- Se não se incomoda, meu caro senhor, eu gostaria de encomendar um tecido para um vestido de noiva.
Raul riu e abraçou-a.
- Você será uma noiva maravilhosa.
E Teresa sabia que ele falava sério. Era esse o milagre.
O casamento foi marcado para o mês seguinte, na igreja da aldeia. Monique, é claro, seria a madrinha.
Às cinco horas da tarde de sexta-feira, Teresa falou com Raul pela última vez. Ao meio-dia e meia de sábado, à espera de Raul na sacristia da igreja, já com um atraso de meia hora, Teresa foi procurada pelo padre. Ele pegou-a pelo braço e levou-a para um canto. Teresa ficou espantada com sua agitação. O coração começou a bater forte.
- Qual é o problema? Aconteceu alguma coisa com Raul?
- Oh, minha cara… - murmurou o padre. - Minha pobre e querida Teresa…
Ela começava a entrar em pânico.
- O que houve, padre? Conte logo!
- Eu… eu acabei de receber uma notícia, Raul…
- Foi um acidente? Ele está ferido?
- Giradot deixou a cidade no início desta manhã.
- Ele o quê? Deve ter acontecido alguma emergência que o fez…
- Ele partiu com sua irmã. Foram vistos quando embarcavam para Paris.
A sala começou a girar. "Não", pensou Teresa. "Não devo desmaiar. Não devo fraquejar perante Deus." Anos mais tarde, ela só tinha uma lembrança nebulosa dos acontecimentos. À distância, ouviu o padre fazer um comunicado aos convidados, mal percebeu o tumulto na igreja. A mãe abraçou-a e murmurou:
- Minha pobre Teresa… É demais que sua própria irmã fosse tão cruel. Sinto muito.
Mas Teresa mostrava-se subitamente calma. Sabia como endireitar tudo.
- Não se preocupe, mamãe. Não culpo Raul por se apaixonar por Monique. Aconteceria com qualquer homem. Eu já deveria saber que nenhum homem poderia jamais me amar.
- Está enganada - protestou o pai. - Você vale dez Moniques.
Mas sua compaixão estava anos atrasada.
- Eu gostaria de ir para casa agora, por favor.
Eles atravessaram a multidão. Os convidados recuaram para deixá-los passar, observando-os em silêncio.
Ao chegarem ao château, Teresa disse calmamente:
- Por favor, não se preocupem comigo. Prometo que tudo vai acabar bem.
Subiu para o quarto do pai, pegou sua navalha e cortou os pulsos.
Capítulo 12
Quando Teresa abriu os olhos, o médico da família e o padre da aldeia estavam de pé ao lado da cama.
- Não! - gritou ela. - Não quero voltar! Deixem-me morrer! Deixem-me morrer!
- O suicídio é um pecado mortal - avisou o padre. - Deus deu-lhe a vida, Teresa. Só Ele pode decidir quando deve acabar. Você é jovem. Tem toda uma vida pela frente.
- Para fazer o quê? - soluçou Teresa. - Sofrer mais? Não suporto a angústia em que estou vivendo! Não aguento mais!
- Jesus suportou a dor e morreu por todos nós - disse o padre, gentilmente. - Não vire as costas a Ele.
- Precisa repousar - disse o médico, após examinar Teresa. - Já falei com sua mãe para lhe fazer uma dieta leve. - Ele sacudiu um dedo para Teresa. - Isso não inclui navalhas.
Na manhã seguinte, Teresa saiu da cama. Quando entrou na sala de estar, a mãe disse, alarmada:
- O que está fazendo de pé? O médico mandou…
- Preciso ir à igreja. Preciso falar com Deus - falou Teresa com voz rouca.
A mãe hesitou.
- Irei com você.
- Não. Devo ir sozinha.
- Mas…
- Deixe-a ir - interveio o pai.
Eles observaram a filha desolada sair de casa.
- O que acontecerá com ela? - murmurou a mãe de Teresa.
- Só Deus sabe.
Ela entrou na igreja tão familiar, foi até o altar e ajoelhou-se.
- Vim à Sua casa para lhe dizer uma coisa, Deus. Eu O desprezo. Desprezo-O por me deixar nascer tão feia. Desprezo-O por deixar minha irmã nascer tão bonita. Desprezo-O por deixá-la tomar o único homem que já amei. Cuspo em Você.
As últimas palavras soaram tão altas que as outras pessoas se viraram para fitá-la, enquanto ela se levantara e saía cambaleando.
Teresa nunca imaginara que pudesse haver tanta dor. Era insuportável. Era-lhe impossível pensar em qualquer coisa. Descobriu-se incapaz de comer ou dormir. O mundo parecia abafado e distante. As lembranças explodiam-lhe na mente, incessantemente, como cena de um filme. Recordou o dia em que ela, Raul e Monique passeavam pela praia em Nice.
- Está um lindo dia para um mergulho - sugeriu Raul.
- Eu adoraria, mas não podemos, Teresa não sabe nadar.
- Não me importo se vocês dois forem nadar. Ficarei à espera no hotel.
E sentia-se muito satisfeita porque Raul e Monique estavam se dando tão bem. Almoçaram numa pequena estalagem, perto de Cannes.
- A lagosta está ótima hoje. - Sugeriu o maitre.
- Eu vou querer - disse Monique. - A pobre da Teresa não pode. Os crustáceos a deixam cheia de urticárias.
- Sinto saudade de andar a cavalo - comentou Raul quando estavam em São Tropez. - Costumava montar todas as manhãs quando estava em casa. Quer ir comigo, Teresa?
- Eu… eu não sei montar, Raul.
- Eu não me importaria de ir com você, Raul - interveio Monique. - Adoro montar.
E os dois passaram a manhã inteira passeando a cavalo.
Houve centenas de pistas, e ela não percebera nenhuma. Fora cega porque quis ser cega. Os olhares que Raul e Monique trocavam, os inocentes contatos das mãos, os sussurros e risos.
"Como pude ser tão estúpida?"
À noite, quando Teresa conseguia finalmente cochilar, havia sonhos. Era sempre um sonho diferente mas era sempre o mesmo sonho.
Raul e Monique encontravam-se no trem, nus, fazendo amor, o trem passava por uma ponte sobre um desfiladeiro, que ruia, e todos no trem mergulhavam para a morte.
Raul e Monique encontravam-se num quarto de hotel, nus, na cama. Raul largava um cigarro, e o quarto explodia em chamas, os dois eram queimados até a morte, seus gritos despertavam Teresa.
Raul e Monique caíam de uma montanha, afogavam-se num rio, morriam num desastre de avião.
Era sempre um sonho diferente.
Era sempre o mesmo sonho.
A mãe e o pai de Teresa estavam desesperados. Viam a filha definhar, e não havia nada que pudessem fazer para ajudá-la.
De repente, Teresa começou a comer. E comia sem parar. Parecia que a comida nunca era suficiente. Recuperou o peso e continuou a engordar, ficou imensa. Quando o pai e a mãe tentavam-lhe falar de seu sofrimento, ela declarava:
- Sinto-me tão bem agora. Não se preocupem comigo.
Teresa levava a vida como se nada houvesse de errado. Continuava a ir à aldeia e fazia compras, como sempre. Jantava com a mãe e o pai todas as noites, lia ou costurava. Construía uma fortaleza emocional ao seu redor, e estava determinada a não permitir que ninguém a rompesse. "Nenhum homem jamais vai querer olhar para mim. Nunca mais." Exteriormente, Teresa parecia bem. Por dentro, afundara-se num abismo de desesperada solidão.
Mesmo quando se encontrava cercada de pessoas, sentava-se numa cadeira solitária, numa sala solitária, numa casa solitária, num mundo solitário.
Pouco depois de um ano depois de Raul abandonar Teresa, o pai fez as malas para uma viagem a Ávila.
- Tenho alguns negócios para tratar lá - disse a Teresa. - Depois disso, porém, estarei livre. Por que
Claro que antes mesmo de abri-la, Teresa foi dominada pela premonição de algo terrível assomando à sua frente.
A carta dizia:
"Minha querida Teresa:
Deus sabe que não tenho o direito de chamá-la de querida, depois da coisa terrível que lhe fiz, mas prometo recompensá-la, nem que leve a vida inteira para isso. Não sei por onde começar.
Monique fugiu e deixou-me com nossa filhinha de dois meses. Para ser sincero, sinto-me aliviado. Devo confessar que tenho vivido num inferno desde o dia em que a deixei.
Jamais compreenderei por que procedi daquela maneira.