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"Consegui!", pensou ele, exultante. "Santo Deus, consegui! Ela roubou a Scott Industrie. E se não fosse por mim, teria escapado impune."

Quando a confrontasse com aquela prova, Ellen Scott não teria como negar. O desastre de avião ocorrera a 1 de outubro.

Megan passara dez dias no hospital. Portanto, chegara ao orfanato por volta de 11 de outubro. Mercedes Angeles voltou à sala, trazendo uma pasta de arquivo.

- Encontrei! - anunciou orgulhosa.

Alan Tucker teve de fazer um esforço para não arrancar a pasta de suas mãos.

- Posso dar uma olhada? - perguntou, polidamente.

- Claro. Foi muito generoso. - A velha tornou a franzir o cenho. - Espero que não mencione o fato a ninguém. Eu não deveria fazer isso.

- Será nosso segredo, señora.

Ela lhe entregou a pasta.

Tucker respirou fundo e abriu-a. Em cima estava escrito:

"Megan. Menina. Pais desconhecidos." E depois a data. Mas havia um equívoco.

- Diz aqui que Megan foi trazida para o orfanato a 14 de junho de 1948.

- Sí, señor.

- Mas é impossível! - Ele estava quase gritando. O desastre de avião aconteceu a 1 de outubro, quatro meses depois.

Havia uma expressão aturdida no rosto de Mercedes.

- Impossível, señor? Não estou entendendo.

- Quem… quem cuida desses registros?

- Eu mesma. Quando uma criança é deixada aqui, anoto a data e todas as informações que posso obter…

O sonho de Tucker desmoronava-se.

- Não poderia ter cometido algum erro? Sobre a data… não poderia ser 10 ou 11 de outubro?

Mercedes Angeles protestou indignada:

- Señor, sei muito bem a diferença entre 14 de junho e 11 de outubro.

Estava acabado. Ele construíra um sonho sobre uma base muito frágil. Então Patrícia Scott morrera de fato no desastre. Era uma coincidência que Ellen Scott estivesse à procura de uma menina que nascera mais ou menos na mesma ocasião. Alan Tucker levantou-se pesadamente e murmurou:

- Obrigado, señora.

- De nada, señor. - Observou-o se retirar. Era um homem muito simpático. E generoso. Os quinhentos dólares comprariam coisas para o orfanato. E também o cheque de cem mil dólares enviado pela gentil dama que telefonara de Nova York. "Onze de outubro foi sem dúvida um dia de sorte para nosso orfanato. Obrigada, Senhor."

Alan Tucker estava apresentando seu relatório diário.

- Ainda não há notícias concretas, Srª Scott. Há rumores de que eles estão indo para o norte. Até onde pude descobrir, a garota continua viva.

"O tom de voz mudou por completo", pensou Ellen Scott. "A ameaça desapareceu. O que significa que ele esteve no orfanato. Voltou a ser um empregado. Depois que ele encontrar Patrícia, isso também vai mudar."

- Volte a comunicar amanhã.

- Pois não, Srª Scott.

Capítulo 30

- Preserva-me, ó Deus, pois em Vós encontro refúgio. Sois meu Senhor; não há o bem apartado de Vós. Eu Vos amo, ó Senhor, minha força. O Senhor é minha rocha e minha fortaleza e meu libertador…

Irmã Megan levantou os olhos para deparar com Felix Carpio a observá-la, com uma expressão preocupada.

"Ela está mesmo assustada", pensou Felix.

Desde que haviam iniciado a jornada que ele percebera a profunda ansiedade de irmã Megan. "Nada mais natural. Ela passou só Deus sabe quantos anos trancafiada num convento, e agora é lançada subitamente num mundo estranho e aterrador. Teremos de ser muito gentis com a pobre coitada."

Irmã Megan estava realmente assustada. Rezava com afinco desde que deixara o convento.

"Perdoai-me, Senhor, pois adoro a emoção do que está acontecendo e sei que é uma iniquidade da minha parte."

Por mais que irmã Megan rezasse, no entanto, não podia deixar de pensar que era a aventura mais espantosa que já tivera. No orfanato planejara muitas vezes fugas ousadas, mas era apenas brincadeira de criança. Aquilo era real. Estava nas mãos de terroristas que eram perseguidos pela polícia e exército. Em vez de estar apavorada por isso, irmã Megan sentia-se estranhamente exultada.

Depois de viajarem a noite inteira, pararam ao amanhecer.

Megan e Amparo Jiró ficaram de vigia, enquanto Jaime Miró e Felix Carpio debruçavam-se sobre um mapa.

- São seis quilômetros e meio para Medina del Campo - disse Jaime. - Vamos evitá-la. Há uma guarnição permanente do exército ali, seguiremos para nordeste, na direção de Val ladolid. Devemos chegar lá no início da tarde.

"Muito fácil", pensou irmã Megan.

Fora uma noite longa e extenuante, sem descanso, mas Megan sentia-se muito bem. Jaime estava deliberadamente exigindo o máximo do grupo, mas Megan compreendia por que ele fazia isso. Estava testando-a, à espera que sofresse um colapso. "Pois ele terá uma surpresa", pensou ela.

Na verdade, Jaime Miró estava intrigado com irmã Megan.

Seu comportamento não era exatamente o que ele esperava de uma freira. Encontrava-se a muitos quilômetros do convento, viajando por um território estranho, perseguida, mas mesmo assim parecia gostar da situação. "Que tipo de freira é ela?", especulou Jaime Miró.

Amparo Miró estava menos impressionada. "Terei o maior prazer de me livrar dela", pensava. Ficava sempre junto de Jaime, e deixava a freira caminhar ao lado de Felix.

Os campos eram desertos e belos, acariciados pela suave fragância da brisa de verão. Passaram por aldeias antigas, avistaram um castelo antigo, deserto, no topo da colina.

Amparo parecia a Megan como um animal selvagem… deslizando sem esforço pelas colinas e vales, dando a impressão de que jamais se cansava.

Quando, horas depois, Val ladolid finalmente surgiu ao longe, Jaime parou e virou-se para Felix.

- Está tudo acertado?

- Está.

Megan especulou sobre o que teria sido acertado, e não demorou a descobrir.

- Tomás tem instruções para fazer contato conosco na praça de touros.

- A que horas o banco fecha?

- Cinco. Haverá tempo suficiente. - Jaime acenou com a cabeça. - E hoje deve haver muito dinheiro da folha de pagamento.

Santo Deus, eles vão assaltar um banco!, pensou Megan.

- E o carro? - perguntou Amparo.

- Isso não é problema - garantiu Jaime.

Eles vão também roubar um carro, pensou Megan. Era mais aventura que ela desejava. Deus não vai gostar disso.

Quando o grupo chegou nos arredores de Val ladolid, Jaime advertiu:

- Fiquem no meio da multidão. Hoje é dia de tourada, e haverá milhares de pessoas nas ruas. Não vamos nos separar.

Jaime Miró estava certo sobre a multidão. Megan nunca vira tanta gente. As ruas estavam apinhadas de pedestres, automóveis e motocicletes, pois a tourada atraía não apenas turistas, mas também moradores das cidades próximas. Até as crianças nas ruas brincavam à tourada.

Megan sentia-se fascinada pela multidão, o barulho e confusão ao seu redor. Observava os rostos das pessoas que passavam e especulava como seriam suas vidas. Muito em breve voltarei ao convento, onde nunca mais terei permissão de olhar para o rosto de ninguém. Devo aproveitar ao máximo, enquanto posso.

As calçadas achavam-se repletas de vendedores ambulantes, oferecendo bijuterias, crucifixos e medalhas religiosas, por toda a parte havia o cheiro penetrante a fritos. Megan percebeu de repente que sentia muita fome.

- Jaime, estamos todos com fome. Vamos experimentar alguns desses bolinhos fritos - sugeriu Felix.

Felix comprou quatro bolinhos e deu um a Megan.

- Experimente, irmã. Vai gostar.

Estava delicioso. Por tantos anos, a comida não devia ser desfrutada, mas apenas sustentar o corpo para a glória do Senhor.

Isto é para mim, pensou Megan, irreverente.

- É por aqui - indicou Jaime.

Eles seguiram a multidão, passando pelo parque no centro da cidade, até a Plaza Poinente, que levava à plaza de toros. O interior era uma enorme estrutura de adobe, da altura de três andares. Havia quatro bilheteiras na entrada. As placas na esquerda diziam SOL e na direita SOMBRA. Havia centenas de pessoas paradas nas filas, à espera para comprar os ingressos.