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Parece que fui apanhado por algum encantamento mágico de Monique, mas sabia desde o início que meu casamento com ela era um erro lamentável. Você sempre foi o amor da minha vida. Sei agora que o único lugar onde posso encontrar a felicidade é ao seu lado. Quando receber esta carta, já estarei de volta para você.

Amo você, e sempre amei, Teresa. Pelo bem do resto de nossas vidas juntos, eu lhe peço perdão. Querida…"

Ela não pôde terminar de ler a carta. O pensamento de tornar a ver Raul e a filha dele e Monique era inconcebível, obsceno. Teresa jogou a carta no chão, histérica.

- Preciso sair daqui! Esta noite! Agora! Por favor… por favor!

Foi impossível acalmá-la.

- Se Raul está vindo para cá - disse o pai -, você deve pelo menos falar com ele.

- Não! Se me encontrar com ele, vou matá-lo! - Teresa segurou os braços do pai, as lágrimas escorriam-lhe pelo o rosto. - Leve-me com você! - implorou.

Estava disposta a ir para qualquer parte, contanto que fugisse dali.

E, assim, naquela noite, Teresa e o pai partiram para Ávila.

O pai de Teresa estava angustiado com a infelicidade da filha. Não era por natureza um homem compassivo, mas no ano que passara Teressa conquistara sua admiração com seu comportamento corajoso. Enfrentara os moradores da cidade de cabeça erguida, e nunca se queixara. Ele sentia-se impotente, incapaz de confortá-la.

Lembrou-se de quanto consolo ela encontrara outrora na igreja e disse a Teresa, quando chegaram a Ávila:

- Padre Berrendo, o sacerdote daqui, é um velho amigo meu. Talvez possa ajudá-la. Gostaria de falar com ele?

- Não.

Teresa não queria mais nada com Deus. Permaneceu sozinha no quarto de hotel, enquanto o pai cuidava dos negócios. Quando ele voltou, Teresa continuava sentada na mesma cadeira, olhando para a parede.

- Por favor, Teresa, fale com o padre Berrendo.

- Não.

O pai ficou desorientado. Ela recusava-se a deixar o quarto do hotel e não queria voltar a Éze. Como último recurso, o padre foi procurá-la.

- Seu pai me disse que houve um tempo em que você ia à igreja regularmente.

Teresa fitou o padre de aparência frágil nos olhos e disse friamente:

- Não estou mais interessada. A Igreja não tem nada para me oferecer.

Padre Berrendo sorriu.

- A Igreja tem alguma coisa a oferecer a todas as pessoas, minha criança. A Igreja nos dá esperança e sonhos…

- Já tive minha quota de sonhos. Agora, nunca mais. Ele pegou as mãos e viu as cicatrizes brancas nos pulsos, tão tênues quanto uma memória antiga.

- Deus não acredita nisso. Fale com Ele e Ele lhe dirá.

Teresa continuou sentada, o olhar fixo na parede e quando o padre finalmente saiu, ela nem sequer percebeu.

Na manhã seguinte, Teresa entrou na igreja fria e abobadada, e quase no mesmo instante foi envolvida pelo antigo e familiar sentimento de paz. A última vez em que entrara numa igreja fora para insultar Deus. Sentiu-se muito envergonhada. Fora a sua própria fraqueza que a traíra, não Deus.

- Perdoe-me - murmurou -, pois eu pequei. Tenho vivido no ódio. Ajude-me. Por favor, ajude-me. - Teresa levantou os olhos, e padre Berrendo estava sentado ali.

Quando ela terminou, o padre levou-a para seu escritório, além da sacristia.

- Não sei o que fazer, padre. Não acredito mais em coisa alguma. Perdi a fé. - Sua voz estava impregnada de desespero.

- Tinha fé quando era jovem?

- Tinha, sim. E muita.

- Então ainda a tem, minha criança. Apenas a fé real e permanente. Tudo o mais é transitório.

Conversaram por horas naquele dia.

Quando Teresa voltou ao hotel, ao final da tarde, o pai disse:

- Preciso retornar a Éze. Está pronta para partir?

- Não, papai. Deixe-me ficar aqui mais algum tempo.

Ele hesitou.

- Ficará bem?

- Ficarei, papai. Prometo.

Teresa e padre Berrendo passaram a se encontrar todos os dias. O coração do padre confrangeu-se por Teresa. Via nela não uma mulher gorda e desgraciosa, mas um espírito belo e infeliz.

Conversavam sobre Deus, a criação e o sentido da vida. Pouco a pouco, quase contra a vontade, Teresa recomeçou a encontrar conforto. Padre Berrendo um dia desencadeou nela uma reação profunda.

- Se não acredita neste mundo, minha criança, então acredite no próximo. Acredite no mundo em que Jesus espera para recebê-la.

E pela primeira vez desde o dia que deveria ser seu casamento, Teresa começou a sentir paz outra vez. A igreja tornara-se seu refúgio, como antes. Mas precisava pensar em seu futuro.

- Não tenho para onde ir.

- Pode voltar para casa.

- Não. Jamais poderia voltar para lá. Nunca poderia encarar Raul outra vez. Não sei o que fazer. Quero me esconder, mas não tenho onde me esconder.

Padre Berrendo ficou em silêncio um longo tempo, até finalmente murmurar:

- Poderia ficar aqui.

Ela correu os olhos pela sala, aturdida.

- Aqui?

- O convento Cisterciense fica próximo. - Ele inclinou-se para a frente. - Deixe-me falar um pouco a respeito dele. É um mundo dentro do mundo, onde todas as pessoas dedicam-se a Deus. É um lugar de paz e serenidade.

O coração de Teresa começou a animar-se.

- Parece maravilhoso.

- Devo adverti-la. É uma das ordens mais rigorosas do mundo. Quem entra ali faz um voto de castidade, silêncio e obediência. E quem entra nunca mais sai.

As palavras provocaram uma emoção em Teresa.

- Não vou querer sair nunca mais. É o que tenho procurado, padre. Desprezo o mundo em que vivo.

Mas padre Berrendo ainda estava preocupado. Sabia que Teresa enfrentaria uma vida totalmente diferente de tudo o que já experimentara até aquele momento.

- Não pode haver retorno.

- Não mudarei de idéia.

No dia seguinte, bem cedo, padre Berrendo levou Teresa ao convento para conhecer a reverenda madre Betina. Deixou-as conversarem.

Assim que entrou no convento, Teresa teve certeza. "Finalmente", pensou, exultante. "Finalmente."

Depois do encontro ela, ansiosa, telefonou para os pais.

- Eu estava muito preocupada. Quando voltará para casa? - indagou a mãe.

- Estou em casa.

O bispo de Ávila cumpriu o rito:

- Criador, "Senhor, envie sua bênção a esta serva, a fim de que ela seja fortalecida com a virtude celestial e possa manter uma fé total e fidelidade ininterrupta."

- Renunciei ao reino deste mundo e a todos os adornos seculares, pelo amor de Nosso Senhor, Jesus Cristo - respondeu Teresa.

O bispo fez o sinal da cruz por cima dela.

- De largitatis tuae fonte defluxit ut cum honorem nuptiarum nulla interdicta minuissent ac super sanctum conjugium nuptialis benedictio permaneret existerent conubium, concupiscerent sacramentum, nec imitarentur quod nuptiis agitur, sed diligerent quod nuptiis praenotatur. Amém.

- Amém.

- Eu te esposo com Jesus Cristo, o filho do Pai Supremo. Assim, recebe o selo do Espírito Santo, a fim de que possas ser chamada de esposa de Deus, e serás coroada para eternidade se o servires fielmente. - O bispo levantou-se. - Deus, o Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, que concedeu te receber em núpcias, como a abençoada Maria, mãe de Nosso Senhor, Jesus Cristo… ad beatae Mariae, matris Domini nostri, Jesu Cristi, consortium… te recebe, que na presença de Deus e Seus anjos possas preseverar, pura e imaculada, mantendo teu propósito de amor e castidade, com a paciência que possas merecer para receber a coroa de sua bênção, através do mesmo Cristo, Nosso Senhor.

Deus te torna forte quando frágil, fortalece quando fraca, alivia e governa tua mente com compaixão, e orienta teus caminhos. Amém.

Agora, trinta anos depois, deitada no bosque, observando o sol se elevar por cima do horizonte, irmã Teresa pensou: "Fui para o convento por todos os motivos errados. Não estava correndo para Deus, mas fugindo do mundo. Mas Deus leu meu coração."