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- Eu gostaria muito - respondeu Teresa.

Ao se encontrarem no dia seguinte, Raul disse, com um entusiasmo infanticlass="underline"

- Consegui ficar de folga a tarde toda. Se não estiver muito ocupada, por que não vamos até Nice?

Seguiram pela Moyenne Corniche no carro de Raul, com a capota arriada, a cidade estendeu-se abaixo deles como um tapete mágico. Teresa recostou-se no assento e pensou: "Nunca me senti tão feliz." E depois, com um sentimento de culpa: "Estou feliz por Monique."

A irmã estava para voltar de Paris no dia seguinte. Raul seria o presente de Teresa para ela. Era bastante realista para saber que os Rauls do mundo não eram para ela. Já sofrera demais na vida, e há muito aprendera a distinguir o que era real ou não. O homem bonito ao seu lado, guiando o carro, era um sonho impossível que ela sequer podia se permitir.

Almoçaram no Le Chantecler, no Hotel Negresco, em Nice. Foi uma refeição magnífica, mas depois Teresa não se lembrou do que comeu. Tinham muitas coisas a dizer um para o outro. Ele era espirituoso e encantador, parecia achar Teresa interessante… realmente interessante. Perguntou sua opinião sobre muitas coisas e escutou com atenção as respostas. Concordaram sobre quase tudo.

Era como se fossem almas gêmeas. Se Teresa tinha algum pesar pelo que estava prestes a acontecer, tratou de expulsá-lo da mente, determinada.

- Gostaria de jantar no château amanhã? Minha irmã está voltando de Paris. Gostaria que a conhecesse.

- Eu teria o maior prazer, Teresa.

Quando Monique chegou em casa no dia seguinte, Teresa apressou-se em recebê-la na porta. Apesar de sua determinação, não pôde deixar de perguntar:

- Conheceu alguém interessante em Paris? - Prendeu a respiração, à espera da resposta da irmã.

- Os mesmos homens chatos de sempre - anunciou Monique.

Então Deus tomara a decisão final.

- Convidei alguém para jantar esta noite - anunciou Teresa. - Acho que vai gostar dele.

"Não devo nunca deixar que alguém saiba o quanto gosto dele", pensou Teresa.

Naquela noite, às sete e meia em ponto, o mordono levou Raul Giradot até a sala de estar, onde Teresa, Monique e os pais esperavam.

- Minha mãe e meu pai. Monsieur Raul Giradot.

- Muito prazer.

Teresa respirou fundo.

- E minha irmã, Monique.

- Como vai?

A expressão de Monique era polida, nada mais. Teresa olhou para Raul, esperando vê-lo atordoado pela beleza de Monique.

- Muito prazer.

Apenas cortês.

Teresa continuou imóvel, a respiração presa, à espera das faíscas que surgiriam entre os dois. Mas Raul fitou-a e disse:

- Você está muito bonita esta noite, Teresa.

Ela corou e balbuciou:

- Oh, obrigada…

Tudo naquela noite foi confuso. O plano de Teresa de aproximar Monique e Raul, vê-los casar, ter Raul como cunhado… nada disso sequer começou a acontecer. Por mais incrível que pudesse parecer, a atenção de Raul concentrou-se toda em Teresa.

Era como um sonho impossível que se tornara realidade.

Sentia-se como Cinderela, só que era a irmã feia, e o príncipe a escolhera. Era irreal, mas estava acontecendo. Teresa descobriu-se a fazer um esforço para resistir a Raul e seu charme, porque sabia que era bom demais para ser verdade, e temia ser magoada outra vez.

Durante todos aqueles anos escondera suas emoções, protegendo-se contra o sofrimento que acompanhava a rejeição. Agora, instintivamente, tentou mais uma vez fazer a mesma coisa. Mas Raul era irresistível.

- Ouvi sua filha cantar - disse Raul. - Ela é um milagre.

Teresa corou.

- Todo mundo adora a voz de Teresa - comentou Monique, suavemente.

Foi uma noite inebriante. Mas a melhor coisa ainda estava para acontecer. Ao terminar o jantar, Raul disse aos pais de Teresa:

- Seus jardins parecem adoráveis. - Então olhou para Teresa - Você me levaria para vê-los?

Teresa olhou para Monique, tentando decifrar as emoções da irmã. Mas Monique parecia completamente indiferente.

"Ela deve estar cega, surda e muda", pensou Teresa.

E depois recordou todas as ocasiões em que Monique fora a Paris, Cannes e São Tropez, à procura de seu príncipe encantado, sem jamais encontrá-lo.

"Então a culpa não é dos homens. É da minha irmã. Monique não tem a menor idéia do que quer."

Teresa virou-se para Raul.

- Terei o maior prazer.

Lá fora, ela não pode abandonar o assunto.

- Gostou de Monique?

- Parece muito simpática - respondeu Raul. - Pergunte o quanto gosto da irmã dela.

E ele abraçou-a e beijou-a.

Foi diferente de tudo o que Teresa já experimentara antes. Ela tremeu nos braços de Raul e pensou: "Obrigada, Deus. Oh, muito obrigada!"

- Quer jantar comigo amanhã? - perguntou Raul.

- Quero, sim - balbuciou Teresa.

Quando as duas irmãs ficaram sós, Monique comentou:

- Ele parece gostar mesmo de você.

- Acho que sim - murmurou Teresa, timidamente.

- Gosta dele?

- Gosto.

- Tome cuidado, mana. - Monique soltou uma risada. - Não deixe que lhe suba à cabeça.

"Tarde demais", pensou Teresa, desamparada. "Tarde demais."

Teresa e Raul então passaram a encontrar-se todos os dias.

Em geral, Monique os acompanhava. Os três passeavam juntos pelas praias de Nice, riam diante de hotéis com aparência de bolos de casamento. Almoçaram no Hotel du Cap, em Cap d'Antibes, visitaram a Capela Matisse, em Vence. Jantaram no Château de la Chévre d'Or e na fabulosa La Ferme São Michel. Uma manhã, às cinco horas, os três foram ao mercado do produto, que se espalhava pelas ruas de Monte Carlo, compraram pão fresco, legumes e frutas.

Aos domingos, quando Teresa cantava na igreja, Raul e Monique ali estavam para ouvir. Depois, Raul abraçava Teresa e murmurava:

- Você é mesmo um milagre. Eu poderia ouvi-la cantar pelo resto da minha vida.

Quatro semanas depois de se conhecerem, Raul pediu-a em casamento.

- Tenho certeza que poderia conquistar qualquer homem que quisesse, Teresa, mas eu ficaria honrado se me escolhesse.

Por um momento terrível, Teresa pensou que ele estava escarnecendo, mas Raul acrescentou, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa:

- Minha querida, devo-lhe dizer que já conheci muitas mulheres, mas você é a mais sensível, a mais talentosa, a mais afetuosa… Cada palavra soava como música aos ouvidos de Teresa. Queria rir; queria chorar. "Como sou abençoada por amar e ser amada", pensou.

- Quer casar comigo?

Depois que Raul foi embora, Teresa correu para a biblioteca, onde a irmã, o pai e a mãe tomavam café.

- Raul me pediu em casamento! - Seu rosto estava radiante e quase tinha beleza.

Os pais ficaram aturdidos.

Foi Monique quem falou.

- Tem certeza que ele não está atrás do dinheiro da família, Teresa?

Aquilo soava como um tapa na cara.

- Não quis ser grosseira - acrescentou Monique -, mas tudo parece acontecer depressa demais.

Teresa estava determinada a não permitir que coisa alguma destruísse sua felicidade.

- Sei que quer me proteger, mas Raul tem dinheiro. O pai deixou-lhe uma pequena herança, e ele não tem medo de trabalhar para ganhar a vida. - Teresa pegou a mão da irmã e suplicou: - Por favor, Monique, fique contente por mim. Nunca pensei em conhecer este sentimento. Sinto-me tão feliz, eu poderia morrer.

Os três abraçaram-na e disseram como estavam felizes por ela, começaram a discorrer excitados sobre os planos para o casamento.

Na manhã seguinte, bem cedo, Teresa foi à igreja e ajoelhou-se para rezar.

- Obrigada, Pai. Obrigada por me conceder tanta felicidade. Farei tudo para me mostrar à altura do Seu amor e do amor de Raul. Amém.

Teresa entrou no armazém-geral, nas nuvens e disse: