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— Pelo menos, é bem-educado.

— Assim espero — disse o comandante Bey impaciente.

— Tem idéia de quem poderia tê-lo enviado? — Nenhuma. Excluindo tenhamos 158 suspeitos. nós três, eu temo que — Cento e cinqüenta e sete — retrucou Kaldor. O tenente-comandante Lorenson tem um álibi excelente. Ele estava morto na ocasião.

— Isso não facilita nem um pouco — disse o comandante com um sorriso amarelo.

— Tem alguma teoria, doutor? „De fato, tenho”, pensou Kaldor. „Eu vivi em Marte durante dois de seus longos anos, meu palpite ficaria nos Sabras, mas é só um palpite e posso estar errado.” — Ainda não, comandante. Mas ficarei de olhos abertos. Se descobrir alguma coisa, eu lhe informarei, desde que seja possível. Os dois oficiais o entenderam perfeitamente. Em sua função de conselheiro, Moisés Kaldor não tinha que responder nem mesmo ante o comandante. Ele era a coisa mais próxima que existia, a bordo da Magalhães, de um padre confessor.

— Eu presumo, Dr. Kaldor, que o senhor me informará caso venha a descobrir qualquer coisa que possa colocar em perigo esta missão. Kaldor hesitou e então assentiu brevemente. Esperava não se ver colocado no dilema tradicional do padre que recebe a confissão de um assassino que ainda está planejando o seu crime. „Não estou conseguindo muita ajuda”, pensou o comandante com amargura. „Mas tenho confiança absoluta nestes dois homens e preciso de alguém com quem conversar, mesmo que a decisão final tenha que ser minha.” — Minha primeira pergunta é: devo responder a esta mensagem? Ou não devo tomar conhecimento dela? Ambos os movimentos seriam arriscados. Se for apenas uma sugestão casual, feita talvez por um único indivíduo num momento de perturbação psíquica, então não seria sensato levá-la a sério. Mas se vier de um grupo, então talvez o diálogo possa ajudar. Poderia até desarmar a situação e identificar as pessoas em questão. „E o que você faria com elas então?”, perguntou o comandante a si mesmo. „Prenderia a ferros?” — Eu acho que devemos falar com elas — sugeriu Kaldor.

— Problemas dificilmente desaparecem quando são ignorados.

— Eu concordo — disse o comandante Malina.

— Mas tenho certeza de que não é ninguém das tripulações de Propulsão e Força. Eu conheço todos eles desde que se graduaram e a alguns bem antes disso. „Eu ficaria surpreso”, pensou Kaldor. „Quem é que chega realmente a conhecer alguém?” — Muito bem — disse o comandante, levantando-se — isso já está decidido. E, por via das dúvidas, acho bom recapitular um pouco de história. Eu creio que a Magalhães teve problemas com sua tripulação.

— De fato, teve — respondeu Kaldor.

— Mas estou certo de que vocês não terão de deixar ninguém na praia. „Ou enforcar um dos comandantes”, acrescentou para si mesmo. Teria sido muita falta de tato mencionar este trecho da história. E teria sido ainda pior lembrar ao comandante Bey algo que certamente ele não teria esquecido: que o grande navegador fora assassinado antes de completar sua missão.

32. CLÍNICA

Desta vez o caminho de volta à vida não fora preparado com tão cuidadosa antecedência. O segundo despertar de Loren Lorenson não

fora tão confortável quanto o primeiro. De fato foi tão desagradável que ele por vezes desejou ter sido abandonado ao esquecimento. Quando recuperou a semi-consciência, ele rapidamente a lamentou. Havia tubos descendo por sua garganta e fios ligados aos seus braços e pernas. Fios! Sentiu um súbito pânico ante a memória daquele mortífero arrastar para baixo, mas controlou suas emoções. Agora havia uma outra coisa com que se preocupar. Não parecia estar respirando, não conseguia detectar nenhum movimento em seu diafragma. „Que estranho, acho que eles flanquearam o funcionamento de meus pulmões.” Uma enfermeira deve ter sido alertada pelos monitores pois subitamente houve uma voz suave junto de seu ouvido e ele sentiu uma sombra estender-se sobre suas pálpebras, ainda muito cansadas para se abrirem.

— Está se saindo muito bem, Sr. Lorenson. Não há nada com que se preocupar. Poderá ficar de pé dentro de alguns dias. Não, não tente falar. „Eu não tinha a intenção de fazê-lo”, pensou Loren. „Eu sei exatamente o que aconteceu.” Ouviu então o fraco assovio de um jato hipodérmico, um breve frio gélido em seu braço e uma vez mais o abençoado esquecimento. A ocasião seguinte em que despertou, para seu grande alívio, tudo estava bem diferente, os tubos e fios haviam desaparecido. Embora ainda se sentisse muito fraco não havia mais desconforto. E ele se encontrava respirando novamente num ritmo firme e normal.

— Alô — disse uma forte voz masculina a alguns metros de distância.

— Bem-vindo de volta. Loren virou a cabeça em direção ao som e teve uma visão indistinta de uma figura enfaixada numa cama adjacente.

— Creio que não me reconhece, Sr. Lorenson. Tenente Bill Horton, engenheiro de comunicações e ex-surfista.

— Oh, alô Bill, o que você andou fazendo? — sussurrou Loren. Mas então a enfermeira chegou e terminou a conversa com outra hipodérmica bem posicionada. Agora ele se sentiu perfeitamente recuperado e só queria receber permissão para se levantar. A cirurgiã-comandante Newton acreditava ser preferível deixar que seus pacientes soubessem o que estava acontecendo com eles e por quê. Mesmo que não entendessem coisa alguma, isto ajudava a mantê-los quietos, de modo que a aborrecida presença desses pacientes não afetasse em demasia o perfeito funcionamento da unidade médica.

— Você pode se sentir muito bem, Loren — ela disse —, mas seus pulmões ainda estão se recuperando e você deve evitar qualquer esforço até que eles tenham voltado à sua capacidade total. Se os oceanos de Thalassa fossem como os da Terra, não teria havido problema. Mas eles são muito menos salinos, são de água potável, lembra-se? E você bebeu um litro dela. Como os seus fluidos corpóreos são mais salgados que o mar, a balança isotônica foi inteiramente alterada. Por isso houve um bocado de danos às membranas, devido à pressão osmótica. Nós tivemos que realizar uma boa pesquisa em alta velocidade no computador-arquivo da nave, antes que pudéssemos cuidar de você. Afinal, afogamento não é um perigo normal no espaço.

— Eu vou ser um bom paciente — disse Loren.

— E certamente aprecio tudo o que fizeram. Mas quando poderei receber visitas? — Há uma esperando lá fora. Vocês têm quinze minutos. Depois disso a enfermeira a mandará embora.

— E não se incomode comigo — disse o tenente Horton —, eu estou dormindo profundamente.

33. MARÉS

Mirissa sentia-se claramente indisposta, sendo evidente que era tudo culpa da falha da pílula. Pelo menos tinha o consolo de saber que isto só poderia acontecer uma vez mais, quando (e se!) ela tivesse o segundo filho permitido. Era incrível pensar que praticamente todas as gerações de mulheres, haviam sido forçadas a suportar aquele desconforto mensal durante metade de suas vidas. Seria pura coincidência, ela se perguntava, que o ciclo de fertilidade se aproximasse ao período da única Lua gigante da Terra? Imagine se funcionasse do mesmo modo em Thalassa, com seu dois satélites tão próximos! Talvez fosse ótimo que suas marés fossem quase imperceptíveis, o pensamento de ciclos menstruais de cinco e sete dias se chocando em desarmonia era tão comicamente horrível que ela não podia deixar de sorrir e sentir-se imediatamente bem melhor. Tinha levado semanas para tomar sua decisão e ainda não contara a Loren, e muito menos a Brant, ocupado em reparar o Calypso na Ilha do Norte. Teria feito isto se ele não a tivesse abandonado, em seu acesso de fanfarronice e machismo, fugindo sem luta? Não, isto não era justo, era uma reação primitiva, mesmo préhumana. E no entanto tais instintos custavam a morrer. Loren lhe contara, em tom de quem se desculpa, das vezes em que ele e Brant