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- Estamos de partida para Logroño. - Ele levantou-se. - Fique olhando para mim, irmã. Se eu não for detido, siga para o portão.

Megan observou, tensa, enquanto Jaime saía para a passagem e se encaminhava para o portão. Ninguém parecia lhe prestar atenção. Assim que Jaime desapareceu, Megan levantou-se e começou a se retirar. Houve um clamor da multidão, e ela virou a cabeça para olhar a arena. Um jovem matador estava caído no chão, sendo escornado pelo touro selvagem. O sangue espalhou-se pela areia.

Megan fechou os olhos e ofereceu uma prece silenciosa: Oh, abençoado Jesus, tenha misericórdia desse homem. Ele não morrerá, haverá de viver. O Senhor puniu-o severamente, mas não o entregou à morte. Amém. Ela abriu os olhos, virou-se e afastou-se apressada.

Jaime, Amparo e Felix esperavam-na na entrada.

- Vamos logo - disse Jaime.

Começaram a andar.

- Qual é o problema? - perguntou Felix a Jaime.

- Os soldados fuzilaram Tomás - respondeu Jaime, muito tenso. - Ele está morto. E a polícia está com Rubio. Ele foi esfaqueado numa briga de bar.

Megan fez o sinal-da-cruz.

- O que aconteceu com irmã Teresa e irmã Lucia? - perguntou, ansiosa.

- Não sei sobre a irmã Teresa. Irmã Lucia também foi detida pela polícia. - Jaime virou-se para os outros. - Temos de nos apressar. - Consultou o relógio. - O banco deve estar cheio.

- Jaime, talvez seja melhor esperar - sugeriu Felix. - Será perigoso apenas nós dois assaltarmos o banco.

Megan escutou o que ele estava dizendo e pensou: Isso não vai detê-lo. E acertou.

Os três se encaminharam para o vasto estacionamento por trás da praça de touros. Quando Megan alcançou-os, Felix examinava um sedã azul.

- Este deve servir - comentou ele. Felix mexeu na fechadura por um momento, abriu a porta e enfiou a cabeça dentro. Um momento depois o motor pegou. - Entrem.

Megan ficou parada, indecisa.

- Estão roubando um carro?

- Pelo amor de Deus! - sibilou Amparo. - Pare de se comportar como uma freira e entre logo!

Os dois homens sentaram-se no banco da frente, com Jaime ao volante. Amparo entrou atrás.

- Você vem ou não? - indagou Jaime.

Megan respirou fundo e entrou no carro, ao lado de Amparo.

Partiram. Ela fechou os olhos. Querido Senhor, para onde estás me levando?

- Se isso a faz sentir-se melhor, irmã - disse Jaime -, não estamos roubando este carro. Apenas o confiscamos, em nome do exército basco.

Megan começou a dizer algumas palavras, mas se conteve. Nada que argumentasse iria fazê-lo mudar de idéia. Ficou em silêncio, enquanto Jaime guiava para o centro da cidade.

Ele vai assaltar um banco, e aos olhos de Deus sou igualmente culpada, pensou Megan. Fez o sinal-da-cruz e em silêncio começou a rezar.

O Banco de Bilbao fica no andar térreo de um prédio de apartamentos de nove andares, na Calle de Cervantes, junto da Plaza de Circular.

Quando o carro parou na frente do prédio, Jaime disse a Felix:

- Mantenha o motor ligado. Se surgir algum problema, saia daqui e vá se encontrar com os outros em Logroño.

Felix ficou aturdido.

- Mas do que está falando? Não pretende entrar aí sozinho, não é mesmo? Não pode. O risco é grande demais, Jaime. Seria muito perigoso.

Jaime deu um tapinha em seu ombro.

- Se saem machucados, então saem machucados - disse ele com um sorriso estampado.

Jaime saiu do carro e os outros observavam-no encaminhar-se para uma loja de artigos de couro várias portas além do banco.

Poucos minutos depois ele reapareceu com uma pasta de executivo.

Acenou com a cabeça para o grupo no carro e entrou no banco.

Megan mal conseguia respirar. Começou a rezar.

Oração é um chamado.

Oração é uma escuta

Oração é uma morada

Oração é uma presença

Oração é uma lamparina acesa com Jesus.

Estou calma e cheia de paz.

Ela não estava calma nem cheia de paz.

Jaime Miró cruzou as duas portas que levavam ao saguão de mármore do banco. Logo depois da entrada, ele notou uma câmara de segurança, no alto da parede. Lançou-lhe um olhar casual e depois examinou o local. Por trás dos balcões, uma escada levava ao segundo andar, onde funcionários trabalhavam em escrivaninhas.

Estava quase na hora de fechar, e o banco encontrava-se repleto de clientes ansiosos em sair logo dali. Havia filas na frente dos três caixas, e Jaime constatou que diversos clientes carregavam pacotes. Entrou numa fila e esperou pacientemente que chegasse sua vez. Ao se postar diante do guichê, sorriu para o caixa e disse:

- Buenas tardes.

- Buenas tardes, senhor. O que deseja?

Jaime inclinou-se para o guichê, tirou do bolso o cartaz dobrado. Entregou ao caixa.

- Quer dar uma olhada nisso, por favor?

O caixa sorriu.

- Pois não, senhor.

Ele desdobrou o cartaz, viu o que era, seus olhos se arregalaram. Fitou Jaime, o pânico estampado nos olhos.

- Não acha que está bem parecido? - murmurou Jaime. - Como está dito aí, já matei muitas pessoas. Portanto, mais uma não fará a menor diferença para mim. Estou sendo claro?

- Es… está sim, senhor. Tenho família. Eu lhe suplico…

- Respeito famílias, e por isso vou lhe dizer o que quero que faça para poupar o pai de seus filhos. - Jaime empurrou a pasta de executivo para o caixa. - Quero que encha isso para mim. E depressa, discretamente. Se acredita sinceramente que o dinheiro é mais importante do que sua vida, então vá em frente, acione o alarme.

O caixa sacudiu a cabeça.

- Não, não, não… - Ele começou a tirar dinheiro da gaveta e meteu na pasta. As mãos tremiam. Quando a pasta ficou cheia, o caixa balbuciou:

- Aí está, senhor. Prometo não acionar o alarme.

- É uma atitude muito sensata - disse Jaime. - E vou lhe explicar por quê, amigo. - Virou-se e apontou para uma mulher de meia-idade, quase no final da fila, segurando um embrulho de papel pardo. - Está vendo aquela mulher? É do nosso grupo. Há uma bomba naquele pacote. Se o alarme soar, ela acionará a bomba no mesmo instante.

O caixa ficou ainda mais pálido.

- Não, por favor!

- É melhor esperar dez minutos, depois que ela for embora, antes de fazer qualquer coisa - advertiu Jaime.

- Pela vida dos meus filhos - sussurrou o caixa.

- Buenas tardes.

Jaime pegou a pasta de executivo e encaminhou-se para a porta. Sentiu que os olhos do caixa o acompanhavam. Parou ao lado da mulher com o pacote e disse:

- Devo cumprimentá-la. Está usando um vestido muito bonito.

A mulher corou.

- Oh… obrigada, senhor… graças.

- De nada.

Jaime virou-se e acenou com a cabeça para o caixa, depois saiu do banco. Levaria 15 minutos até a mulher terminar o que tinha de fazer e ir embora. A essa altura, ele e os outros já estariam longe.

No momento em que Jaime saiu do banco e aproximou-se do carro, Megan quase desfaleceu de alívio.

Felix Carpio sorriu.

- O filho da puta conseguiu escapar. - Ele olhou para Megan. - Desculpe, irmã.

Megan nunca se sentira tão contente por ver alguém em toda a sua vida. Ele conseguiu, pensou. E sozinho. Espere só até eu contar às irmãs o que aconteceu. E depois se lembrou. Nunca poderia contar a ninguém. Quando voltasse ao convento, haveria apenas o silêncio, pelo resto da sua vida. E experimentou um estranho sentimento.

- Vamos embora, amigo - disse Jaime a Felix. - Pode deixar que eu dirijo. - Jogou a pasta no banco traseiro.

- Correu tudo bem? - perguntou Amparo.

Jaime riu.

- Não poderia ter corrido melhor. Devo lembrar-me de agradecer ao coronel Acoca por seu cartão de visitas.

O carro desceu a rua. Na primeira esquina, Cale de Tudela, Jaime virou à esquerda. Um guarda prostrou-se na frente do carro e levantou a mão, fazendo sinal para que parasse. Jaime pisou no freio. O coração de Megan começou a bater forte.