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Milo Scott sentiu que a sala começava a balançar. O advogado levantou os olhos.

- Está se sentindo bem?

Milo tinha dificuldade para respirar. "Santo Deus, o que fizemos? Nós a privamos de sua herança e não era absolutamente necessário. Mas agora podemos devolver-lhe tudo."

Virou-se para dizer alguma coisa a Ellen, mas a expressão nos olhos da esposa deteve-o.

- Deve haver alguma coisa que possamos fazer, Ellen. Não podemos simplesmente deixar Patricia lá. Não agora.

Estavam no apartamento na Quinta Avenida, vestindo-se para um jantar de caridade.

- É exatamente o que vamos fazer - declarou Ellen. - A menos que você prefira trazê-la de volta e tentar explicar por que falamos que morreu queimada no desastre de avião.

Milo não tinha resposta para isso. Depois de pensar por um momento, ele disse:

- Muito bem, mas vamos enviar dinheiro todos os meses, a fim de…

- Não seja tolo, Milo - falou Ellen, bruscamente. - Mandar dinheiro? E fazer com que a polícia comece a investigar por que alguém está enviando dinheiro para a criança, até nos descobrir? Não é possível. Se a consciência o incomoda, teremos o dinheiro da companhia para dar a obras de caridade. Esqueça a criança, Milo. Ela está morta, lembra?

"Lembra… lembra… lembra…"

As palavras ecoaram na mente de Ellen Scott, enquanto contemplava a audiência no salão de baile do Waldorf-Astoria e concluía seu discurso. Mais uma vez foi ovacionada de pé.

"Vocês estão aclamando uma morta", pensou.

Os fantasmas voltaram naquela noite. Ellen julgava tê-los exorcizado há muito tempo. No começo, depois dos serviços in memoriam para Byron, Susan e Patricia, os visitantes noturnos apareciam com frequência. Neblinas tênues pairavam por cima de sua cama, e vozes sussurravam-lhe no ouvido. Despertava, o coração disparava, mas não via nada. Não contou a Milo. Ele era um fraco, poderia ficar apavorado e cometer uma loucura, algo que arriscaria a companhia. Se a verdade fosse revelada, o escândalo arruinaria a Scott Industries, e Ellen estava determinada a impedir que isso jamais acontecesse. E por isso ela sofria os fantasmas em silêncio, até que finalmente desapareceram, deixando-a em paz.

Agora, na noite do banquete, eles voltaram. Ellen acordou e sentou-se na cama, olhando em redor. O quarto estava vazio e quieto, mas ela sabia que os fantasmas se encontravam ali. O que tentavam lhe dizer? Sabiam que ela os encontraria em breve?

Ellen levantou-se e foi para a ampla sala de estar, decorada com antiguidades, da bela casa na cidade que comprara depois da morte de Milo. Correu os olhos pela aprazível sala e pensou:

"Pobre Milo." Não tivera muito tempo para desfrutar os benefícios da morte do irmão. Morrera de um ataque cardíaco um ano depois do desastre de avião, e Ellen Scott assumira a companhia, dirigindo-a com tanta eficiência e habilidade que projetara a Scott Industries no âmbito internacional.

"A companhia pertence à família Scott", pensou. "Não vou entregá-la a estranhos anônimos."

E isso levou seus pensamentos à filha de Byron e Susan. A legítima herdeira do trono que lhe fora roubado. Habia medo em seus pensamentos? Havia um desejo de fazer uma expiação antes de sua própria morte?

Ellen Scott passou a noite inteira sentada na sala de estar, os olhos voltados para o nada, pensando e planejando. Há quanto tempo fora? Vinte e oito anos. Patricia seria agora uma mulher adulta, presumindo que ainda vivia. O que se tornara sua vida? Casara com um camponês ou um comerciante da aldeia? Tinha filhos? Ainda vivia em Ávila ou fora para algum outro lugar?

"Devo encontrá-la", pensou Ellen. "E depressa. Se Patricia continua viva, preciso vê-la, conversar com ela. Devo finalmente acertar as contas. O dinheiro pode converter mentiras em verdades. Encontrarei um meio de resolver o problema sem que ela descubra o que realmente aconteceu."

Na manhã seguinte, Ellen chamou Alan Tucker, chefe da segurança da Scott Industries. Era um ex-detetive, com cerca de quarenta anos, magro, calvo, pálido, trabalhador e inteligente.

- Quero que faça um investigação para mim.

- Pois não, Srª Scott.

Ellen estudou-o um momento, especulando sobre o que poderia contar-lhe "Não posso dizer nada", concluiu. "Enquanto estiver viva, recuso-me a pôr a companhia em risco. Deixarei que ele descubra Patricia primeiro e depois decidirei como cuidar da situação."

Inclinou-se para a frente:

- Há 28 anos uma órfã foi deixada na porta de uma casa de fazenda, nos arredores de Ávila, Espanha. Quero que descubra onde ela está hoje e a traga para mim o mais depressa possível.

O rosto de Alan Tucker permaneceu impassível. A Srª Scott não gostava que seus empregados demonstrassem emoção.

- Está bem, madame. Partirei amanhã.

Capítulo 17

O coronel Ramón Acoca encontrava-se num ânimo expansivo. Todas as peças finalmente começavam a se encaixar. Uma ordenança entrou na sala.

- O coronel Sostelo chegou.

- Mande-o entrar.

"Não precisarei mais dele", pensou Acoca." "Pode voltar para seus soldadinhos de chumbo."

O coronel Fal Sostelo entrou na sala.

- Coronel.

- Coronel.

"É irónico", pensou Sostelo. "Temos o mesmo posto, mas o gigante de cicatriz possui o poder para me liquidar. Ele deve estar ligado à maldita "OPUS DEI".

Sostelo ficava indignado por ser obrigado a responder ao chamado de Acoca, como se fosse algum inexpressivo subordinado. Mas fez um esforço para não deixar transparecer seus sentimentos.

- Queria falar comigo?

- Queria sim. - Acoca apontou para uma cadeira. - Sente-se. Tenho algumas notícias para você. Jaime Miró está com as freiras.

- "O quê?"

- Isso mesmo. Elas estão viajando com Miró e seus homens. Ele dividiu o bando em três grupos.

- Como…, como sabe disso?

Ramón Acoca recostou-se na cadeira.

- Joga xadrez?

- Não.

- É uma pena. Trata-se de um jogo muito instrutivo. Para ser um bom jogador, é necessário penetrar na mente do adversário. Jaime Miró e eu jogamos xadrez um com o outro.

Fal Sostelo ficou surpreso.

- Não compreendo.

- Não literalmente, coronel. Não usamos tabuleiro de xadrez. Usamos nossas mentes. Provavelmente compreendo Jaime Miró melhor do que qualquer outra pessoa no mundo. Sei como sua mente funciona. Tinha certeza que ele tentaria explodir a represa em Puenta la Reina. Capturamos dois dos seus homens ali e foi apenas por sorte que o próprio Miró escapou. Eu sabia que ele tentaria salvá-los, e Miró sabia que eu estava a par. - Acoca encolheu os ombros. - Não previ que ele usaria os touros para promover a fuga. - Havia um tom de admiração em sua voz.

- Dá impressão de que…

- De que o admiro? Admiro sua mente. Desprezo o homem.

- Sabe para onde Miró está indo?

- Viaja para o norte. Eu o pegarei nos próximos três dias.

O coronel Sostelo estava mais aturdido do que nunca.

- Finalmente será dado o xeque-mate.

Era verdade que o coronel Acoca compreendia Jaime Miró e a maneira como sua mente funcionava, mas não era suficiente para ele. O coronel queria uma vantagem, para garantir a vitória, e a encontrara.

- Como…?

- Um dos terroristas de Miró é um informante - explicou o coronel Acoca.

Rubbio, Tomás e as duas freiras evitaram as cidades maiores e seguiram por estradas secundárias, passando por velhas aldeias, com ovelhas e cabras pastando, os pastores escutavam música e partidas de futebol pelos rádios transistorizados.