- Sou Sam Norton, diretor de relações públicas da Scott Industries.
- Ah… - Ela nunca o vira antes. - Mora aqui?
- Não. Vim de avião de Washington.
- Para me ver?
- Para ajudá-la.
- Ajudar-me em quê?
- A imprensa está lá fora, Senhorita Dudash. Como não creio que já tenha dado uma entrevista coletiva alguma vez, pensei que talvez pudesse querer alguma ajuda.
- O que eles querem?
- Basicamente, vão perguntar como e por que salvou o Sr. Scott.
- Isso é fácil. Se eu parasse para pensar, teria fugido de lá como se fosse do inferno.
Norton fitou-a aturdido.
- Senhorita Dudash… acho que eu não diria isso, se estivesse no seu lugar.
- Porquê? É a verdade.
Não era absolutamente o que ele esperava. A garota parecia não ter a menor idéia de sua situação. Alguma coisa a preocupava, e resolveu falar.
- Vai se encontrar com o Sr. Scott?
- Vou, sim.
- Poderia me fazer um favor?
- Se eu puder, claro.
- Sei que o acidente não foi culpa dele, e não me pediu para empurrá-lo para o lado, mas… - O mas veio forte e independente em Ellen levou-a a hesitar. - Ora, não importa.
"É agora", pensou Norton. "Quanto ela tentará extorquir? Será dinheiro? Um cargo melhor? O quê?"
- Continue, por favor, Senhorita Dudash.
Ela falou impulsivamente:
- A verdade é que não tenho muito dinheiro, vou perder algum pagamento por causa disso e acho que não tenho condições de pagar todas as contas do hospital. Não quero incomodar o Sr. Scott, mas se ele pudesse me arrumar um empréstimo, juro que eu pagaria tudo. - Ellen percebeu a expressão de Norton e interpretou-a errada. - Desculpe. Talvez esteja parecendo mercenária. Acontece que eu estava economizando para uma viajem e… isso arruinou meus planos. - Respirou fundo. - Mas não é problema dele. Darei um jeito.
Sam Norton quase beijou-a. "Há quanto tempo que não deparo com a inocência autêntica? É suficiente para restaurar minha fé no sexo feminino."
Sentou-se no lado da cama e sua atitude profissional desapareceu. Pegou-lhe a mão.
- Ellen, tenho o pressentimento de que você e eu vamos ser grandes amigos. Prometo que não precisará se preocupar com dinheiro. Nossa primeira providência será levá-la para essa entrevista coletiva. Queremos que saia disso tudo com uma boa imagem e… - Ele parou. - Serei franco. Minha função é cuidar para que a Scott Industries saia disso tudo com a melhor imagem. Está entendendo?
- Acho que sim. Está querendo dizer que não parecia certo se eu dissesse que não estava realmente interessada em salvar Milo Scott? Ficaria muito melhor se eu dissesse algo como "Gosto tanto de trabalhar para a Scott Industries que quando vi o Sr. Milo Scott em perigo compreendi que devia tentar salvá-lo, mesmo com o risco da minha própria vida"?
- Isso mesmo.
Ellen riu.
- Muito bem, se isso vai ajudá-lo. Mas não quero enganá-lo, Sr. Norton. Não sei o que me levou a proceder daquela forma.
Ele riu.
- Esse será nosso segredo. É, agora, vou deixar as feras entrarem.
Havia um grande número de repórteres e fotógrafos, de emissoras de rádio, jornais e revistas. A imprensa tencionava tirar o máximo proveito. Não era todos os dias que uma linda empregada arriscava a vida para salvar o irmão do patrão. E o fato de o patrão ser Milo Scott não prejudicava a história em nada.
- Senhorita Dudash… quando viu aquele ferro caindo, qual foi o seu primeiro pensamento?
Ellen olhou para Sam Norton com uma expressão de inocência e respondeu:
- Pensei: "Preciso salvar o Sr. Scott. Eu nunca me perdoaria se o deixasse morrer."
A entrevista coletiva prosseguiu sem maiores dificuldades. Quando percebeu que Ellen começava a se cansar, San Norton apressou-se em encerrá-la:
- Já chega, senhoras e senhores. Muito obrigado a todos.
Depois que os jornalistas se retiraram, Ellen perguntou:
- Eu me saí bem?
- Foi maravilhosa. E agora durma um pouco.
Ela teve um sono irrequieto. Sonhou que se encontrava no saguão do Empire States mas os guardas não a deixavam subir no alto porque não tinha dinheiro suficiente para comprar um ingresso.
Milo Scott foi visitar Ellen naquela tarde. Ela ficou surpresa ao vê-lo. Fora informada que ele morava em Nova York.
- Contaram-me que você se saiu muito bem na entrevista coletiva. Você é uma heroína.
- Sr. Scott… preciso lhe contar uma coisa. Não sou uma heroína. Não parei para pensar em salvá-lo. Eu… eu apenas o fiz.
- Sei disso. Sam Norton me contou.
- Então…
- Há vários tipos de heroísmo, Ellen. Não pensou em me salvar, mas agiu instintivamente, em vez de se salvar.
- Eu… eu apenas queria que soubesse.
- Sam também me contou que estava preocupada com as contas do hospital.
- Bem…
- Já cuidei de tudo. E quanto à possibilidade de perder uma parte do salário… - ele sorriu: - Senhorita Dudash… acho que não sabe o quanto lhe devo.
- Não me deve nada.
- O médico me informou que você receberá alta amanhã. Poderei levá-la para jantar?
"Ele não compreende", pensou Ellen. "Não quero sua caridade. Nem sua compaixão."
- Falei sério quando disse que não me deve nada. Obrigada por se encarregar das contas do hospital. Estamos quites.
- Ótimo. E agora posso convidá-la para jantar?
Foi assim que começou. Milo Scott permaneceu em Gary por uma semana, e viu Ellen todas as noites.
Os pais advertiram-na:
- Tome cuidado. Os patrões não saem com operárias a menos que queiram alguma coisa.
Essa foi a atitude de Ellen Dudash no início, mas Milo a fez mudar de idéia. Foi um perfeito cavalheiro em todos os momentos, e a verdade finalmente aflorou em Ellen: Ele gosta mesmo da minha companhia.
Enquanto Milo se mostrava tímido e reservado, Ellen era franca e expansiva. Durante toda sua vida, Milo estivera cercado de mulheres com a ambição ardente de entrarem para a poderosa dinastia Scott. E se empenhavam em jogos calculistas. Ellen Dudash era a primeira mulher totalmente honesta que Miro já conhecera. Dizia exatamente o que pensava. Era inteligente, atraente e, acima de tudo, uma companhia divertida. No final da semana, os dois estavam apaixonados.
- Quero casar com você - disse Milo. - Não consigo pensar em qualquer outra coisa. Vai casar comigo?
- Não.
Ellen também não fora capaz de pensar em outra coisa. A verdade era que estava apavorada. Os Scott encontravam-se tão próximos da realeza quanto era possível nos Estados Unidos.
Eram famosos, ricos e poderosos. "Não pertenço ao círculo deles. Só poderia bancar a tola. E o mesmo aconteceria a Milo." Mas ela sabia que travava uma batalha perdida.
Foram casados por um juiz de paz em Greenwich, Connecticut, e viajara até Manhattan para que Ellen Scott Dudash fosse apresentada à família do marido.
Byron Scott recebeu o irmão bruscamente:
- Mas que loucura foi essa… casar com uma vigarista polonesa? Ficou maluco?
Susan Scott foi igualmente implacável.
- Claro que ela se casou com Milo pelo dinheiro. Quando descobrir que ele não tem nada, arrumaremos uma anulação. Esse casamento não vai durar muito.
Mas eles subestimaram Ellen Scott.
- Seu irmão e sua cunhada me odeiam, mas não me casei com eles. Casei com você. Não quero me interpor entre você e Byron. Se isso o deixa muito infeliz, Milo, basta dizer, e irei embora.
Ele abraçou a esposa e sussurrou:
- Adoro você… e quando Byron e Susan a conhecerem direito, também vão adorá-la.
Ellen apertou-o e pensou: "Como ele é ingênuo. E como eu o amo."
Byron e Susan não eram grosseiros com a nova cunhada. Mostravam-se condescendentes. Para eles, Ellen seria sempre a garota polonesa que trabalhara numa das fábricas da Scott Industries.