Выбрать главу

― Não estava mais falando sobre minha toalha ― disse Arthur.

― Já concluímos que não é minha. É que a bolsa onde estava guardando a toalha, a tal que não é minha, também não é minha, apesar de ser incrivelmente parecida. Pessoalmente acho que isso é muito estranho, até porque eu mesmo fiz essa bolsa na Terra pré-histórica. E estas também não são minhas pedras ― acrescentou, tirando algumas pedras cinzentas e achatadas da bolsa. ― Estava fazendo uma coleção de pedras interessantes e estas aqui são claramente bobas.

Um grito animado varreu a multidão e interrompeu qualquer coisa que Ford fosse

14

responder. A bola de críquete, que havia causado aquela reação, caiu do céu precisamente dentro da misteriosa bolsa de pele de coelho de Arthur.

― Devo dizer que este também foi um evento muito peculiar ― disse Arthur, fechando rapidamente sua bolsa e fingindo procurar a bola no chão.

― Acho que não caiu aqui ― disse para os garotos que imediatamente se juntaram ao seu redor procurando a bolinha.

― Provavelmente rolou para outro lugar. Acho que foi, para lá.

― Apontou vagamente na direção para a qual gostaria que eles fossem. Um dos garotos ficou olhando para ele, curioso.

― Você está bem? ― perguntou o garoto.

― Não ― respondeu Arthur.

― Então por que você está com um osso em sua barba? ― disse o garoto.

― Estou treinando-o para se sentir bem em qualquer lugar.

― Arthur ficou orgulhoso por ter dito aquilo. Em sua visão, era exatamente o tipo de coisa que iria entreter e estimular a mente de um jovem.

― Ah ― respondeu o garoto, cocando a cabeça enquanto pensava sobre aquilo. ―

Qual o seu nome?

― Dent ― disse Arthur ―, Arthur Dent.

― Você é um idiota, Dent ― disse o garoto ―, um bundão completo. ― Depois olhou para o lado, demonstrando que não estava minimamente preocupado em fugir e finalmente saiu andando, cocando o nariz. Arthur lembrou-se de que a Terra seria demolida novamente dentro de dois dias e, pelo menos uma vez, isso não fez com que se sentisse mal. A partida recomeçou com uma nova bola, o sol continuava brilhando e Ford continuava pulando para cima e para baixo, sacudindo a cabeça e piscando.

― Você está preocupado com alguma coisa, não é? – disse Arthur.

― Acho ― respondeu Ford, em um tom de voz que Arthur já tinha aprendido a reconhecer como algo que precede alguma outra coisa completamente incompreensível ―

que tem um POP ali.

Apontou. Curiosamente, a direção para a qual ele apontou não era para onde estava olhando. Arthur olhou para aquele lado, próximo aos outdoors, e para o outro lado, na direção do campo. Ele assentiu e deu de ombros. Deu de ombros de novo.

― Um o quê? ― perguntou.

― Um POP. –Um P...?

― ...OP.

― E isso seria?

― Um Problema de Outra Pessoa.

― Ah, que bom ― disse Arthur, relaxando. Não tinha idéia do que se tratava, mas o assunto parecia ter terminado. Não tinha.

― Lá ― disse Ford, apontando novamente para os gigantescos outdoors e olhando para o campo.

― Onde?

-Ali! ― disse Ford.

― Estou vendo ― disse Arthur, que não estava.

― Está? ― disse Ford.

― O quê? ― disse Arthur.

― Você está vendo ― disse Ford, pacientemente ― o POP?

― Achei que você tinha dito que isso era problema de outra pessoa.

― Exato.

Arthur assentiu lentamente, cuidadosamente e com uma cara de total imbecilidade.

― E quero saber ― disse Ford ― se você consegue vê-lo.

15

― Quer mesmo?

― Sim.

― Com o que ― disse Arthur ― ele se parece?

― E como diabos vou saber, seu burro? ― gritou Ford. ― Se você consegue vê-lo, você é quem tem que me dizer.

Arthur sentiu aquela estranha pulsação atrás das têmporas que era uma marca registrada de muitas de suas conversas com Ford. Sua mente se escondia como um cãozinho assustado no canil. Ford agarrou-o pelo braço.

― Um POP é alguma coisa que não podemos ver, ou não vemos, ou nosso cérebro não nos deixa ver porque pensamos que é um problema de outra pessoa. É isso que POP quer dizer: Problema de Outra Pessoa. O cérebro simplesmente o apaga, como um ponto cego. Se você olhar diretamente para ele, não verá nada, a menos que saiba exatamente o que é. A única chance é conseguir ver algo olhando de soslaio.

― Ah ― disse Arthur ―, então é por isso que...

― Sim ― disse Ford, que sabia o que Arthur iria dizer.

― ...você estava pulando para cima e...

― Sim.

― ...para baixo e piscando...

― Sim.

― ...e...

― Acho que você captou a mensagem.

Eu posso vê-la ― disse Arthur. ― É uma espaçonave. Arthur ficou momentaneamente atordoado pela reação que esta revelação havia provocado. Um ruído veio da multidão estava em completo tumulto. Pessoas corriam em todas as direções, gritando, berrando e tropeçando umas nas outras em completo caos. Deu um passo para trás e olhou em volta espantado. Depois olhou novamente em volta, ainda mais espantado.

― Emocionante, não? ― disse uma aparição. A aparição tremeu diante dos olhos de Arthur, embora, na prática, provavelmente fossem os olhos de Arthur que estavam tremendo diante da aparição. Sua boca também tremeu.

― O... o... o... o... ― disse sua boca.

― Acho que seu time acaba de ganhar ― disse a aparição.

― O... o... o... o... ― repetiu Arthur, pontuando cada tremelique com uma cutucada nas costas de Ford Prefect. Ford observava o tumulto, apreensivo.

― Você é inglês, não é? ― disse a aparição.

― S... s... s... s... sim ― disse Arthur.

― Como eu disse, seu time acaba de ganhar a partida. Isto significa que eles ficam com as Cinzas. Você deve estar muito feliz. Devo dizer que sou particularmente apaixonado pelo críquete, embora prefira que ninguém de outro planeta me ouça dizendo isto. É, realmente não seria nada bom.

A aparição deu o que poderia ter sido um sorriso travesso, mas era difícil dizer ao certo porque o sol estava batendo por trás, criando uma aura ofuscante ao redor de sua cabeça e iluminando seus cabelos e barba grisalhos de uma forma impressionante, dramática e muito difícil de conciliar com sorrisos travessos.

― Mesmo assim ― prosseguiu ― tudo estará acabado dentro de dois dias, não é?

Apesar de que, como lhe disse da última vez em que nos encontramos, eu sinto muitíssimo por isso. Bem, aquilo que tiver que ter sido terá sido.

Arthur tentou falar, mas desistiu da luta desigual. Cutucou Ford novamente.

― Achei que algo terrível houvesse acontecido ― disse Ford ― mas era apenas o final da partida. Temos que sair. Ah, oi, Slartibartfast, o que você está fazendo por aqui?

16

― Apenas dando uma volta, você sabe ― disse o velho, seriamente.

― Aquela nave é sua? Você poderia nos dar uma carona até algum lugar?

― Paciência, paciência ― retrucou o velho.

― Tudo bem ― disse Ford. ― É só porque este planeta será demolido em pouco tempo.

― Eu sei ― respondeu Slartibartfast.

― Então, pois é, eu só queria que isto ficasse claro ― disse Ford.

― Está claro.

― E se você acha que realmente é uma boa idéia, a essa altura, ficar perambulando por um campo de críquete...

― Acho.

― A nave é sua, claro.

― De fato.

― Suponho que sim ― disse Ford, depois virou-se bruscamente.

― Alô, Slartibartfast ― disse Arthur, finalmente.

― Alô, terráqueo ― respondeu Slartibartfast.