Tucker hesitou, escolhendo as palavras com todo cuidado.
- Não estou autorizado a revelar. Só posso lhe garantir que não tenciono fazer qualquer mal à mulher. Se pudesse informar-me onde fica a casa de fazenda em que foi deixada…
A casa da fazenda. Afloraram-lhe as lembranças do dia em que os Moras o procuraram, após levarem a criança ao hospital.
"Acho que ela está morrendo, padre. O que vamos fazer?"
Padre Berrendo telefonara para seu amigo, Don Morago, o chefe de polícia.
- Acho que a criança foi abandonada por turistas em visita a Ávila. Poderia verificar nos hotéis e pousadas, descobrir se alguém chegou com um bebê e partiu só?
A polícia examinara as fichas de registros que todos os hotéis eram obrigados a preencher, mas nada encontraram.
- É como se a criança tivesse caído do céu - comentara Don Morago.
Não tinha a menor idéia de quanto estava próximo da solução do mistério.
Quando padre Berrendo levara a criança para o orfanato, Mercedes Angeles perguntara:
- Ela tem nome?
- Não sei.
- Não havia uma manta ou qualquer coisa com o nome?
- Não.
Mercedes Angeles olhara para a criança nos braços do padre.
- Então teremos de lhe dar um nome, não é mesmo?
Ela acabara de ler um romance fascinante e gostara muito do nome da heroína.
- Megan… vamos chamá-la de Megan.
E 14 anos depois, padre Berrendo levara Megan para o convento Cisterciense.
Agora após tantos anos, aquele estrangeiro estava à procura de Megan. "A vida sempre dá voltas completas", pensou padre Berrendo. "De alguma forma misteriosa, deu um círculo completo para Megan." Não, não para Megan. Esse era o nome que lhe fora dado pelo orfanato.
- Sente-se, señor. Há muitas coisas para contar.
E ele contou.
Quando o padre terminou, Alan Tucker ficou ele em silêncio, a mente em disparada. Devia haver um motivo muito forte para o interesse de Ellen Scott por uma criança abandonada numa casa de fazenda na Espanha há 28 anos. Uma mulher agora chamada Megan, segundo o padre.
"Diga a ela que uma amiga de seu pai deseja conhecê-la."
Se sua memória não falhava, Byron Scott, a esposa e a filha haviam morrido num desastre de avião, há muitos anos, em algum lugar da Espanha. Poderia haver ligação? Alan Tucker sentiu um crescente excitamento.
- Padre… eu gostaria de ir ao convento para falar com ela. É muito importante.
O padre sacudiu a cabeça.
- Infelizmente, chegou tarde demais. O convento foi atacado há dois dias por agentes do governo.
Alan Tucker ficou aturdido.
- Atacado? O que aconteceu às freiras?
- Foram presas e transferidas para Madrid.
Alan Tucker levantou-se.
- Obrigado, padre. - Pegaria o primeiro avião para Madrid.
Padre Berrendo acrescentou.
- Quatro freiras escaparam. A irmã Megan foi uma delas.
As coisas estavam se complicando.
- Onde ela está?
- Ninguém sabe. A polícia e o exército estão à sua procura e das outras irmãs.
- Ahn…
Em circunstâncias normais, Alan Tucker telefonaria para Ellen Scott e informaria que chegava a um beco sem saída. Mas todos os seus instintos de detetive lhe diziam que havia alguma coisa naquele caso que justificava a continuação da investigação.
Ele fez uma ligação para Ellen Scott.
- Surgiu um problema, Srª Scott. - Alan Tucker relatou a conversa com o padre. Houve um silêncio prolongado.
- Ninguém sabe onde ela está?
- Ela e as outras freiras fugiram, mas não podem se esconder por muito tempo. A polícia e metade do exército espanhol estão à sua procura. Quando forem encontradas, estarei lá.
Outro silêncio.
- Isso é muito importante para mim, Tucker.
- Sei disso, Srª Scott.
Alan Tucker voltou ao jornal. Estava com sorte. O escritório ainda não fechara. Ele disse ao editor:
- Gostaria de dar uma olhada nos arquivos, se for possível.
- Está à procura de alguma coisa em particular?
- Estou, sim. Houve um acidente de avião aqui.
- Há quanto tempo, señor?
- Se estou certo… há 28 anos. Foi em 1948.
Alan Tucker levou quinze minutos para encontrar a notícia que procurava. A manchete saltou-lhe diante dos olhos.
ACIDENTE DE AVIÃO MATA EXECUTIVO E FAMÍLIA
Primeiro de Outubro de 1948. "Byron Scott, presidente da Scott Industries, sua esposa Susan e a filha de um ano, Patricia, morreram carbonizados num desastre de avião…"
"Acertei na sorte grande!" Alan Tucker sentiu o pulso disparar. "Se isso é o que penso, então serei um homem rico… um homem muito rico."
Capítulo 19
Ela estava nua na cama e podia sentir o membro duro de Benito Patas se comprimindo contra sua virilha. O corpo dele era maravilhoso, e ela apertou mais, sentindo o calor aumentar em seu corpo, excitá-lo. Mas alguma coisa estava errada. "Eu matei Patas", pensou. "Ele está morto."
Lucia abriu os olhos e sentou-se, tremendo, olhando ansiosa ao redor. Benito não se encontrava ali. Ela estava na floresta, num saco de dormir. Alguma coisa se comprimia contra sua coxa. Estendeu a mão por dentro do saco de dormir e tirou a cruz envolta pela lona. Fitou-a, incrédula. "Deus acaba de efetuar um milagre para mim", pensou.
Não tinha a menor idéia de como a cruz fora parar ali, e também não se importava. Finalmente conseguira-a. Tudo que precisava fazer agora era fugir dali.
Saiu do saco de dormir e olhou para onde irmã Teresa devia estar dormindo. Ela se fora. Lucia olhou à sua volta, pela escuridão, mal pôde divisar o vulto de Tomás Sanjuro na beira da clareira. Não sabia onde Rubio estava. "E não tem importância. É hora de sair daqui", pensou Lucia.
Lucia encaminhou-se para a beira da clareira oposta àquela em que se encontrava Sanjuro, abaixando-se para não ser vista.
E foi nesse instante que o pandemônio se desencadeou.
O coronel Fal Sostelo tinha uma decisão de comando a tomar. Recebera ordens do primeiro-ministro em pessoa para trabalhar em estrita ligação com o coronel Ramon Acoca, ajudando-o a capturar Jaime Miró e as freiras. Mas o destino o abençoava, entregando uma freira em suas mãos. Podia pegar os terroristas e ficar com todas as glórias. "Foda-se o coronel Acoca", pensou Fal Sostelo. "Este caso é meu. Talvez a "OPUS DEI" passe a me usar, em vez de Acoca, com todas as suas besteiras sobre partida de xadrez e se meter na mente dos outros. Está na hora de dar uma lição ao gigante da cicatriz."
O coronel Sostelo deu ordens expressas a seus homens.
- Não façam prisioneiros. Estão enfrentando terroristas. Atirem para matar.
O major Ponte hesitou.
- Coronel, há freiras com os homens de Miró. Não deveríamos…?
- Estarems prestando um favor a elas, ajudando-as a se encontrarem com seu Deus.
Sostelo seleccionou uma dúzia de homens para acompanhá-lo na operação e determinou que fossem fortemente armados.
Subiram pela encosta sem fazer barulho, no escuro. Quase não havia visibilidade. "Ótimo. Eles não poderão perceber a nossa aproximação." Depois que seus homens assumiram as posições, o coronel Sostelo gritou, apenas como uma formalidade:
- Larguem as armas! Vocês estão cercados! - E no mesmo instante, ele acrescentou: - Fogo! Não parem de atirar!
Uma dúzia de armas automáticas começou a disparar uma saraivada de balas pela clareira.
Tomás Sanjuro não teve a menor chance. Uma rajada de metralhadora acertou-o no peito, e ele morreu antes mesmo do corpo bater no chão. Rubio Arzano encontrava-se no outro lado da clareira quando o tiroteio começou. Viu Sanjuro cair, virou-se e começou a levantar a arma para responder ao fogo, mas conteve-se. A escuridão na clareira era total, e os soldados disparavam a esmo. Se respondesse ao fogo, revelaria sua posição.