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O coronel Acoca observava a enorme multidão em desespero.

Gritou:

- Saiam todos da frente ou começaremos a atirar!

Jaime advertiu, do caminhão do meio:

- Eu não o aconselharia a fazer isso. Essas pessoas o odeiam pelo que está tentando fazer. Uma palavra minha e o liquidarão junto com seus homens. Há uma coisa que se esqueceu, coronel. São Sebastián é uma cidade basca. É a minha cidade. - Ele virou-se para seu grupo. - Vamos sair daqui. - Jaime ajudou Megan a descer, os outros os seguiram.

O coronel ficou olhando, impotente, o rosto contraído em fúria. A multidão aguardava, hostil e silenciosa.

Jaime encaminhou-se para o coronel.

- Pegue seus caminhões e volte para Madrid.

Acoca olhou em redor, contemplando a multidão, que continuava a aumentar.

- Eu… não vai escapar impune, Miró.

- Já escapei. E agora saia daqui. - Ele cuspiu no rosto de Acoca.

O coronel fitou-o em silêncio por um longo momento, com uma expressão de ódio assassino. "Não pode acabar assim", pensou, desesperado. "Eu estava tão perto… Era o xeque-mate." Mas Acoca sabia que para ele, era pior do que a derrota. Era uma sentença de morte. A OPUS DEI estaria à sua procura em Madrid. Olhou para a multidão em redor. Não tinha opção. Virou-se para o motorista e disse, a voz sufocada de fúria:

- Vamos embora.

A multidão recuou, observando os soldados embarcarem nos caminhões. Um momento depois os veículos começaram a afastar-se descendo a rua, e a multidão aclamou delirante. Começou com uma aclamação por Jaime Miró e foi se tornando mais e mais alta, e logo estavam aclamando por sua liberdade e a luta contra a tirania, a vitória iminente, as ruas ressoando com o barulho da celebração.

Dois adolescentes gritaram até ficarem roucos. Um virou-se para o outro.

- Vamos nos juntar à ETA.

Um casal idoso abraçou-se, e a mulher murmurou:

- Talvez agora nos devolvam nossa fazenda.

Um velho estava parado sozinho no meio da multidão, observando em silêncio, enquanto os caminhões partiam. E comentou:

- Eles voltarão um dia.

Jaime pegou a mão de Megan e disse:

- Já acabou. Estamos livres. Atravessaremos a fronteira dentro de uma hora. Eu a levarei para casa da minha tia.

Ela fitou-o nos olhos.

- Jaime…

Um homem abriu caminho pela multidão e aproximou-se de Megan.

- Com licença - disse, ofegante. - Você é a irmã Megan?

Ela virou-se para ele.

- Sou, sim.

Ele soltou um suspiro de alívio.

- Levei muito tempo para encontrá-la. Meu nome é Alan Tucker. Posso lhe falar por um momento?

- Claro.

- A sós.

- Desculpe, mas estou de partida para…

- Por favor. É muito importante. Vim de Nova York para encontrá-la.

Megan ficou ainda mais perplexa.

- Para me encontrar? Não compreendo. Por quê…?

- Explicarei tudo, se me conceder um momento.

O estranho pegou-a pelo braço e conduziu-a pela rua, falando depressa. Megan olhou para trás uma vez, para o lugar em que Jaime Miró continuava parado, à sua espera.

A conversa de Megan com Alan Tucker virou seu mundo pelo avesso.

- A mulher que represento gostaria de conhecê-la.

- Não estou entendendo. Que mulher? O que ela quer comigo?

"Eu gostaria de saber a resposta para isso", pensou Alan Tucker.

- Não estou autorizado a falar sobre isso. Ela a espera em Nova York.

Não fazia sentido. Deve haver algum equívoco.

- Tem certeza que encontrou a pessoa certa… irmã Megan?

- Tenho, sim. Só que seu nome não é Megan… é Patricia.

E, num relance súbito e vertiginoso, Megan soube de tudo.

Depois de tantos anos, sua fantasia estava prestes a se consumar. Finalmente descobriria quem era. A mera perspectiva era emocionante… e aterradora.

- Quando… quando terei de partir? - Sua garganta estava de repente tão seca que ela mal conseguia falar.

"Quero que descubra onde ela está e traga para mim o mais depressa possível."

- Imediatamente. Providenciarei seu passaporte.

Ela virou-se e avistou Jaime parado na frente do hotel, à sua espera.

- Dê-me um minuto, por favor. - Megan voltou para Jaime atordoada, com a sensação de que vivia um sonho.

- Você está bem? - perguntou Jaime. - Aquele homem a está incomodando?

- Não. Ele é… não.

Ele pegou-lhe a mão.

- Quero que venha comigo. Pertencemos um ao outro, Megan.

"Seu nome não é Megan… é Patricia."

Ela fitou o rosto bonito de Jaime e pensou: "Também quero ficar junto de você. Mas teremos de esperar. Primeiro, preciso de descobrir quem sou."

- Jaime… quero ir com você. Mas há uma coisa que tenho de fazer primeiro.

Ele estudou-a, com uma expressão transtornada.

- Vai embora?

- Por algum tempo. Mas voltarei.

Jaime permaneceu em silêncio, a contemplá-la, por um longo momento, depois balançou a cabeça lentamente.

- Está certo. Pode fazer contato comigo por intermédio de Largo Cortez.

- Voltarei para você. Prometo.

Megan tinha toda a intenção de voltar. Mas isso foi antes de se encontrar com Ellen Scott.

Capítulo 37

- Deus Israel conjugat vos; et ipse sit vobiiscum, qui, misertus est duobus unicis… plenius benedicere te… O Deus de Israel vos une e está convosco… e agora, Senhor, faça com que eles Vos abençoem ainda mais. Abençoado sejam todos os que amam o Senhor, que andem por Seus caminhos. Glória…

Ricardo desviou os olhos do padre e contemplou Graciela, de pé ao seu lado. "Eu tinha razão. Ela é a noiva mais linda do mundo."

Graciela mantinha-se imóvel, escutando as palavras do padre ecoarem pela vasta igreja abobadada. Havia uma profunda sensação de paz naquele lugar. Parecia que Graciela estava lotada com todos os fantasmas do passado, todos os milhares de pessoas que por ali haviam passado, geração após geração, em busca de perdão, realização e alegrias. Lembrando-a muito do convento. "Sinto como se tivesse voltado para casa", pensou Graciela. "Ao lugar a que pertenço."

- Exaudi nos, omnipotens et misericors Deus; ut, quod nostro ministratur officio, tua benedictione potius impleatur. Per Dominum… Escutai-nos, Todo-Poderoso e misericordioso Deus, para que tudo o que seja feito por nosso ministério possa se realizar abundante com Vossa bênção…

"Ele me abençoou, mais do que mereço. Que eu seja digna d'Ele."

- In te speravi, Domine: dixi: Tu es Deus meus: in manibus tuis tempora mea… Em Vós, ó Senhor, tenho esperado; eu disse: Vós sois meu Deus; meus tempos estão em Vossas mãos… Meus tempos estão em Vossas mãos. Prestei um juramento solene de devotar o resto da minha vida a Ele.

- Suscipe, quasumus, Domine, pro sacra connubii lege munus… Recebei, nós Vos suplicamos, ó Senhor, a oferenda que Vos fazemos, em nome de santa união do matrimônio…

As palavras pareciam reverberar na cabeça de Graciela. Tinha a sensação de que o tempo parara.

- Deus qui potestate virtutis tuae de nihilo cunceta fecisti… Ó Deus que com Seu poder e força fez todas as coisas do nada…

- Ó Deus, que saudaste o matrimônio para prenunciar a união de Cristo com a Igreja… olhai em vossa misericórdia para esta donzela que se une em matrimônio e Vos suplica proteção e força…

"Mas como Ele pode ter misericórdia comigo quando O estou traindo?"

Graciela descobriu-se de repente com dificuldade de respirar. As paredes pareciam comprimi-la.

- Nihil in ea ex atibus suis ille aucto praevaricationis usurpet… Concedei que o autor do pecado não lance sobre ela seu mal…

Foi nesse instante que Graciela soube. E sentiu como se um pesado fardo fosse removido. Foi inundada por uma alegria intensa.

O padre continuava:

- Que ela possa ganhar a paz do reino dos céus. Vos pedimos para abençoar este casamento e…