"Deu certo", pensou Monique, exultante. "Deu certo."
Foi o último programa de rádio de Teresa. Louis Bennet suplicou que voltasse, mas ela sentia-se muito magoada.
"Depois de olhar para minha irmã", pensou, "como alguém pode me querer? Sou muito feia."
Enquanto vivesse, jamais esqueceria a expressão de Jacques Raimu.
"A culpa é minha, por ter acalentado sonhos absurdos. Essa é a maneira de Deus me punir."
Depois disso, Teresa cantaria apenas na igreja e se tornaria ainda mais reclusa.
Durante os dez anos seguintes, a bela Monique recusou mais de uma dúzia de pedidos de casamento. Foi cortejada pelos filhos do prefeito, banqueiros, médicos e comerciantes da aldeia. Os pretendentes variavam de jovens recém-saídos da escola a homens maduros, bem-sucedidos, na casa dos quarenta e cinquenta anos.
E a todos Monique dizia "Non."
- O que está procurando? - perguntou-lhe o pai, desconcertado.
- Todos aqui são muito chatos, papai. Éze é um lugar sem a menor sofisticação. Meu príncipe encantado está em Paris.
E, assim, submisso, o pai mandou-a para Paris. Como um pensamento posterior, também enviou Teresa. As duas moças ficaram num pequeno hotel no Bois de Boulogne.
Cada irmã viu uma Paris diferente. Monique frequentava bailes de caridade e jantares elegantes, tomava chá com rapazes da nobreza. Teresa visitava Les Invalides e o Louvre. Monique ia às corridas em Longchamp e às festas de gala em Malmaison. Teresa ia à Catedral de Notre Dame para rezar, passeava pelo caminho arborizado do canal São Martin. Monique ia ao Maxim's e ao Moulin Rouge, enquanto Teresa andava pelos Quais, parando nas livrarias e florista, entrando na Basílica de São Denis. Teresa gostou de Paris, mas para Monique a viagem foi um fracasso.
Ao voltarem para casa, Monique disse:
- Não encontrei qualquer homem com quem quisesse casar.
- Não conheceu ninguém que a interessasse? - perguntou o pai.
- Não. Houve um rapaz que me levou para jantar no Maxim's. O pai é dono de minas de carvão.
- Como ele era? - indagou a mãe, ansiosa.
- Era rico, bonito, polido e me adorava.
- Ele pediu-a em casamento?
- A cada dez minutos. Finalmente me recusei a vê-lo de novo.
A mãe ficou espantada.
- Por quê?
- Porque ele só sabia falar sobre carvão: carvão betuminoso, carvão de pedra, carvão preto, carvão cinzento. Muito chato.
No ano seguinte, Monique decidiu que queria voltar a Paris.
- Vou arrumar minhas malas - disse Teresa.
Monique sacudiu a cabeça.
- Não. Desta vez acho que irei sozinha.
Assim, enquanto Monique ia a Paris, Teresa ficava em casa e frequentava a igreja todas as manhãs, rezando para que a irmã encontrasse um belo príncipe.
E um dia o milagre aconteceu. Um milagre porque foi com Teresa que aconteceu. Seu nome era Raul Giradot.
Ele foi à igreja de Teresa num domingo e ouviu-a cantar.
Nunca antes escutara nada parecido.
"Preciso conhecê-la", pensou.
No início da manhã de segunda-feira, Teresa foi ao armazém-geral da aldeia, para comprar tecido para um vestido que queria fazer. Raul Giradot trabalhava por trás do balcão.
Levantou os olhos quando Teresa entrou e seu rosto se iluminou.
- A voz!
Ela ficou embaraçada.
- Como… o que disse?
- Ouvi você cantar na igreja ontem. É magnífica.
Ele era alto e bonito, olhos escuros inteligentes e faiscantes, lábios atraentes e sensuais. Tinha trinta e poucos anos, um ou dois a mais do que Teresa.
Ela ficou tão atordoada por sua aparência que pôde apenas balbuciar. Fitou-o fixamente, o coração disparado.
- O-obrigada… eu… eu queria três metros de musselina, por favor.
Raul sorriu.
- Terei o maior prazer em atendê-la. Por aqui.
Subitamente, era difícil para Teresa concentrar-se na compra. Estava consciente demais da presença do rapaz, quase sufocando, consciente de sua beleza e charme, da aura viril que o cercava.
Depois que Teresa escolheu, enquanto Raul embrulhava o tecido, ela tomou coragem para perguntar:
- Você… é novo aqui, não é mesmo?
Ele olhou para ela e sorriu, e calafrios a percorreram.
- Oui. Cheguei em Éze há poucos dias. Minha tia é dona desta loja e precisava de ajuda, por isso resolvi passar algum tempo aqui.
"Quanto será algum tempo?", Teresa descobriu-se a especular.
- Deveria cantar profissionalmente - comentou Raul.
Ela lembrou a expressão de Raimu ao vê-la. Não, não se arriscaria a se expor publicamente outra vez.
- Obrigada - murmurou Teresa.
Ele ficou enternecido com o embaraço e timidez de Teresa e tentou puxar conversa.
- Nunca estive em Éze antes. É uma linda cidadezinha.
- É, sim.
- Nasceu aqui?
- Nasci.
- Gosta do lugar?
- Gosto.
Teresa pegou o embrulho e fugiu.
No dia seguinte ela arrumou um pretexto para voltar à loja. Passara metade da noite acordada, pensando no que diria a Raul.
"Estou contente que goste de Éze… Sabia que o mosteiro foi construído no século catorze… Já visitou Saint-Paul-de-Vence? Há uma capela ali… Gosto de Monte Carlo… e você? É maravilhoso saber que está perto daqui. Às vezes minha irmã e eu vamos de carro ao Grand Corniche e ao Teatro Fort Antoine. Por acaso você conhece? É um teatro grande, ao ar livre… Sabia que Nice já se chamou Nikaia? Oh, não sabia? Pois é verdade. Os gregos estiveram lá há muito tempo. Há um museu em Nice com as relíquias de homens das cavernas que lá viveram há milhares de anos. Não é interessante?"
Teresa estava preparada, com tudo que ia dizer guardado na cabeça. Infelizmente, no momento em que entrou na loja e avistou Raul, tudo fugiu-lhe da mente. Limitou-se a fitá-lo fixamente, incapaz de falar.
- Bonjour - disse Raul, jovialmente. - É um prazer tornar a vê-la, Mademoiselle De Fosse.
- Merci. - Teresa sentiu-se uma idiota. "Estou com trinta anos. E me comporto como uma colegial. Pare com isso."
Mas ela não podia parar.
- Em que posso servi-la?
- Eu… preciso de mais musselina.
O que era a última coisa de que ela precisava.
Ela observou Raul pegar a peça de tecido. Ele colocou-a no balcão e começou a medir.
- Quantos metros vai querer?
Teresa começou a responder dois metros, mas o que saiu foi outra coisa:
- Você é casado?
Ele fitou-a com um sorriso afetuoso.
- Não. Ainda não tive essa sorte.
"Pois vai ter", pensou Teresa. "Assim que Monique voltar de Paris."
Monique adoraria aquele homem. Eram perfeitos um para o outro. O pensamento da reação de Monique ao conhecer Raul encheu Teresa de felicidade. Seria maravilhoso ter Raul Giradot como cunhado.
No dia seguinte, quando Teresa passava pela loja, Raul avistou-a e saiu apressado.
- Boa tarde, mademoiselle. Eu ia tirar uma folga. Se está livre, não gostaria de tomar chá comigo?
- Eu… eu… está bem, obrigada.
Sentiu-se com a língua presa em sua presença, embora Raul não pudesse ser mais simpático. Fez tudo que podia para deixá-la à vontade, e logo Teresa se descobriu a contar àquele estranho coisas que nunca dissera a ninguém antes. Falaram de solidão.
- As multidões me deixam solitária - comentou Teresa. - Sempre me sinto como uma ilha num mar de pessoas.
Ele sorriu.
- Eu compreendo.
- Mas deve ter muitos amigos…
- Conhecidos. Afinal, será que alguém tem realmente amigos?
Era como se ela estivesse falando para uma imagem no espelho. O tempo passou depressa, e logo estava na hora de Raul voltar ao trabalho. Quando se levantaram, ele perguntou:
- Não quer almoçar comigo amanhã?
Ele estava apenas sendo gentil, é claro. Teresa sabia que nenhum homem poderia se sentir atraído por ela. Especialmente alguém tão maravilhoso como Raul Giradot. Tinha certeza que ele era gentil com todo mundo.