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- Já sou casada - declarou Graciela, em voz alta.

Houve um momento de silêncio chocado, Ricardo e o padre fitavam-na, aturdidos. O rosto de Ricardo estava pálido.

- Graciela, o quê…?

Ela pegou-lhe o braço e murmurou gentilmente:

- Sinto muito, Ricardo.

- Eu… eu não entendo. Deixou de me amar?

Ela sacudiu a cabeça.

- Eu o amo mais do que minha própria vida. Mas minha vida não me pertence mais. Entreguei-a a Deus há muito tempo.

- Não! Não posso permitir que sacrifique sua…

- Ricardo, querido… Não é um sacrifício. É uma bênção. Encontrei no convento a primeira paz que conheci. Você é uma parte do mundo a que renunciei… a melhor parte. Mas renunciei. Devo voltar ao meu mundo.

O padre ouvia imóvel, em silêncio.

- Por favor, perdoe-me pelo sofrimento que estou lhe causando, mas não posso voltar atrás em meus votos. Estaria traindo tudo que acredito. Sei disso agora. Nunca poderia fazê-lo feliz. Compreenda, por favor.

Ricardo fitava-a aturdido, abalado, não foi capaz de dizer coisa alguma. Era como se algo nele tivesse morrido. Graciela contemplou seu rosto abatido, e o coração se angustiou por ele. Beijou-o no rosto e murmurou:

- Eu amo você. - Seus olhos se encheram de lágrimas. - Rezarei por você. Rezarei por nós dois.

Capítulo 38

Ao final da tarde de sexta-feira, uma ambulância militar parou na entrada de emergência do hospital de Aranda de Duero. Um atendente, acompanhado por dois guardas uniformizados, passou pelas portas de vaivém e aproximou-se do supervisor, por trás de uma mesa.

- Temos uma ordem aqui para buscar um tal de Rubio Arzano - disse um dos guardas, estendendo o documento.

O supervisor examinou o documento e franziu o rosto.

- Acho que não tenho autorização para liberar o paciente. O administrador é que deve resolver.

- Está certo. Vá chamá-lo.

O supervisor hesitou.

- Há um problema. Ele está ausente pelo fim de semana.

- Não é problema nosso. Tenho uma ordem de entrega, assinada pelo coronel Acoca. Quer ligar para ele e comunicar que não vai cumpri-la?

- Claro que não - apressou-se o supervisor em dizer. - Isso não será necessário. Mandarei aprontarem o prisioneiro.

A menos de um quilômetro de distância, na frente da cadeia da cidade, dois detetives saíram de um carro de polícia e entraram no prédio. Aproximaram-se do sargento de plantão.

Um dos detetives mostrou sua identificação.

- Vim buscar Lucia Carmine.

O sargento fitou os dois detetives.

- Ninguém me disse nada.

Um dos detetives suspirou.

- A droga da burocracia. A mão esquerda nunca diz o que a direita está fazendo.

- Deixe-me ver a ordem de transferência.

O detetive entregou-a.

- Assinada pelo coronel Acoca, hein?

- Isso mesmo.

- Para onde vão levá-la?

- Madrid. O coronel quer interrogá-la pessoalmente.

- É mesmo? Bom, acho melhor eu confirmar com ele.

- Não há necessidade - protestou um dos detetives.

- Temos ordens para manter uma vigilância rigorosa sobre essa mulher. O governo italiano está fazendo tudo para conseguir sua estradição. Se o coronel a quer, terá de me dizer pessoalmente.

- Está perdendo seu tempo, e…

- Tenho muito tempo, amigo. O que não tenho é outro rabo se perder o meu. - Pegou o telefone e disse: - Ligue-me com o coronel Acoca, em Madrid.

- Meu Deus! - exclamou um dos detetives. - Minha mulher vai me matar se eu chegar atrasado para o jantar outra vez. Além do mais, o coronel provavelmente não está e…

O telefone tocou.

- O gabinete do coronel está na linha.

O sargento lançou um olhar triunfante para os detetives.

- Aqui é o sargento da delegacia em Aranda de Duero. É importante que eu fale com o coronel Acoca.

Um dos detetives olhou para seu relógio, impaciente.

- Mierda! Tenho coisas melhores a fazer do que ficar por aqui e…

- Alô? Coronel Acoca?

A voz trovejou pelo telefone:

- Sou eu mesmo. O que é?

- Tenho dois detetives aqui, coronel, querendo que eu entregue uma prisioneira sob a sua custódia.

- Lucia Carmine?

- Isso mesmo, senhor.

- Eles apresentam uma ordem assinada por mim?

- Apresentam, senhor. Eles…

- Então por que está me incomodando? Entregue-a!

- Mas pensei…

- Não pense! Cumpra as ordens!

A ligação foi cortada. O sargento engoliu em seco.

- Ele… ahn…

- Ele tem um pavio curto, não é mesmo? - comentou um dos detetives, sorrindo.

O sargento levantou-se, tentando conservar a dignidade.

- Vou mandar trazerem a prisioneira.

Na viela por trás da delegacia, um menino observava um homem num poste telefônico desligar um grampo e descer.

- O que está fazendo? - perguntou o menino.

O homem passou a mão pelos cabelos do menino, desmanchando-os.

- Ajudando um amigo, muchacho, ajudando um amigo…

Três horas depois, numa isolada casa de fazenda, ao norte, Lucia Carmine e Rubio Arzano se reencontraram.

Acoca foi despertado às três horas da madrugada pelo telefone. A voz familiar disse:

- O comitê gostaria de encontrá-lo.

- Pois não, senhor. Quando?

- Agora. Uma limusene irá buscá-lo dentro de uma hora. Esteja pronto, por favor.

Ele desligou e ficou sentado na beira da cama. Acendeu um cigarro e deixou que a fumaça lhe penetrasse pelos pulmões.

"Uma limusine irá buscá-lo dentro de uma hora. Esteja pronto, por favor."

Ele estaria pronto.

Foi para o banheiro e examinou sua imagem no espelho. Contemplava os olhos de um homem derrotado.

"Eu estava tão perto", pensou, amargurado. "Tão perto…"

O coronel Acoca começou a fazer a barba, com todo cuidado. Depois de terminar, tomou um demorado banho de chuveiro, escolheu as roupas que usaria.

Exatamente uma hora depois, ele saiu pela porta da frente e deu uma olhada na casa que sabia que nunca mais tornaria a ver. Não haveria nenhuma reunião, é claro. Os homens não tinham mais nada a discutir com ele.

Uma limusine preta e comprida esperava na frente da casa.

Uma porta foi aberta quando ele se aproximou. Havia dois homens na frente e dois atrás.

- Entre, coronel.

Ele respirou fundo e entrou no carro, que no mesmo instante partiu pela noite escura.

"É como um sonho", pensou Lucia. "Estou olhando pela janela para os Alpes suíços. Cheguei realmente."

Jaime Miró providenciara um guia para que ela chegasse sã e salva a Zurique. E lá chegara ao entardecer.

Pela manhã irei ao Banco Leu.

O pensamento deixou-a nervosa. E se alguma coisa saísse errada? E se o dinheiro não tivesse mais lá? E se…?

Enquanto a primeira claridade do novo dia avançava pelas montanhas, Lucia ainda estava acordada. No início da manhã, ela deixou o Baur au Lac Hotel e aguardou na frente do banco pelo início do expediente. Um homem de meia-idade, de aparência gentil, abriu-lhe a porta.

- Entre, por favor. Está esperando há muito?

"Apenas uns poucos de meses", pensou Lucia.

- Não.

Os dois entraram.

- Em que podemos servi-la?

Podem me tornar rica.

- Meu pai tem uma conta aqui. Pediu-me que viesse e… assumisse a conta.

- É uma conta numerada?

- É, sim.

- Pode me fornecer o número, por favor?

- 2A149207.

Ele balançou a cabeça.

- Um momento, por favor.

Lucia observou-o desaparecer num cofre nos fundos do banco.

Os clientes começaram a entrar. "Tem de estar lá", pensou Lucia.

Nada deve sair…

O homem retornou. Ela nada podia perceber por sua expressão.

- Esta conta… disse que estava em nome de seu pai?