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Chegaram a um platô na montanha Guadarrama e avançaram por uma estrada esburacada, margeada por muretas de pedra.

Passaram, por campos com ovelhas e cabras. Ao nascer do sol, já haviam percorrido vários quilômetros e se encontravam num bosque, nos arredores da pequena aldeia de Villacastín.

"Vou deixá-las aqui", decidiu Lucia. "Seu Deus pode cuidar delas agora. Sem dúvida, Ele cuidou muito bem de mim", pensou, amargurada. "A Suíça está mais longe do que nunca. Não tenho dinheiro nem passaporte, estou vestida como um agente funerário. A esta altura, aqueles homens já sabem que escapamos. Ficarão à nossa procura até nos encontrarem. Quanto mais cedo eu sair daqui sozinha, melhor."

Mas nesse instante aconteceu uma coisa que a levou a mudar de planos.

Irmã Teresa avançava entre as árvores quando tropeçou e o embrulho que guardava com tanto cuidado caiu na terra. A lona se abriu, e Lucia descobriu-se a olhar para uma cruz de ouro, grande, lavrada com requinte, faiscando aos raios do sol nascente.

"É ouro de verdade", pensou. "Alguém lá em cima está mesmo cuidando de mim. Aquela cruz é um maná. Um autêntico maná. A minha passagem para a Suíça."

Lucia observou irmã Teresa pegar a cruz e tornar a enrolar a lona, com todo cuidado. Sorriu satisfeita. Seria fácil tomá-la.

As freiras fariam qualquer coisa que ela mandasse.

A cidade de Ávila estava em alvoroço. As notícias do ataque ao convento haviam se espalhado depressa, e o padre Berrendo foi escolhido para uma confrontação com o coronel Acoca. O padre tinha mais de setenta anos, com uma fragilidade exterior que não condizia com a força interior. Era um pastor afetuoso e compreensivo para com seus paroquianos. Naquele momento, porém, sentia uma fúria incontrolável.

O coronel Acoca deixou-o à espera por uma hora, depois permitiu que o levassem até sua sala.

Padre Berrendo foi logo dizendo, sem qualquer preâmbulo:

- Você e seus homens atacaram um convento sem a menor provocação. Foi um ato de loucura.

- Procuramos apenas cumprir o nosso dever - retrucou o coronel, num tom ríspido. - O convento abrigava Jaime Miró e seu bando de assassinos. Com isso, as próprias irmãs foram responsáveis pelo que aconteceu. Estão detidas para interrogatório.

- O senhor encontrou Jaime Miró no convento? - perguntou o padre, irritado.

O coronel Acoca respondeu suavemente:

- Não. Ele e seus homens escaparam antes da nossa chegada. Mas vamos encontrá-lo, e se fará justiça.

"A minha justiça", pensou o coronel Acoca, selvagemente.

Capítulo 5

As freiras avançavam devagar, com seus trajes inadequados para o terreno acidentado. As sandálias eram finas demais para proteger-lhes os pés contra o terreno pedregoso, e os hábitos ficavam presos a tudo. Irmã Teresa descobriu que nem sequer podia dizer o seu rosário. Precisava das duas mãos para evitar que os galhos lhe batessem no rosto.

À luz do dia, a liberdade parecia ainda mais aterradora do que antes. Deus expulsara as irmãs do Éden para um mundo estranho e assustador, retirando Sua orientação, em que elas haviam se apoiado por tanto tempo. Descobriram-se num território inexplorado, sem mapas e sem bússola. Os muros que as protegeram do mal por tantos anos haviam desaparecido, e sentiam-se desprotegidas e expostas. O perigo rondava por toda a parte, e não mais dispunham de um refúgio.

Eram alienígenas. As vistas e sons eram fascinantes. Havia o zumbido dos insetos e o canto dos pássaros, o céu muito azul, tudo investindo contra seus sentidos. E havia algo mais que era desconcertante.

Ao fugirem do convento, Teresa, Graciela e Megan evitaram com todo o cuidado olhar uma para a outra, atendo-se instintivamente às regras. Agora, no entanto, cada uma se descobria a estudar avidamente os rostos das outras. Além disso, após tantos anos de silêncio, encontravam dificuldades para falar; e quando falavam, as palavras eram hesitantes, como se isso fosse novo e desconhecido. Suas vozes soavam estranhas nos próprios ouvidos. Apenas Lucia parecia desinibida e segura, e as outras se submeteram automaticamente à sua liderança.

- É melhor nos apresentarmos. Sou a irmã Lucia - apresentou-se ela.

- Sou a irmã Graciela.

"A de cabelos escuros, beleza excepcional."

- Sou a irmã Megan.

"A jovem loura, com olhos azuis deslumbrantes."

- Sou a irmã Teresa.

"A mais velha do grupo. Cinquenta anos? Sessenta?"

Enquanto paravam no bosque para descansar, perto da aldeia, Lucia pensou: "Elas são como aves recém-nascidas, caídas dos ninhos. Não durariam cinco minutos sozinhas. Ora, azar delas. Vou partir para a Suíça com a cruz."

Lucia foi até à beira da clareira em que se encontravam e olhou através das árvores para a pequena aldeia lá em baixo.

Poucas pessoas andavam na rua, mas não havia sinal dos homens que invadiram o convento. "Agora", pensou Lucia. "Esta é a minha oportunidade." Ela virou-se para as outras.

- Vou descer até a aldeia para tentar arrumar comida. Esperem aqui. - Acenou com a cabeça para irmã Teresa. - Venha comigo.

Irmã Teresa ficou confusa. Durante trinta anos obedecera apenas às ordens da reverenda madre Betina, e agora, subitamente, aquela irmã assumira o comando. "Mas o que está acontecendo é a vontade de Deus", pensou. "Ele escolheu-a para nos guiar e assim ela fala com Sua voz."

- Devo levar esta cruz para o convento em Mendavia o mais depressa possível.

- Está bem. Quando chegarmos lá embaixo, pediremos para nos informarem o caminho.

As duas começaram a descer a encosta para a aldeia, Lucia atenta a qualquer perspectiva de problema. Não havia nenhuma.

"Vai ser muito fácil", pensou ela. Chegaram aos arredores da aldeia. Uma placa informava: VILLACASTÌN. À frente ficava a rua principal. À esquerda, uma rua pequena e deserta.

Ótimo, pensou Lucia. Não havia ninguém para testemunhar o que estava prestes a acontecer. Ela entrou pela rua secundária.

- Vamos por aqui. Haverá menos possibilidade de alguém nos ver.

Irmã Teresa balançou a cabeça e seguiu-a, obediente. A questão agora era como lhe tirar a cruz.

"Eu poderia agarrar a cruz e correr", pensou Lucia, "mas ela provavelmente gritaria e atrairia muita atenção. É melhor dar um jeito para que fique quieta."

Um pequeno galho de uma árvore estava caído no chão, à sua frente. Lucia parou, inclinou-se para pegá-lo. Era pesado.

"Perfeito." Esperou que irmã Teresa a alcançasse.

- Irmã Teresa…

A freira virou-se para fitá-la. No momento em que Lucia começava a levantar o porrete, uma voz de homem disse, surgindo do nada.

- Deus esteja com vocês, irmãs.

Lucia virou-se, pronta para correr. Um homem se encontrava parado ali, usando um hábito marrom comprido e capuz de frade.

Era alto e magro, rosto aquilino, a expressão mais santa que Lucia já vira. Os olhos pareciam luzir com uma quente luz interior, a voz era suave e gentil.

- Sou o frei Miguel Carrillo.

A mente de Lucia estava em disparada. Seu primeiro plano fora interrompido. Mas agora, subitamente, tinha outro melhor.

- Graças a Deus que nos encontrou - murmurou.

Aquele homem seria sua garantia de fuga. Saberia o meio mais fácil de deixar a Espanha.

- Viemos do convento Cisterciense perto de Ávila - explicou Lucia. - Ontem à noite ele foi invadido por alguns homens. As freiras foram levadas. Mas nós e outras duas conseguimos escapar.

Quando o frade respondeu, a voz estava impregnada de raiva:

- Venho do mosteiro de San Generro, onde estive durante os últimos vinte anos. Fomos atacados anteontem - suspirou. - Sei que Deus tem algum desígnio para todos os seus filhos, mas devo confessar que no momento não compreendo qual possa ser.