AS AREIAS DO TEMPO
Escrito por Sidney Sheldon, em 1989,
10ª EDIÇÃO
A Espanha, com suas paixões ardentes, ainda dilacerada pelos ódios da sangrenta Guerra Civil, é o cenário deste novo e inesquecível romance de Sidney Sheldon, o autor mais lido no mundo. A história se passa logo depois da morte de Francisco Franco, o ditador que governou o país com mãos de ferro por quase quarenta anos.
Em 1976, o carismático e idealista líder do proscrito movimento separatista basco, Jaime Miró, liberta da cadeia em Pamplona dois companheiros condenados à morte e foge, perseguido pela polícia e pelo exército.
O cruel e vingativo Ramón Acoca, no comando da implacável perseguição, desconfia de que os bascos estão refugiados num convento cisterciense nos arredores de Ávila e resolve invadi-lo. Essa decisão desencadeia acontecimentos que vão repercutir-se e emocionar as pessoas do mundo inteiro, que por duas semanas acompanharão atentas a uma terrível caçada humana.
Na pungente beleza da região rural espanhola, o convento repousa, em eterna devoção a Deus. Mas mesmo aí os conflitos do mundo eclodem. As freiras desta ordem, uma das mais rigorosas do mundo, obrigadas ao silêncio total e à reclusão absoluta, subitamente expulsas do ambiente aconchegante e seguro do convento, são brutalizadas e levadas para Madrid, presas. Mas quatro conseguem escapar e, arremessadas no perigo e na aventura, vêem-se presas de paixões proibidas a que não podem ceder mas não ousam negar.
Irmã Teresa, a mais velha, com sessenta e poucos anos, estava no convento há trinta anos, fugindo do destino implacável que lhe concedera uma voz maravilhosa e um rosto feio, uma linda irmã e a desilusão com o único homem que amou em toda a sua vida.
Irmã Lucia, ardorosa beleza siciliana, estava há poucos meses no convento, um refúgio de uma vida sobressaltada e nebulosa, envolvida com a Máfia e procurada em toda a Europa por dois assassinatos. Rubio Arzano, o fiel guerreiro, arrisca a vida para salvá-la, mesmo sabendo que nunca poderá possuí-la.
Irmã Graciela é uma linda jovem que entrou para o convento ainda adolescente, angustiada e desesperada, sem jamais ter conhecido um momento sequer de paz e amor, o que vai encontrar entre as freiras cistercienses. É o bravo Ricardo Melhado, que renunciou à sua herança para lutar pela causa em que acredita, quem deseja desesperadamente casar com essa irresistível beldade espanhola.
Irmã Megan é loura, de um tipo que não parece espanhol, abandonada ainda bebê na casa de um camponês nos arredores de Ávila, criada num orfanato; entrou para o convento porque não tinha para onde ir, mas vive torturada pela ansiedade em descobrir quem é, que foram seus pais, por que a abandonaram.
As Areias do Tempo é uma aventura inesquecível, que combina ação constante e atrações irresistíveis, com um suspense excepcional, as descobertas se sucedendo a todo o instante, no ritmo vertiginoso e fascinante que só o autor extraordinário como Sidney Sheldon é capaz de oferecer.
Sidney Sheldon é o autor de O Outro Lado da Meia-Noite, Um Estranho no Espelho, A Outra Face, A Herdeira, A Ira dos Anjos, Se Houver Amanhã e Um Capricho dos Deuses, todos bestsellers internacionais. A Outra Face foi aclamado pelo New York Times como "o melhor romance de mistério do ano". Sheldon ganhou um Prémio Tony pela peça da Broadway Redhead e um Oscar por The Bachelor and the Bobby Soxer. Escreveu roteiros de vários filmes e criou quatro séries de longa duração para a televisão, incluive Hart to Hart (Casal Vinte, no Brasil) e I Dream of Jeannie (Jeannie É um Gênio), que produziu e dirigiu. Sidney Sheldon vive no Sul da Califórnia e admite ser fanático pelo trabalho. "Não posso evitar", diz ele. "Adoro escrever".
Seus romances, inclusive o mais recente, Um Capricho dos Deuses, foram todos primeiros lugares nas listas de bestellers, e alguns foram transformados em minesséries de grande sucesso para a TV.
AGRADECIMENTO
Meus agradecimentos especiais a Alice Fischer, cuja ajuda na pesquisa para este romance foi inestimável.
MENSAGENS
As vidas de todos os grandes homens lembram
Que podemos tornar nossas vidas sublimes,
E, ao partirmos, deixar para trás
Pegadas nas Areias do Tempo
Henry Woodsworth Longfellow
Um Salmo da Vida
Os mortos não precisam levantar. São uma parte da terra agora, e a terra nunca pode ser conquistada, sobreviverá a todos os sistemas de tirania.
Aqueles que nela entraram de maneira honrada - e não houve homens que entraram mais honrosamente do que os que morreram na Espanha - já alcançaram a imortalidade.
Ernest Hemingway
A Espanha dilacerou a terra com unhas,
Quando Paris era mais bela.
A Espanha projetou sua vasta árvore de sangue,
Quando Londres cuidava de seu jardim e seu lago de cisnes.
Pablo Neruda
Nota do Autor
Esta é uma obra de fição. E, no entanto…
A terra romântica do flamenco e Dom Quixote, de señoritas de aparências exóticas, com travessas de casco de tartaruga nos cabelos, é também a terra de Torquemada, da Inquisição espanhola e de uma das mais sangrentas guerras civis da história. Mais de meio milhão de pessoas morreram nas batalhas pelo poder entre os republicanos e os rebeldes nacionalistas da Espanha. Em 1939, entre Fevereiro e Junho, foram cometidos 269 assassinatos políticos, e os nacionalistas executaram, em média, mil republicanos por mês, sem permissão para o lamento.
Foram incendiadas e destruídas 160 igrejas, e freiras foram arrancadas à força de conventos, "como se fossem prostitutas num bordel", escreveu o duque de Saint-Simon, a respeito de um conflito anterior entre o governo espanhol e a igreja. Sedes de jornais foram saqueadas, e greves e motins tornaram-se endémicos em todo o país. A guerra civil terminou com a vitória dos nacionalistas, sob o comando de Franco; depois da sua morte, a Espanha tornou-se uma monarquia.
A Guerra Civil, que se prolongou de 1936 a 1939, pode estar oficialmente encerrada, mas as duas Espanhas que lutaram nunca se reconciliaram. Hoje, outra guerra continua a assolar a Espanha, a guerra de guerrilha travada pelos bascos para recuperarem a autonomia que tinham sob a República e perderam com o regime de Franco. A guerra está sendo travada com atentados a bomba, assaltos a bancos para financiar os atentados, assassinatos e distúrbios.
Quando um membro da ETA, um grupo guerrilheiro basco clandestino, morreu num hospital de Madrid, após ser torturado pela polícia, os distúrbios subsequentes em todo o país levaram à demissão do diretor-geral da polícia espanhola, cinco chefes de segurança e duzentos altos funcionários policiais.
Em 1986, em Barcelona, os bascos queimaram a bandeira espanhola em público; em Pamplona, milhares de pessoas fugiram apavoradas quando nacionalistas bascos entraram em conflito com a polícia, numa sucessão de motins que se espalhava por toda a Espanha e ameaçaram a estabilidade do governo. A polícia paramilitar retaliou com a maior violência, disparando a esmo contra casas e lojas de bascos. O terrorismo continua, e é mais violento que nunca.
Esta é uma obra de fição. E, no entanto…
Capítulo 1
PAMPLONA, ESPANHA 1976
Se o plano falhar, todos nós morreremos. Ele repassou-o mentalmente pela última vez, sonhando, avaliando, à procura de defeitos. Não encontrou nenhum. O plano era usado e exigia um cálculo do tempo cuidadoso, em frações de segundos. Se desse certo, seria um feito espetacular, digno de El Cid. Se falhasse…
"Bom, o tempo de se preocupar já passou", pensou Jaime Miró. "É tempo de ação".
Jaime Miró era um mito, um herói para o povo basco e anátema para o governo espanhol. Tinha mais de um metro e oitenta de altura, rosto forte e inteligente, corpo musculoso e olhos escuros taciturnos. Testemunhas tendiam a descrevê-lo como mais alto do que era, mais moreno do que era, mais impetuoso do que era.