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O guarda gesticulou para que ele entrasse. Patas avançou, na maior expectativa. Estacou abruptamente, espantado.

- Lucia! Santo Deus, o que está fazendo aqui? Como conseguiu entrar?

Ela respondeu suavemente:

- Informei-os que estávamos noivos, Benito. - Usava um vestido de seda vermelho que aderia às curvas do corpo, com um decote ousado.

Benito Patas recuou.

- Saia!

- Como quiser. Mas há uma coisa que deve ouvir primeiro. Quando o vi sentado no banco de testemunhas e falar contra meu pai e meus irmãos, eu o odiei. Queria matá-lo. - Ela chegou mais perto. - Mas depois compreendi que sua atitude era um ato de bravura. Ousou se levantar e dizer a verdade. Meu pai e meus irmãos não eram maus, mas fizeram coisas horríveis, e você foi o único forte o suficiente para enfrentá-los.

- Acredite em mim, Lucia, a polícia me forçou…

- Não precisa explicar. Não para mim. Lembra da primeira vez em que fizemos amor? Compreendi então que estava apaixonada por você, e sempre estaria.

- Lucia, eu nunca teria feito o que…

- Querido, acho que nós dois devemos esquecer o que aconteceu. Está feito. Agora, o que importa somos eu e você. - Lucia estava bem perto agora.

Ela estava agora bem próximo, e ele podia sentir seu perfume inebriante. Sua mente se encontrava na maior confusão.

- Você… fala sério?

- Mais sério do que qualquer outra coisa que já fiz na vida. Por isso é que vim aqui hoje, para provar a você. Para mostrar que sou sua. E não apenas com palavras. - Seus dedos subiram para as alças do vestido, que um instante depois estava no chão.

Lucia se encontrava nua por baixo.

- Acredita em mim agora?

Por Deus, ela era linda!

- Acredito. - A voz de Benito era rouca.

Lucia adiantou-se, seu corpo roçou contra ele.

- Dispa-se - sussurrou ela. - Depressa! - Observou enquanto Patas tirava as roupas. Quando ficou nu, ele pegou sua mão e levou-a para a cama no canto da sala. Não perdeu tempo com preliminares. Num instante estava em cima dela, abriu-lhe as pernas e penetrando-a, com um sorriso arrogante.

- É como nos velhos tempos - disse, presunçoso. - Não pôde me esquecer, não é mesmo?

- Não - sussurrou Lucia em seu ouvido. - E quer saber por que não pude esquecer você?

- Quero, sim, mi amore.

- Por que sou uma siciliana, como meu pai.

Estendeu a mão para trás e tirou o alfinete comprido que lhe prendia os cabelos.

Benito Patas sentiu alguma coisa espetá-lo por baixo das costelas e a dor súbita fê-lo abrir a boca para gritar; mas a boca de Lucia grudada na sua beijando-o. Enquanto o corpo de Benito estrebuchava por cima dela, Lucia teve um orgasmo.

Poucos minutos depois estava vestida, o alfinete de volta nos cabelos. Benito se encontrava sob o cobertor, os olhos fechados. Lucia bateu na porta e sorriu para o guarda que a abriu, a fim de deixá-la sair.

- Ele está dormindo - sussurrou.

O guarda contemplou a bela moça e sorriu.

- Provavelmente esgotou-o.

- Espero que sim - disse Lucia.

A pura ousadia dos dois assassinatos teve a maior repercussão na Itália. A linda filha de um mafioso vingara o pai e os irmãos, e o excitável público italiano aclamou-a, torcendo por sua fuga. A polícia, como não podia deixar de ser, assumiu uma posição diferente. Lucia Carmine assassinara um respeitável juiz e depois cometera um segundo homicídio, dentro dos muros de uma prisão. A seus olhos, igual aos crimes era o fato de Lucia tê-los feito de idiotas. Os jornais estavam se divertindo à sua custa.

- Quero a cabeça dela! - bradou o comissário de polícia para o vice-comissário. - E quero hoje!

A caçada aumentou. O alvo de toda essa atenção se escondia na casa de Salvatore Giuseppe, um dos homens de seu pai que conseguira escapar à tempestade.

No começo o único pensamento de Lucia fora o de vingança a honra do pai e irmãos. Esperava ser capturada e se preparava para o sacrifício. Quando conseguiu sair da prisão, no entanto, seus pensamentos passaram da vingança para a sobrevivência. Agora que consumara o que planejara, a vida voltara subitamente a ser preciosa.

"Não deixarei que me peguem", jurou a si mesma. "Nunca."

Salvatore Giuseppe e a sua esposa fizeram o que podiam para disfarçar Lucia. Clarearam-lhe os cabelos, mancharam-lhe os dentes, compraram óculos e algumas roupas folgadas.

Salvatore estudou o resultado com olhos críticos.

- Não está mau - disse ele. - Mas também não é o suficiente. Precisamos tirá-la da Itália. Deve ir para algum lugar em que sua fotografia não esteja na primeira página de todos os jornais. Um lugar em que possa se esconder por alguns meses.

E Lucia lembrou-se:

"Se algum dia precisar de um amigo, pode confiar em Dominic Durell. Ele tem uma casa na França, em Béziers, perto da fronteira espanhola."

- Sei de um lugar para onde ir - anunciou ela. - Precisarei de um passaporte.

- Eu providenciarei.

Vinte e quatro horas depois, ela olhava para um passaporte com o nome de Lucia Roma, com uma fotografia em sua nova aparência.

- Para onde vai?

- Meu pai tem um amigo na França que me ajudará.

- Se quiser que eu a acompanhe até à fronteira… - ofereceu-se Salvatore.

Os dois sabiam que era perigoso.

- Não Salvatore. Já fez o suficiente por mim. Devo continuar sozinha.

Na manhã seguinte, Salvatore Giuseppe alugou um Fiat em nome de Lucia Roma e entregou-lhe as chaves.

- Tome cuidado - recomendou.

- Não se preocupe. Nasci sob uma estrela de sorte.

O pai não lhe dissera isso?

Na fronteira italiana-francesa os carros à espera avançavam devagar, numa fila comprida. Ao se aproximar da barreira de imigração, Lucia começou a ficar cada vez mais nervosa.

Estariam à sua procura em todos os pontos de saída do país. Se a pegassem, sabia que seria condenada à prisão perpétua. "Eu me matarei primeiro", pensou.

Chegou ao inspetor da imigração.

- Passaporte, signorina.

Lucia entregou o passaporte preto pela janela do carro.

Enquanto o pegava, o inspetor fitou-a, e Lucia reparou que uma expressão de perplexidade surgiu em seus olhos. O homem olhou do passaporte para seu rosto, novamente para o passaporte. Lucia sentiu que o corpo se contraía.

- Você é Lucia Carmine - disse ele.

Capítulo 9

- Não! - gritou Lucia. O sangue esvaiu-lhe do rosto. Ela olhou em redor à procura de um meio de escapar. Não havia nenhum. E subitamente, para sua incredulidade, o guarda sorria. Inclinou-se para ele e sussurrou:

- Seu pai foi bom para minha família, signorina. Pode passar. Boa sorte.

Lucia sentiu-se tonta de alívio.

- Grazie. - Pisou no acelerador e percorreu os 25 metros até a fronteira francesa.

O inspetor de imigração orgulhava-se de ser um conhecedor de belas mulheres, e aquela à sua frente não era certamente uma beldade. Tinha cabelos cor de rato, óculos de lentes grossas, dentes manchados, e vestia-se com desmazelo.

"Por que as italianas não podem parecer tão bonitas quanto as francesas?", pensou, repugnado. Carimbou o passaporte de Lucia e acenou para que ela passasse.

Lucia chegou a Béziers seis horas depois.

O telefone foi atendido ao primeiro toque da campainha, e surgiu uma voz suave de homem.

- Alô?

- Dominic Durell, por favor.

- Dominic Durell sou eu. Quem está falando?

- Lucia Carmine. Meu pai disse…

- Lucia! - A voz transbordava boas-vindas. - Eu esperava por notícias suas.

- Preciso de ajuda.

- Pode contar comigo.

Lucia sentiu-se reanimada. Era a primeira boa notícia que ouvia em muito tempo, e percebeu de repente como se sentia esgotada.