- Como…? - Ricardo ficou aturdido.
- Foi esfaqueado numa briga de bar. A polícia prendeu-o.
- Mierda! - Ricardo ficou em silêncio por um momento, depois suspirou. - Teremos de tirá-lo de lá, não é mesmo?
- É esse o meu plano - concordou Jaime.
- Onde está irmã Lucia? - perguntou Graciela. - E irmã Teresa?
- Irmã Lucia foi presa - respondeu Megan. - Ela era… era procurada por homicídio. Irmã Teresa morreu.
Graciela fez o sinal-da-cruz.
- Oh, meu Deus!
No picadeiro, um palhaço andava na corda bamba, com um poodle debaixo de cada braço e dois gatos siameses nos enormes bolsos. Os cães tentavam morder os gatos, e as cordas balançavam violentamente, o palhaço fingiu fazer o maior esforço para manter o equilíbrio. Todos vibraram. Era difícil ouvir alguma coisa com tanto barulho. Megan e Graciela tinham muitas coisas para contar uma à outra. Quase que simultaneamente, elas começaram a falar na linguagem de sinais do convento. Os dois homens olharam, espantados.
- Ricardo e eu vamos nos casar…
- Isso é maravilhoso…
- O que aconteceu com você?
Megan começou a responder, mas logo compreendeu que não havia sinais para transmitir as coisas que queria dizer. Teria de esperar.
- Vamos embora - disse Jaime. - Há um furgão à espera lá fora para nos levar a Mendavia. Deixaremos as irmãs no convento e seguiremos viajem.
Eles começaram a subir pela passagem, Jaime segurando o braço de Amparo. Quando chegaram ao estacionamento, Ricardo anunciou:
- Jaime, Graciela e eu vamos casar.
Um sorriso iluminou o rosto de Jaime.
- Isso é maravilhoso! Parabéns! - Ele virou-se para Graciela. - Não poderia escolher homem melhor.
Megan abraçou Graciela.
- Fico muito feliz por vocês dois. - E ela pensou: "Foi fácil para ela tomar a decisão de deixar o convento? Estou pensando em Graciela? Ou em mim mesmo?"
O coronel Acoca acabava de receber uma informação excitada de um ajudante.
- Eles foram vistos no circo há menos de uma hora. Quando chegamos com os reforços, já haviam ido embora. Partiram num furgão azul e branco. O senhor estava certo, coronel. Eles estão indo na direção de Mendavia.
Então finalmente está acabado, pensou Acoca. A caçada fora emocionante, e devia admitir que Jaime Miró fora um inimigo à altura. A OPUS DEI terá agora planos ainda maiores para mim.
Através de um potente binóculos Zeiss, Acoca observou o furgão azul e branco aparecer no alto de uma colina e se encaminhar para o convento lá embaixo. Soldados fortemente armados escondiam-se entre as árvores, nos dois lados da estrada e em volta do convento. Não havia a menor possibilidade de alguém escapar.
Enquanto o furgão se aproximava da estrada do convento e parava, o coronel Acoca gritou pelo walkie-talkie:
- Agora! Fechem o cerco!
A manobra foi executada com perfeição. Dois pelotões de soldados empunhavam armas automáticas, assumiram as posições, bloqueando a estrada e cercando o furgão. Acoca permaneceu imóvel por um momento, observando a cena, saboreando esse momento de glória. Depois, lentamente, aproximou-se do furgão, com a pistola na mão.
- Vocês estão cercados! - gritou. - Não têm a menor chance! Saiam com as mãos levantadas! Um de cada vez! Se tentarem resistir, todos morrerão!
Houve um longo momento de silêncio, e depois a porta do furgão foi aberta, bem devagar, três homens e três mulheres saíram, trêmulos, as mãos levantadas acima da cabeça.
Eram estranhos.
Capítulo 36
No alto de uma colina, por cima do convento, Jaime e os outros observavam Acoca e seus homens aproximarem-se do furgão. Viram os passageiros apavorados saltarem, as mãos levantadas, assistiram à cena desempenhada em pantomima.
Jaime quase podia ouvir o diálogo:
- Quem são vocês?
- Trabalhamos num hotel perto de Logroño.
- O que estão fazendo aqui?
- Um homem nos deu cem mil pesetas para entregar este furgão no convento.
- Quem é o homem?
- Não sei. Nunca o tinha visto antes.
- É este aqui no retrato?
- É, sim. É ele.
- Vamos sair daqui - disse Jaime.
Eles estavam numa camionete branca, de volta para Logroño. Megan olhava admirada para Jaime.
- Como soube?
- Que o coronel Acoca estaria à nossa espera no convento? Ele me disse.
- Como assim?
- A raposa precisa pensar como o caçador, Megan. Coloquei-me no lugar de Acoca. Onde ele aprontaria uma armadilha para mim? Ele fez exatamente o que eu faria.
- E se ele não aparecesse?
- Então seria seguro você entrar no convento.
- O que faremos agora? - perguntou Felix.
Era o que todos queriam saber.
- A Espanha não é segura para qualquer um de nós por algum tempo - disse Jaime. - Seguiremos para San Sebastián, e de lá iremos para a França. - Ele olhou para Megan. - Há conventos Cistercienses na França.
Era mais do que Amparo podia suportar.
- Por que não se entrega? Se continuar assim, haverá mais sangue derramado, mais vidas perdidas…
- Você perdeu o direito de falar - interrompeu-a Jaime, bruscamente. - Deve apenas se sentir grata por continuar viva.
- Ele virou-se para Megan. - Há dez passagens nos Pireneus que levam de San Sebastián à França. Será nosso caminho.
- É muito perigoso - protestou Felix. - Acoca estará à nossa procura em San Sebastián. Esperará que cruzemos a fronteira para a França.
- Se é tão perigoso assim… - começou Graciela.
- Não precisa se preocupar - garantiu Jaime. - San Sebastián é território basco.
A camioneta aproximava-se outra vez dos arredores de Logroño.
- Todas as estradas para San Sebastián estarão vigiadas - advertiu Felix. - Como planeja nos levar até lá?
Jaime já decidira a questão.
- Iremos de trem.
- Os soldados revistarão os trens - objetou Ricardo.
Jaime lançou um olhar pensativo para Amparo.
- Acho que não. Nossa amiga aqui vai nos ajudar. Sabe como entrar em contato com o coronel Acoca?
Ela hesitou.
- Sei.
- Ótimo. Vai ligar para ele.
Pararam numa cabine telefônica na estrada. Jaime entrou com Amparo na cabine e fechou a porta. Empunhava uma pistola.
- Sabe o que dizer?
- Sei.
Observou-a discar um número. Quando atenderam, ela disse:
- Aqui é Amparo Jirón. O coronel Acoca está à espera da minha ligação… Obrigada. - Ela olhou para Jaime. - Estão transferindo a ligação. - A arma se comprimiu contras suas costelas.
- Precisa mesmo…?
- Limite-se a fazer o que estou mandando.
A voz de Jaime era fria. Um momento depois ele ouviu a voz de Acoca ao telefone.
- Onde você está?
A arma se comprimiu com mais força ainda.
- Eu… eu… estamos deixando Logroño.
- Sabe para onde nossos amigos vão?
- Sei.
O rosto de Jaime estava bem próximo do dela, os olhos duros.
- Eles decidiram inverter o rumo para despistá-lo. Estão a caminho de Barcelona. Ele está guiando um Seat branco. Seguirá pela estrada principal.
Jaime acenou com a cabeça para ela.
- Eu… eu tenho de desligar. O carro está aqui.
Jaime desligou.
- Muito bem. Vamos embora. Nós lhe daremos meia hora para tirar seus homens daqui.
Meia hora depois eles estavam na estação ferroviária.
Havia três tipos de trens de Logroño para San Sebastián: o TALGO era o comboio de luxo; o comboio de segunda classe era o TER; e o pior e mais barato, desconfortável e sujo, era ironicamente chamado de expresso - parava em cada estação, por menor que fosse, de Logroño a San Sebastián.
- Pegaremos o expresso - anunciou Jaime. - A esta altura, os homens de Acoca estão empenhados em parar cada Seat branco na estrada para Barcelona. Compraremos as passagens separadamente e nos encontramos no último vagão. - Virou-se para Amparo. - Você vai primeiro. Estarei logo atrás.