- Boa noite, irmã.
Megan queria interrogar Felix sobre Jaime, mas hesitou. Jaime podia pensar que ela queria bisbilhotar e por algum motivo inexplicável Megan queria que ele tivesse a melhor opinião a seu respeito. "Isso é mesmo muito estranho", pensou Megan. "Ele é um terrorista, um assassino, um assaltante de bancos e não sei o que mais, e me preocupo se ele pensa bem a meu respeito." Mesmo enquanto pensava nisso, Megan sabia que havia um outro aspecto.
"Ele é um combatente da liberdade. Assalta bancos para financiar sua causa. Arrisca a vida pelo que acredita. É um homem corajoso."
Ao passar pelos quartos deles, ela ouviu risos de Jaime e Amparo. Entrou no quarto pequeno em que dormiria, ajoelhou-se no chão frio de pedra.
- Santo Deus, perdoai-me por…
Perdoai-me pelo quê? O que fiz? Pela primeira vez na vida, Megan foi incapaz de rezar. Deus estaria escutando?
Entrou no saco de dormir que Felix lhe entregara, mas o sono estava tão distante quanto as estrelas frias que podia avistar pelas estreita janelas.
"O que estou fazendo aqui?", perguntou-se Megan. Os pensamentos voltaram ao convento… ao orfanato. "E antes do orfanato? Por que fui deixada lá? Não acredito realmente que meu pai tenha sido um grande guerreiro ou um toureiro. Mas não seria maravilhoso saber quem ele foi?"
Já estava quase amanhecendo quando Megan resvalou para o sono.
Na prisão, em Aranda de Duero, Lucia Carmine era uma celebridade.
- Você é peixe graúdo em nosso aquário - disse-lhe um guarda. - O governo italiano está enviando alguém para escoltá-la na viagem de volta. Eu gostaria de escoltá-la para minha casa, puta bonita. Qual foi a coisa terrível que você fez?
- Cortei os colhões de um homem por me chamar de puta bonita. Como está meu amigo?
- Vai sobreviver.
Lucia fez uma prece silenciosa de agradecimento. Correu os olhos pelas paredes de pedra de sua cinzenta cela lúgubre e pensou: "Como vou sair daqui?"
Capítulo 31
A notícia do assalto ao banco passou pelos canais competentes da polícia e apenas duas horas depois do acontecimento é que o tenente de polícia fez contato com o coronel Acoca.
Uma hora depois, Acoca chegava a Val ladolid, furioso com a demora.
- Por que não fui informado imediatamente?
- Lamento muito, coronel, mas pensamos que…
- Vocês o tinham nas mãos e deixaram que escapasse!
- Não foi nossa…
- Mande o caixa do banco entrar.
O caixa estava se sentindo muito importante.
- Foi em meu guichê que ele apareceu. Percebi logo que era um assassino, pela expressão em seus olhos. Ele…
- Não tem a menor dúvida de que o homem que o assaltou era Jaime Miró?
- Absolutamente nenhuma. Até me mostrou um cartaz com a cabeça dele a prêmio. Era…
- Ele entrou no banco sozinho?
- Entrou. Apontou para uma mulher na fila e disse que pertencia à quadrilha, mas reconheci-a logo que Miró saiu. É uma secretária cliente nossa…
O coronel Acoca interrompeu-o, impaciente:
- Quando Miró partiu, viu a direção que ele seguiu?
- Saiu pela porta da frente.
A entrevista com o guarda de trânsito não foi mais proveitosa.
- Havia quatro pessoas no carro, coronel. Jaime Miró e outro homem, e duas mulheres no banco traseiro.
- Em que direção eles seguiram?
O guarda hesitou.
- Eles podem ter seguido por qualquer direção, senhor, depois que saíram daquela rua de mão única. - Seu rosto se iluminou. - Mas posso descrever o carro.
O coronel Acoca sacudiu a cabeça, irritado.
- Não precisa se incomodar.
Ela sonhava e podia ouvir as vozes de uma multidão, as pessoas chegavam para queimá-la na fogueira por assaltar um banco. Não foi por mim. Foi pela causa. As vozes se tornaram mais altas.
Megan abriu os olhos, olhando para as estranhas paredes do castelo. O som era real. Vinha de fora.
Megan levantou-se e correu para espreitar pela janela. Lá embaixo, na frente do castelo, havia um acampamento de soldados. Megan foi dominada por um pânico súbito. Eles nos apanharam. Preciso encontrar Jaime.
Correu para o quarto onde Jaime e Amparo dormiam e olhou.
Estava vazio. Desceu a escada correndo para o salão no andar principal. Jaime e Amparo encontravam-se parados perto da porta da frente, que estava trancada, aos sussurros. Felix correu para os dois.
- Verifiquei os fundos. Não há outra saída.
- E as janelas dos fundos?
- Muito pequenas. A única saída é pela porta da frente.
"Onde estão os soldados", pensou Megan. "Estamos encurralados."
- É muito azar nosso que eles tenham escolhido este lugar para acampar - disse Jaime.
- O que vamos fazer? - sussurrou Amparo. - Não há nada que possamos fazer. Temos de ficar aqui até eles partirem. Se…
E nesse instante soou uma batida forte na porta da frente. Uma voz autoritária gritou:
- Abram essa porta!
Jaime e Felix trocaram um olhar rápido e sem dizerem nada sacaram as armas. A voz tornou a gritar:
- Sabemos que há alguém aí dentro! Abram logo!
Jaime disse para Amparo e Megan:
- Saiam da frente.
"É inútil", pensou Megan. "Deve haver uma dúzia de soldados armados lá fora. Não temos a menor chance."
Antes que os outros pudessem detê-la, Megan encaminhou-se rapidamente para a porta da frente e abriu-a.
- Graças a Deus que vocês apareceram! - exclamou ela. - Preciso que me ajudem!
Capítulo 33
O oficial do exército olhou aturdido para Megan.
- Quem é você? O que está fazendo aqui? Sou o capitão Rodrigues e estou à procura…
- Chegou bem a tempo, capitão - Megan segurou-o pelo braço. - Meus dois filhos pequenos estão com tifo e preciso levá-los a um médico. Preciso que entre e me ajude.
- Tifo?
- Isso mesmo. - Megan puxava-o pelo braço. - É terrível. Estão ardendo em febre. Cobertos por pústulas, muito doentes. Chame seus homens e me ajude a levá-los para…
- Deve estar louca, señora! É uma doença altamente contagiosa!
- Não importa. Eles precisam de sua ajuda. Podem estar morrendo. - Ela continuava a puxá-lo.
- Largue-me!
- Não pode me deixar! O que vou fazer?
- Torne a entrar e fique aí até podermos avisar a polícia para mandarem uma ambulância ou um médico.
- Mas…
- É uma ordem, señora. Entre logo. - O capitão gritou: - Sargento, vamos sair daqui!
Megan fechou a porta, encostou-se nela, esgotada. Jaime fitou-a num espanto total.
- Por Deus, foi sensacional! Onde aprendeu a mentir assim?
Megan virou-se para ele e suspirou.
- Quando eu estava no orfanato, tínhamos de aprender a nos defender. Só espero que Deus me perdoe.
- Eu gostaria de ter visto a cara daquele capitão. - Jaime soltou uma risada. - Tifo! Santo Deus! - Ele viu a expressão de Megan. - Peço que me desculpe, irmã.
Lá fora, os soldados levantavam acampamento e partiam apressados. Depois que foram embora, Jaime disse:
- A polícia estará aqui em breve - disse Jaime ao perceber que tinham ido embora. - De qualquer forma, temos um encontro em Logroño.
Quinze minutos depois da partida dos soldados, Jaime anunciou:
- Acho que podemos ir embora agora. - Virou-se para Felix. - Veja o que consegue arrumar na cidade. De preferência um sedã.
Felix sorriu.
- Não há problema.
Meia hora depois eles estavam num velho sedã cinza, seguindo para o leste. Para surpresa de Megan, ela estava sentada ao lado de Jaime.
Felix e Amparo viajavam no banco traseiro. Jaime olhou para Megan, sorrindo.
- Tifo! - exclamou, soltando uma risada.
Megan sorriu.
- Ele parecia ansioso em escapar, não é mesmo?
- Esteve num orfanato, irmã?
- Estive.
- Onde?
- Em Ávila.