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Jaime sacudiu a cabeça.

- Não tenho certeza. Alguém que sabe de todos os nossos planos.

- Então vamos mudar de planos - sugeriu Amparo. - Encontraremos os outros em Logroño e não iremos a Mendavia.

Jaime olhou para Megan.

- Não podemos fazer isso. Precisamos levar as irmãs ao convento.

Megan fitou-o e pensou: "Ele já fez demais por mim. Não devo submetê-lo a um perigo maior do que já enfrentou."

- Jaime, eu posso…

Mas ele sabia o que ela pretendia dizer.

- Não se preocupe, Megan. Todos chegaremos lá sãos e salvos.

"Ele mudou", pensou Amparo. "No começo, não queria nada com nenhuma delas. Agora, está disposto a arriscar a vida por ela. E chama-a de Megan. Não é mais irmã."

- Há pelo menos 15 pessoas que estão a par dos nossos planos - acrescentou Jaime.

- Temos que descobrir quem é o traidor - insistiu Amparo.

- Como faríamos isso? - indagou Felix, dobrando nervosamente as pontas da toalha de mesa.

- Paco está em Madrid, verificando algumas coisas para mim - informou Jaime. - Combinei que ele telefonaria para cá. - Fitou Felix por um momento, depois desviou os olhos. Não dissera que apenas meia dúzia de pessoas conhecia os percursos exatos que os três grupos seguiriam. Era verdade que Felix Carpio fora aprisionado por Acoca. Era também verdade que isso proporcionava um álibi perfeito para Felix. No momento propício, podia-se planejar sua fuga. "Só que eu o tirei de lá antes", pensou Jaime. "Paco está investigando-o. Espero que ligue logo."

Amparo levantou-se e olhou para Megan.

- Ajude-me com a louça.

As duas começaram a levantar a mesa, e os homens foram para a sala de estar.

- A freira… ela está aguentando muito bem - comentou Felix.

- Tem razão.

- Gosta dela, não é mesmo?

Jaime descobriu que tinha dificuldade para fitar Felix.

- Gosto, sim. - "E você a trairia, junto com todos nós."

- E você e Amparo?

- Somos iguais. Ela acredita na causa tanto quanto eu. Toda a sua família foi exterminada pelos Falangistas de Franco. - Jaime levantou-se e espreguiçou-se. - Está na hora de deitar.

- Acho que não conseguirei dormir esta noite. Tem certeza de que há um espião entre nós?

Jaime fitou-o.

- Tenho.

Quando Jaime desceu para o desjejum, pela manhã, Megan não o reconheceu. O rosto fora escurecido, ele usava uma peruca e bigode postiço e vestia roupas andrajosas. Parecia dez anos mais velho.

- Bom dia - disse ele.

E a voz que saía daquele corpo deixou Megan aturdida.

- Onde você…?

- Uso esta casa de vez em quando. Mantenho aqui um estoque de coisas que preciso.

Apenas o tom despreocupado de sua voz, isso forneceu a Megan uma percepção do tipo de vida que levava. De quantas outras casas e disfarces ele precisava para se manter vivo? Quantas fugas por um triz de que ela nada sabia? Megan recordou os homens brutais que haviam atacado o convento e pensou: "Se pegarem Jaime, não terão misericórdia. Eu gostaria de saber como protegê-lo."

A mente de Megan foi povoada de pensamentos que ela não tinha o direito de acalentar.

Amparo preparou o desjejum: bacalhau, leite de cabra, queijo, chocolate quente e grosso e churros.

- Quanto tempo ficaremos aqui? - perguntou Felix enquanto comiam.

Jaime respondeu calmamente:

- Partiremos assim que escurecer. - Mas não tinha a menor intenção de permitir que Felix usasse essa informação. - Tenho algumas coisas para fazer - acrescentou Jaime. - Precisarei de sua ajuda.

- Certo.

Jaime chamou Amparo lá fora.

- Quando Paco ligar, avise-o que voltarei em breve. Anote o recado.

Ela assentiu.

- Tome cuidado.

- Não se preocupe. - Ele virou-se para Megan. - Seu último dia. Amanhã estará no convento. Deve estar ansiosa por chegar.

Ela fitou-o em silêncio por um longo tempo.

- É verdade. - "Não ansiosa", pensou Megan. "Aflita. E gostaria de não me sentir assim. Vou me afastar de tudo isso, mas pelo resto da vida ficarei especulando sobre o que aconteceu com Jaime, Felix e os outros".

Ela observou Jaime e Felix partirem. Sentiu uma tensão entre os dois que não podia compreender.

Amparo a estudava, e Megan lembrou-se de suas palavras: "Jaime é homem demais para você". Amparo disse brutalmente:

- Arrume as camas. Eu faço o almoço.

- Está bem.

Megan foi para os quartos. Amparo ficou parada ali por um momento, observando-a, depois entrou na cozinha.

Durante a hora seguinte, Megan trabalhou, concentrando-se ativamente em varrer, tirar o pó e polir, tentando não pensar, tentando manter a mente afastada do que a incomodava.

"Preciso tirá-lo da cabeça", pensou.

Era impossível. Ele era como uma força da natureza, arrastando tudo em seu caminho. Megan poliu com mais vigor.

Quando Jaime e Felix voltaram, Amparo esperava-os na porta.

Felix estava pálido.

- Não estou me sentindo muito bem. Acho que vou me deitar um pouco.

Ele desapareceu num quarto.

- Paco ligou - anunciou Amparo, muito excitada.

- O que ele disse?

- Tem informações para você, mas não quis falar pelo telefone. Está enviando alguém para encontrá-lo. A pessoa estará na praça ao meio-dia.

Jaime franziu o cenho, pensativo.

- Ele não disse quem é?

- Não. Falou apenas que era urgente.

- Droga. Eu… Ora, não importa. Muito bem, irei ao encontro. Quero que fique de olho em Felix.

Amparo ficou perplexa.

- Não com…

- Não quero que ele use o telefone.

Um brilho de compreensão surgiu no rosto de Amparo.

- Acha que Felix é…?

- Por favor. Faça apenas o que estou pedindo. - Jaime olhou no relógio. - Quase meio-dia. Partirei agora. Estarei de volta dentro de uma hora. Tome cuidado, querida.

- Não se preocupe.

Megan ouviu as vozes.

"Não quero que ele use o telefone."

"Acha que Felix é…?"

"Por favor. Faça apenas o que estou pedindo."

"Então Felix é o traidor", pensou Megan. Ela o vira entrar no quarto e fechar a porta. Ouviu Jaime sair.

Megan entrou na sala de estar. Amparo virou-se.

- Já acabou?

- Ainda não, mas… - Queria perguntar para onde Jaime fora, o que faria a Felix, o que aconteceria em seguida, mas não sentiu a menor vontade de discutir o assunto com aquela mulher.

"Esperarei até a volta de Jaime".

- Pois então acabe - disse Amparo.

Megan voltou para o quarto. Pensou em Felix. Ele parecera muito amigo e afetuoso. Fizera-lhe muitas perguntas, mas agora esse ato de aparente cordialidade assumira um significado diferente. O barbudo procurava informações para transmitir ao coronel Acoca. As vidas de todos corriam perigo.

"Amparo pode precisar de ajuda", pensou Megan. Encaminhou-se para a sala de estar, mas parou abruptamente. Uma voz estava dizendo:

- Jaime acaba de sair. Estará sozinho num banco, na praça principal. Seus homens não devem ter dificuldades para pegá-lo.

Megan ficou imóvel, congelada.

- Ele foi a pé, por isso deve levar uns quinze minutos para chegar lá.

Megan escutava com crescente horror.

- Lembre-se do nosso acordo, coronel - disse Amparo ao telefone. - Prometeu não matá-lo.

Megan recuou para o corredor. Sua mente estava em turbilhão.

Então Amparo era a traidora. E enviara Jaime para uma armadilha.

Recuando sem fazer barulho, a fim de que Amparo não a ouvisse, Megan virou-se e saiu correndo pela porta dos fundos. Não tinha a menor idéia como ajudaria Jaime. Sabia apenas que precisava fazer alguma coisa. Passou pelo portão e começou a descer a rua, andando tão depressa quanto podia sem atrair a atenção, seguindo para o centro da cidade.

"Por favor, Deus, permita-me chegar a tempo", rezou Megan.

O percurso para a praça central era aprazível, as ruas secundárias ensombradas por enormes árvores, mas Jaime se mantinha alheio ao cenário. Pensava em Felix. Fora como um irmão para ele, dera-lhe sua total confiança. O que o transformava num traidor, disposto a pôr em risco as vidas de todos? Talvez o mensageiro de Paco tivesse a resposta. Por que Paco não podia falar pelo telefone? Ele aproximou-se da praça. No meio havia um chafariz e árvores frondosas, com bancos espalhados ao redor. Crianças brincavam. Dois velhos jogavam boule. Alguns homens estavam sentados no banco, aproveitando o sol, lendo, cochilando ou alimentando os pombos. Jaime atravessou a rua, caminhou devagar e sentou-se num banco. Olhou para seu relógio no momento em que a torre começava a bater o meio-dia. O emissário de Paco deve estar chegando.