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- Esses homens estão à nossa procura - disse Lucia. - É importante que saiamos da Espanha tão depressa quanto possível. Sabe como se pode fazer?

Frei Carrillo sorriu gentilmente.

- Acho que posso ajudá-las, irmã. Deus nos reuniu. Leve-me para o lugar em que estão as outras.

Em poucos minutos Lucia levou o frade para o bosque e anunciou:

- Este é o frei Carrillo. Ele passou os últimos vinte anos num mosteiro. Veio para nos ajudar.

As reações ao frade foram diferentes. Graciela não ousou fitá-lo diretamente, Megan estudou-o com olhares rápidos e interessados, e Irmã Teresa considerou-o como um mensageiro enviado por Deus para levá-las ao convento em Mendavia.

Frei Carrillo disse:

- Os homens que atacaram o convento estão sem dúvida à procura de vocês. Mas ficarão atentos a quatro freiras. A primeira coisa que devem fazer é trocar de roupa.

- Não temos outras roupas - lembrou Megan.

Frei Carrillo deu-lhe um sorriso beatífico.

- Nosso Senhor tem um vasto guarda-roupas. Não se preocupe, minha criança. Ele nos proverá. Vamos para a aldeia.

Eram duas horas da tarde, o momento da siesta, e frei Carrillo e as quatro freiras desceram pela rua principal da aldeia, alertas a qualquer sinal dos perseguidores.

As lojas estavam fechadas, mas os restaurantes e bares se encontravam abertos, e deles saía uma música estranha, estridente e dissonante. Frei Carrillo percebeu a expressão espantada no rosto de irmã Teresa e explicou:

- Isso é rock and roll. Uma música bem popular entre os jovens hoje em dia.

Duas moças estavam paradas na frente de um bar e ficaram olhando para as freiras, que também olharam, aturdidas com suas estranhas roupas. Uma delas usava uma saia tão curta que mal cobria as coxas, a outra estava com uma saia mais comprida, só que aberta nos lados. As duas usavam blusas de tricot muito justas sem mangas.

"É como se estivessem quase nuas", pensou irmã Teresa, horrorizada.

Um homem estava na porta, com um suéter de gola rolê, um casaco de aparência estranha, sem gola, e um pendente de brilhante no pescoço.

Cheiros estranhos receberam as freiras quando passaram por uma bodega. Nicotina e uísqui.

Megan olhava fixamente para alguma coisa no outro lado da rua. Ela parou.

- O que houve? Qual é o problema? - perguntou frei Carrillo.

Ele virou-se para olhar. Megan observava uma mulher carregando um bebê. Quantos anos haviam passado desde a última vez em que vira um bebê ou mesmo uma criança pequena? Desde o orfanato, há 14 anos. O choque súbito fez com que Megan compreendesse o quanto sua vida estivera distante do mundo exterior.

Irmã Teresa também olhava para o bebê, mas pensava em outra coisa. "É o bebê de Monique." A criança no outro lado da rua começou a gritar. "Está chorando porque eu o abandonei. Mas não, isso é impossível. Aconteceu há trinta anos." Irmã Teresa virou-se, os gritos do bebê ressoando-lhe nos ouvidos. Eles seguiram em frente.

Passaram por um cinema. O cartaz na marquise anunciava:

"Três amantes", e as fotografias mostravam mulheres sumariamente vestidas, abraçando um homem com o peito nu.

- Ora, elas estão… estão quase nuas! - exclamou irmã Teresa.

Frei Carrillo franziu o rosto.

- Tem razão. É vergonhoso o que o cinema tem permissão para mostrar hoje em dia. Esses filmes são pura pornografia. Os atos mais pessoais e íntimos são apresentados, para todos verem. Transformam os filhos de Deus em animais.

Passaram por uma loja de ferragens, num salão de beleza, numa floricultura e numa loja de doces, todas fechadas para a siesta. As irmãs pararam diante de cada loja e olharam aturdidas as vitrines, cheias de objetos outrora familiares, agora mera recordação.

Ao se aproximarem de uma loja de roupas femininas, frei Carrillo disse:

- Parem.

As cortinas nas vitrines estavam arriadas, e um cartaz na porta avisava: FECHADA.

- Esperem aqui, por favor.

As quatro mulheres observaram, enquanto ele dobrava a esquina e desaparecia. Trocaram olhares, aturdidas. O que ele ia fazer? E se não voltasse? Poucos minutos depois elas ouviram o barulho da porta da frente sendo aberta. Frei Carrillo ali estava, com uma expressão radiante. Gesticulou para que entrassem.

- Depressa!

Depois que todas estavam dentro da loja, ele trancara a porta, Lucia perguntou:

- Como pôde…?

- Deus provê uma porta dos fundos, assim como a porta da frente - respondeu, solenemente.

Mas havia uma insinuação maliciosa em sua voz que fez Megan sorrir.

As irmãs correram os olhos pela loja, assustadas. Era uma cornucópia multicolorida de vestidos e suéteres, sutiãs e meias, sapatos de salto alto e chapéus. Artigos que não viam há anos.

E os estilos pareciam muito estranhos. Havia bolsas e charpes, estojos de maquilagem e blusas. Era coisa demais para absorver.

As freiras ficaram imóveis, atordoadas.

- Devemos nos apressar antes que a siesta acabe e a loja seja reaberta - advertiu frei Carrillo. - Sirvam-se. Escolham o que acharem melhor.

Lucia pensou: "Graças a Deus que posso outra vez me vestir como uma mulher." Ela encaminhou-se para um cabideiro com vestidos e começou a examiná-los. Encontrou uma saia beje com uma blusa de seda castanho-amarelada para acompanhá-la. "Não é belenciaga, mas servirá por enquanto." Apanhou também uma calcinha, um sutiã e um par de botas confortáveis. Foi para trás de um cabideiro, despiu-se e em poucos minutos estava pronta para partir.

As outras demoraram a escolher suas roupas.

Graciela pegou um vestido branco de algodão que ressaltava os cabelos escuros e a pele morena, além de um par de sandálias.

Megan pegou um vestido de algodão estampado que descia abaixo dos joelhos e sandálias de saltos baixos.

Irmã Teresa teve a maior dificuldade para escolher um traje.

A variedade de opções era desconcertante. Havia sedas e flanelas, tweeds e couro… algodão, sarja e veludo… vestidos axadrezados e listrados de todas as cores. E todos pareciam… "sumários", foi a palavra que lhe veio à mente. Durante os últimos trinta anos cobrira-se decentemente com os hábitos pesados de sua vocação. E agora lhe pediam que os removesse e pusesse aquelas criações indecentes. Acabou escolhendo a saia mais comprida que pôde encontrar e uma blusa de algodão, de mangas compridas e gola alta.

Frei Carrillo exortou-as:

- Depressa, irmãs. Troquem logo de roupa.

Elas se entreolharam, embaraçadas. Ele sorriu.

- Ficarei à espera no escritório, é claro. - Foi para os fundos da loja e entrou no escritório. As irmãs começaram a se despir, terrivelmente inibidas pela presença das outras.

No escritório, frei Carrillo puxara uma cadeira para a porta, subira nela, e olhava pela bandeira da porta, enquanto as irmãs se despiam. Estava pensando: "Qual delas vou comer primeiro?"

Miguel Carrillo iniciara sua carreira de ladrão quando tinha apenas dez anos. Nascera com cabelos louros encaracolados e um rosto angelical, o que se tornou de valor inestimável na carreira que escolheu. Começou de baixo, furtando bolsas e pequenos objetos em lojas. À medida que se tornou mais velho, expandiu sua carreira e começou a roubar bêbados e explorar mulheres ricas. Como era muito atraente, teve um enorme sucesso. Inventou vários golpes originais, cada um mais engenhoso do que o anterior.

Infelizmente, o último golpe foi sua desgraça.

Apresentou-se como frei de um mosteiro distante, Carrillo viajou de igreja em igreja, solicitando abrigo para a noite.

Era sempre atendido, e pela manhã, quando abria a porta da igreja, o padre descobria que todos os artefatos valiosos haviam desaparecido, junto com o bom frei.

Infelizmente, o destino o traiu. Duas noites antes, em Béjar, uma pequena cidade perto de Ávila, o padre voltou inesperadamente, e Miguel Carrillo foi surpreendido no ato de roubar o tesouro da igreja. O padre era corpulento e forte, derrubou Carrillo no chão e anunciou que ia entregá-lo à polícia.