e resolver tudo isso em sua mente, que agora era um com o Universo, então não iria levar muito tempo e ele poderia descansar bastante depois, aperfeiçoar suas técnicas de vôo e aprender a cozinhar, algo que ele sempre quis. A lata de azeite grego era agora seu objeto mais querido, e ele disse que a forma como ela havia inesperadamente surgido em sua vida havia mais uma vez dado um certo sentido de unidade às coisas, o que fazia com que ele achasse que...

Bocejou e caiu no sono.

Pela manhã, enquanto os outros se preparavam para levá-lo a algum planeta calmo e idílico onde as pessoas não se importassem muito com as coisas que ele falava, subitamente captaram uma chamada de socorro gerada por computador e alteraram a rota para investigar. Uma nave pequena, mas aparentemente em perfeito estado, da classe Mérida, parece estar dançando alguns passos exóticos em meio ao espaço. Uma rápida varredura do computador revelou que a nave estava perfeita, que seu computador estava perfeito, mas que o piloto estava louco.