Um pesado cálice de prata caíra no chão, Carrillo pegou-o e golpeou o padre. Ou o cálice era muito pesado ou o crânio do padre muito frágil, pois o homem morreu. Miguel Carrillo fugiu em pânico, ansioso em ficar o mais longe possível do local do crime.
Passou por Ávila e soube do ataque ao convento, desfechado pelo coronel Acoca e os seus agentes secretos do "GOE". E o destino quis que Carrillo se descobrisse no caminho das quatro freiras fugitivas.
Agora, ansioso na expectativa, estudou os corpos nus e pensou: "Há outra possibilidade interessante. Como o coronel Acoca e seus homens estão à procura das irmãs, deve haver uma boa recompensa por suas cabeças. Vou comê-las primeiro e depois entregá-las a Acoca." As mulheres, à exceção de Lucia, que já terminara de se vestir, estavam totalmente nuas. Carrillo observou-as vestirem desajeitadas as novas roupas de baixo. Mas logo se arrumaram, abotoando com alguma dificuldade os botões a que não estavam acostumadas, puxando os zíperes, querendo sair dali depressa, antes de serem descobertas.
Está na hora de entrar em ação, pensou Carrillo, feliz.
Desceu da cadeira e voltou à loja. Aproximou-se das mulheres, estudou-as com aprovação e disse:
- Excelente. Ninguém deste mundo pensaria que vocês são freiras. Gostaria de sugerir lenços para a cabeça.
Escolheu um lenço para cada uma e observou-as a ajeitá-los em suas cabeças.
Miguel Carrillo tomou sua decisão. Graciela seria a primeira. Era sem dúvida uma das mulheres mais bonitas que já vira.
"E que corpo! Como ela pôde desperdiçar tudo isso com Deus? Eu lhe ensinarei o que fazer com seus atributos."
Disse a Lucia, Teresa e Megan:
- Vocês devem estar com fome. Podem ir até ao café por onde passamos e nos esperar ali. Irei à igreja e pedirei algum dinheiro emprestado ao padre, para podermos comer. - Virou-se para Graciela. - Quero que venha comigo, irmã, para explicar ao padre o que aconteceu no convento.
- Eu… eu… está bem.
Carrillo acrescentou para as outras:
- Estaremos com vocês de novo dentro de pouco tempo. Sugiro que saiam pela porta dos fundos. - Observou Lucia, Teresa e Megan saírem. Depois que ouviu a porta dos fundos fechar, virou-se para Graciela. "Ela é fantástica", pensou. "Talvez eu a mantenha comigo, usando-a em alguns golpes. Ela pode se tornar uma grande ajuda." Graciela olhava para ele.
- Estou pronta.
- Ainda não. - Carrillo fingiu estudá-la um momento. - Não, acho que não vai dar. Esta roupa está errada em você. Tire-a.
- Mas… por quê?
- Não combina com você. As pessoas ficarão olhando, e não quer atrair muita atenção.- Ela hesitou, depois foi para trás do cabideiro. - Ande depressa. Não dispomos de muito tempo.
Contrafeita, Graciela tirou o vestido pela cabeça. Estava de calcinha e sutiã quando Carrillo surgiu subitamente.
- Tire tudo. - A voz dele era rouca.
Graciela fitou-o atordoada.
- Como? Não! - Ela estava gritando. - Eu… não… posso… por favor…
Carrillo chegou mais perto.
- Eu a ajudarei, irmã. - Estendeu as mãos, arrancou o sutiã, rasgou a calcinha.
- Não! - berrou Graciela. - Não deve fazer isso! Pare!
Carrillo sorriu.
- Carita, estamos apenas no começo. Garanto que vai adorar. - Seus braços fortes envolveram-na. Forçou-a para o chão e levantou o hábito.
Foi como se uma cortina na mente de Graciela se abrisse de repente. Era o mouro tentando entrar nela, dilacerando suas profundezas, os gritos estridentes da mãe. E Graciela pensou, apavorada: "Não, não outra vez. Não, por favor… não outra vez…"
Ela se debatia agora, desesperada, lutando contra Carrilo, na tentativa de se levantar.
- Mas que droga! - exclamou Carrillo.
Bateu com o punho no rosto de Graciela, e ela caiu para trás, atordoada, tonta.
Descobriu-se a retroceder no tempo.
De volta… de volta…
Capítulo 6
LAS NAVAS DE MARQUÉS, ESPANHA 1950
Graciela tinha cinco anos de idade. Suas lembranças mais antigas eram de uma procissão de homens nus entrando e saindo da cama de sua mãe. A mãe explicou:
- Eles são seus tios. Deve mostrar respeito.
Os homens eram rudes e grosseiros, careciam de afeição.
Ficavam por uma noite, uma semana, um mês, depois desapareciam.
Quando partiam, Dolores Pinero procurava imediatamente por um novo homem.
Na juventude, Dolores Pinero fora uma beldade, e Graciela herdara a aparência da mãe. Mesmo quando criança, Graciela era fascinante, com malares salientes, pele azeitonada, cabelos pretos lustrosos, pestanas densas e compridas. O corpo jovem encerrava muitas promessas.
Com a passagem dos anos, o corpo de Dolores Pinero fora dominado pela gordura, e o rosto maravilhoso marcado pelos golpes amargos do tempo. Embora não fosse mais bonita, ela era acessível e possuía a reputação de ser uma ardorosa parceira na cama. Fazer amor era o seu único talento, e ela o empregava para agradar aos homens, na esperança de mantê-los, tentar comprar o amor com seu corpo. Ganhava a vida mal como costureira, porque era indiferente a seu ofício e só contratada pelas mulheres da aldeia que não tinham condições de pagar às melhores.
Dolores Pinero desprezava a filha, pois era uma lembrança constante do único homem que ela já amara. O pai de Graciela era um mecânico, jovem e bonito, que cortejava a bela e jovem Dolores. Ansiosa, ela se deixara seduzir. Quando anunciara que estava grávida, ele desaparecera, deixando Dolores com a maldição de sua semente.
Dolores tinha um temperamento explosivo e desforrou-se na criança. Sempre que Graciela fazia alguma coisa que a desagradava, a mãe a espancava e gritava:
- Você é tão estúpida quanto seu pai!
Não havia a menor possibilidade da criança escapar à sua sessão de golpes ou gritos constantes. Graciela rezava todas as manhãs, ao despertar: "Por favor, Deus, não deixe que mamãe me bata hoje." Ou: "Por favor, Deus, faça mamãe feliz hoje." Ou: "Por favor, Deus, faça com que mamãe diga que me ama hoje."
Quando não estava atacando Graciela, a mãe a ignorava.
Graciela preparava as próprias refeições e cuidava de suas roupas. Fazia o lanche que levava para a escola e dizia à professora:
- Minha mãe fez empanadas hoje. Ela sabe que eu gosto muito de empanadas.
Ou:
- Rasguei o vestido, mas minha mãe costurou para mim. Ela adora fazer as coisas para mim.
Ou:
- Minha mãe e eu vamos ao cinema amanhã.
E isso partia o coração da professora. Las Navas del Marqués é uma pequena aldeia, a uma hora de Ávila. Como todas as aldeias, por toda a parte, todo o mundo sabia da vida de todo o mundo.
O estilo de vida de Dolores Pinero era uma desgraça e refletia sobre Graciela. As outras mães não deixavam que suas filhas brincassem com ela, para que sua moral não fosse abalada.
Graciela frequentava a escola na Plazoleta del Cristo, mas não tinha amigas, nem companheiras de brincadeiras. Era uma das alunas mais inteligentes da escola, mas as notas eram péssimas.
Não conseguia se concentrar, pois estava sempre cansada.
A professora a advertia:
- Deve deitar mais cedo, Graciela, para estar bem descansada para fazer seus deveres direito.
Mas a exaustão nada tinha haver com deitar tarde. Graciela e a mãe partilhavam uma casa pequena de dois cômodos. A menina dormia num sofá na sala mínima, com apenas uma cortina fina e surrada a separá-la do quarto. Como Graciela podia falar à professora sobre os sons obscenos que a despertavam à noite e a mantinham acordada, enquanto a mãe fazia amor com qualquer estranho que por acaso estivesse em sua cama?
Quando Graciela levava o boletim para casa, a mãe sempre gritava:
- Estas são as notas que eu já esperava! E sabe por que tira essas notas péssimas? Porque você é estúpida! Muito estúpida!