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O guarda aproximou-se do carro. Jaime perguntou calmamente:

- Qual é o problema, senhor guarda?

- O problema, senhor, é que está guiando na contramão, numa rua de mão única. A menos que possa provar que é legalmente cego, está numa situação difícil. - Ele apontou para uma placa na esquina. - A placa está bem visível. Espera-se que os motoristas respeitem a sinalização. É para isso que são colocadas.

- Mil perdões - disse Jaime. - Meus amigos e eu estávamos numa discussão tão séria que nem percebi a placa.

O guarda apoiou-se na janela do motorista. Estudava Jaime, com uma expressão de perplexidade.

- Gostaria que me mostrasse seus documentos, por favor.

- Pois não. - Jaime estendeu a mão para o revólver que estava em baixo do paletó. Felix estava pronto para entrar em ação. Megan prendeu a respiração. Jaime fingiu vasculhar os bolsos. - Sei que estão em algum lugar.

Neste momento, do outro lado da praça, soou um grito alto.

O guarda virou-se. Um homem na esquina batia numa mulher, acertando-lhe com os punhos na cabeça e nos ombros.

- Socorro! - gritou a mulher. - Socorro! Ele está me matando!

O guarda hesitou apenas por um instante.

- Esperem aqui - ordenou.

O guarda correu na direção do homem e da mulher. Jaime engrenou o carro e pisou no acelerador. O carro disparou pela rua de mão única, dispersando os carros que vinham em sentido contrário, sob o barulho de buzinas furiosas. Chegaram à esquina, e Jaime fez a curva, seguindo para a ponte de saída da cidade, pela Avenida Sanchez de Arjona.

Megan olhou para Jaime e fez o sinal-da-cruz. Tinha dificuldade em respirar.

- Você… você mataria o guarda, se aquele homem não agredisse a mulher?

Jaime não se deu ao trabalho de responder.

- A mulher não estava sendo agredida, irmã - explicou Felix. - Os dois eram nossos. Não estamos sozinhos. Temos muitos amigos.

A expressão de Jaime era sombria.

- Teremos de nos livrar deste carro.

Estava deixando os arredores de Val ladolid. Jaime entrou na N620, a estrada para Burgos, no caminho para Logroño. Tomou cuidado para não ultrapassar o limite de velocidade.

- Deixaremos o carro logo após passarmos por Burgos - avisou.

Não posso acreditar que isso esteja acontecendo comigo, pensou Megan. Escapei do convento, estou fugindo do exército, viajando num carro roubado, com terroristas que acabam de assaltar um banco. Senhor, o que mais me reserva?

Capítulo 31

O coronel Ramón Acoca e meia dúzia de membros do GOE encontravam-se no meio de uma reunião de estratégia. Estudavam um grande mapa da região. O coronel disse:

- É evidente que Miró segue para o norte, a caminho do país basco.

- O que pode ser Burgos, Vitoria, Logroño, Pamplona ou San Sebastián.

San Sebastián, pensou Acoca. Mas preciso pegá-lo antes que chegue lá.

Podia ouvir a voz ao telefone: Seu tempo está se esgotando. Não podia se permitir ao fracasso.

Eles atravessavam as colinas ondulantes que anunciavam o acesso a Burgos. Jaime, ao volante, mantinha-se em silêncio.

Só depois de um longo tempo é que falou:

- Felix, quando chegarmos a San Sebastián quero tomar providências para tirar Rubio das mãos da polícia.

Felix balançou a cabeça.

- Será um prazer. Isso os levará à loucura.

- E o que me diz de irmã Lucia? - indagou Megan.

- O que tem ela?

- Não disse que havia sido capturada também?

- Acontece que sua irmã Lucia é uma criminosa procurada pela polícia por homicídio - respondeu Jaime, irónico.

A notícia abalou Megan. Lembrou como Lucia assumira o comando e persuadira-as a se esconderem nas colinas. Gostava de irmã Lucia. Ela disse, obstinada:

- Já que vai salvar Rubio, deveria salvar os dois.

Mas que diabo de freira é essa?, especulou Jaime.

Mas ela estava certa. Tirar Rubio e Lucia debaixo do nariz da polícia seria uma propaganda sensacional e daria manchetes.

Amparo mergulhara num silêncio mal-humorado.

Subitamente, ao longe, na estrada, surgiram três caminhões do exército repletos de soldados.

- É melhor sairmos desta estrada - decidiu Jaime.

No cruzamento seguinte ele pegou a rodovia e seguiu para o leste.

- Santo Dominga de La Calzada fica logo à frente. Há ali um velho castelo abandonado, onde poderemos passar a noite.

Já ao longe podiam avistar os contornos no alto da colina. Jaime pegou uma estrada secundária, evitando a cidade.

O castelo foi se tornando cada vez maior, à medida que se aproximavam. Havia um lago não muito longe dali.

Jaime parou o carro.

- Saiam todos, por favor.

Depois que todos saltaram. Jaime apontou o carro para o lago, pela encosta abaixo, pisou no acelerador, soltou o freio de mão e pulou pela porta. Ficaram observando o carro desaparecer na água.

Megan já ia perguntar como chegariam a Logroño, mas se conteve. Uma pergunta tola. Ele roubará outro carro, é claro.

O grupo virou-se para examinar o castelo abandonado. Um enorme muro de pedra cercava-o, e havia torres em ruínas em cada canto.

- Nos tempos antigos - disse Felix a Megan - os príncipes usavam esses castelos como prisões para seus inimigos.

“E Jaime é um inimigo do Estado, se for apanhado, não haverá prisão para ele, apenas a morte", pensou Megan. "E ele não teve medo." Recordou as palavras de Jaime:

- Tenho fé naquilo por que estou lutando. Tenho fé em meus homens e em minhas armas.

Subiram os degraus de pedra que levavam ao portão da frente, que era de ferro. Estava tão enferrujado que não conseguiram empurrá-lo e se espremeram pela abertura para um pátio calçado com pedra.

O interior do castelo pareceu enorme a Megan. Havia passagens estreitas e cômodos por toda a parte, e aberturas viradas para fora, pelas quais os defensores do castelo podiam repelir os atacantes.

Degraus de pedra levavam ao segundo andar, onde havia outro claustro, um pátio interno. Os degraus estreitavam-se ao subirem para o terceiro andar. O castelo estava deserto.

- Bem, pelo menos há muitos cômodos para se dormir aqui - comentou Jaime. - Felix e eu vamos procurar comida. Escolham seus quartos.

Os homens começaram a descer. Amparo virou-se para Megan.

- Vamos, irmã.

Elas desceram pelo corredor, e todos os cômodos pareciam iguais para Megan. Eram cubículos de pedra vazios, frios e austeros, alguns maiores do que outros. Amparo escolheu o maior.

- Jaime e eu dormiremos aqui. - Olhou para Megan e acrescentou, insiinuante: - Não gostaria de dormir com Felix?

Megan não comentou nada.

- Ou talvez prefira dormir com Jaime. - Amparo deu um passo na direção de Megan. - Não fique com idéias, irmã. Ele é um homem demais para você.

- Não precisa se preocupar. Não estou interessada. - Mesmo enquanto falava, Megan especulou se Jaime Miró seria mesmo homem demais para ela.

Quando Jaime e Felix voltaram ao castelo, uma hora depois, Jaime trazia dois coelhos, Felix carregava lenha e trancou a porta da frente. Megan observou os homens acenderem uma fogueira na enorme lareira.

Jaime limpou e assou os coelhos num espeto.

- Lamentamos não poder oferecer um autêntico banquete às damas - disse Felix -, mas comeremos bem em Logroño. Até lá… divirtam-se.

Depois que terminaram a frugal refeição, Jaime disse:

- Vamos dormir. Quero partir cedo pela manhã.

Amparo disse a Jaime:

- Venha, querido. Já escolhi nosso quarto.

- Bueno, Vamos.

Megan observou-os subirem, de mãos dadas.

Felix fitou-a.

- Já escolheu seu quarto, irmã?

- Já, sim, obrigada.

- Então vamos nos deitar.

Megan e Felix subiram a escada juntos.

- Boa noite - disse Megan.

Felix entregou-lhe um saco de dormir.