- Isso mesmo. E as últimas palavras foram para dizer que amavam você. Mas não havia ninguém para cuidar de você, por isso veio para cá.
Megan sentia-se tão ansiosa quanto as outras crianças em saber quem eram seus pais. À noite, acalentava-se até o sono, inventando histórias para si mesma: "Meu pai foi um soldado na Guerra Civil. Era um capitão, e muito corajoso. Foi ferido em um combate, e minha mãe foi a enfermeira que cuidou dele. Casaram, ele voltou à frente e foi morto. Mamãe era pobre demais para me sustentar, e por isso precisou me deixar na fazenda, o que lhe partiu o coração." E ela chorava de compaixão pelo pai bravo e morto e pela mãe desconsolada. Ou: "Meu pai era um toureiro. Foi um dos maiores matadores. Era o favorito da Espanha. Todos o adoravam. Mamãe era uma linda dançarina de flamenco. Casaram, mas um dia ele foi morto por um enorme e perigoso touro. Mamãe foi obrigada a renunciar-me." Ou: "Papai era um esperto espião do outro país…"
As fantasias eram intermináveis.
Havia trinta crianças no orfanato, variavam de recém-nascidos abandonados, até os de 14 anos. Quase todas eram espanholas, mas havia também crianças de outros países. Megan tornou-se fluente em várias línguas. Dormia junto com uma dúzia de outras garotas. Havia conversa sussurradas até noite tarde sobre bonecas e roupas, depois sobre sexo, à medida que as garotas se tornavam mais velhas. Isso logo virou o principal tema das conversas.
- Ouvi dizer que dói muito.
- Não me importo. Mal posso esperar para saber como é.
- Vou casar, mas nunca deixarei que meu marido faça isso comigo. Acho que é obsceno.
Uma noite, quando todos dormiam, Primo Condé, um dos meninos do orfanato, entrou no dormitório das garotas. Foi até a cama de Megan.
- Megan… - Sua voz era um sussurro.
Ela despertou no mesmo instante.
- Primo? O que aconteceu?
Ele soluçava, assustado.
- Posso ficar na sua cama?
- Pode, mas fique quieto.
Primo tinha 13 anos, a mesma idade de Megan, mas pouco desenvolvido, e fora uma criança maltratada. Sofria pesadelos terríveis e acordava aos gritos no meio da noite. As outras crianças atormentavam-no, mas Megan sempre o protegia.
Primo deitou na cama ao seu lado.
Megan sentiu as lágrimas escorrerem pelas faces do menino.
Abraçou-o e murmurou:
- Está tudo bem, está tudo bem… - mimou-o gentilmente, e os soluços cessaram.
O corpo de Primo comprimiu-se contra o de Megan, e ela pôde sentir o crescente excitamento dele.
- Primo…
- Desculpe. Eu… eu não pude evitar.
Sua ereção se comprimia contra ela.
- Eu amo você, Megan. É a única pessoa de quem eu gosto no mundo inteiro.
- Ainda não esteve no mundo lá fora.
- Não ria de mim, por favor.
- Não estou rindo.
- Não tenho mais ninguém, só você.
- Sei disso.
- Eu amo você.
- Também amo você, Primo.
- Megan… você… me deixaria fazer amor com você?
- Não.
Houve silêncio.
- Desculpe ter incomodado você. Voltarei para minha cama. - A voz de Primo estava impregnada de angústia. Ele começou a afastar-se.
- Espere. - Megan deteve-o, querendo atenuar seu sofrimento, sentindo-se também excitada. - Primo, eu… eu não posso deixar que faça amor comigo, mas posso fazer uma coisa que o levará a se sentir melhor. Está bom assim?
- Está. - A voz de Primo era um murmúrio. Ele estava de pijama.
Megan puxou o cordão que prendia a calça e enfiou a mão e começou a acariciá-lo.
Primo gemeu e sussurrou:
- Ai, isso é maravilhoso - e, um momento depois: - Meu Deus, eu amo você, Megan.
Ela estava com o corpo em chamas, e se naquele momento Primo dissesse: "Quero fazer amor com você", teria respondido sim.
Mas ele permaneceu imóvel, em silêncio; minutos depois voltou à sua cama. Não houve sono para Megan naquela noite. E nunca mais permitiu que Primo voltasse à sua cama.
A tentação era muito grande.
De vez em quando, uma criança era chamada à sala da supervisora para conhecer os pais que pretendiam adotá-la. Era sempre um momento de grande emoção para as crianças, pois representava uma oportunidade de escapar da terrível rotina do orfanato, e ter um lar de verdade, pertencer a alguém.
Ao longo dos anos, Megan observou outros órfãos serem escolhidos. Iam para casas de comerciantes, fazendeiros, banqueiros. Mas eram quase sempre as outras crianças, nunca ela.
A reputação de Megan a precedia. Ouvia seus pais em potencial conversarem.
- É uma criança muito bonita, mas ouvi dizer que tem um temperamento difícil.
- Não é a menina que levou 12 cachorros para o orfanato no mês passado?
- Dizem que é uma líder. Acho que não se daria bem com nossos filhos.
Eles não tinham a menor idéia do quanto as outras crianças adoravam Megan.
Padre Berrendo visitava o orfanato uma vez por semana. Megan aguardava ansiosa essas visitas. Era uma leitora voraz, e o padre e Mercedes Angeles providenciavam para que tivesse sempre um livro à sua disposição. Podia discutir coisas com o padre que não ousava falar com qualquer outra pessoa. Fora ao padre Berrendo que o casal de camponeses entregara Megan quando bebê.
- Por que eles não quiseram ficar comigo?
O velho sacerdote respondeu gentilmente.
- Desejavam muito, mas eram velhos e doentes.
- Por que acha que meus pais verdadeiros me abandonaram naquela fazenda?
- Tenho certeza que foi porque eram pobres e não tinham condições de sustentá-la.
À medida que crescia, Megan tornava-se cada vez mais devota.
Sentia-se atraída pelos aspetos culturais da Igreja Católica.
Leu as Confissões de Santo Agostinho, as obras de São Francisco de Assis, Thomas Merton e vários outros. Ia à Igreja regularmente e gostava dos ritos solenes, missa, receber comunhão, a Bênção.
Talvez, acima de tudo, adorasse o sentimento maravilhoso de serenidade que sempre a envolvia na igreja.
- Quero ser uma católica - disse ela um dia ao padre Berrendo.
Ele pegou-lhe a mão e disse, com um piscar de olho:
- Talvez você já seja, Megan, mas vamos nos certificar se é isso que realmente deseja. Crê em Deus, o Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da Terra?
- Sim, creio!
- Crê em Jesus Cristo, Seu único filho, que nasceu e sofreu?
- Sim, creio!
- Crê no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição do corpo e da vida eterna?
- Sim, creio!
O padre soprou gentilmente em seu rosto.
- Exi ab ea spiritus immunde. Afasta-te dela, espírito impuro, e dá lugar ao Espírito Santo, o Paráclito. - Ele tornou a soprar em seu rosto. - Megan, receba o bom Espírito através deste sopro e receba a bênção de Deus. A Paz esteja contigo.
Aos 15 anos, Megan tornou-se uma linda mulher, com cabelos louros compridos e uma pele leitosa, que a destacava ainda mais da maioria das companheiras.
Um dia ela foi chamada ao gabinete de Mercedes Angeles.
Padre Berrendo aguardava-a.
- Olá, padre.
- Olá, cara Megan.
- Infelizmente, Megan, estamos com um problema - comentou Mercedes Angeles.
- É mesmo? - Ela vasculhou o cérebro, na tentativa de lembrar-se de sua última travessura.
A diretora continuou:
- Há um limite de idade para permanecer aqui, de 15 anos… e você já fez 15 anos.
Megan há muito que conhecia o regulamento, é claro. Mas relegara-o para o fundo da mente, porque não queria enfrentar o fato de que não tinha nenhum lugar no mundo para onde ir, que ninguém a queria, e seria abandonada outra vez.
- Eu… eu tenho de ir embora?
A generosa amazona estava transtornada. mas não tinha alternativa.
- Lamento profundamente, mas devemos respeitar os regulamentos. Podemos encontrar uma posição para você como criada.