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— Tão bem quanto se poderia esperar — respondeu Amys. — Ele exige demais de si mesmo e não dá ouvidos a ninguém. Só a Moiraine. — Amys não parecia contente.

— Aviendha fica com ele a maior parte do tempo — completou Egwene. — Está cuidando bem dele para você.

Nynaeve duvidava. Não sabia muito sobre os Aiel, mas suspeitava que, se Amys dizia “demais”, qualquer outra pessoa diria “de maneira fatal”.

Elayne pareceu concordar.

— Então por que ela está deixando que ele exija tanto de si? O que ele está fazendo?

Bastante coisa, ao que parecia, e além da conta. Duas horas por dia treinando a espada com Lan ou qualquer outra pessoa que encontrasse. Aquilo fez a boca de Amys se estreitar de amargura. Mais duas estudando o modo Aiel de lutar sem armas. Egwene podia considerar isso estranho, mas Nynaeve sabia bem como era ficar indefeso quando não se conseguia canalizar. Rand, no entanto, com certeza nunca se veria nessa situação. Tornara-se um rei, ou algo maior, cercado por guardas Far Dareis Mai e dando ordens a lordes e ladies. Na verdade, passava tanto tempo lhes dando ordens e perseguindo-os para se certificar de que estavam sendo cumpridas que não desperdiçaria tempo com refeições se as Donzelas não lhe levassem comida onde quer que ele estivesse. Por algum motivo, enquanto aquilo parecia irritar Egwene quase tanto quanto irritava Elayne, Amys estava se divertindo, embora seu rosto tenha retomado a dureza Aiel assim que ela se deu conta de que Nynaeve percebera. Outra hora de cada dia era concedida a uma estranha escola que ele fundara e que convidava não só estudiosos, como artesãos, desde um sujeito que fazia lunetas a uma mulher que construíra um tipo de besta imensa com polias capazes de atirar uma lança a uma milha de distância. Rand não contara a ninguém qual era seu propósito com aquilo, exceto talvez a Moiraine, mas a única resposta que a Aes Sedai dera a Egwene foi que o ímpeto de deixar algum legado era forte em todos. Moiraine não parecia se importar com o que Rand fazia.

— Os Shaido que sobraram estão recuando para o norte — informou Amys, seca —, e outros mais atravessam a Muralha do Dragão para se juntar a eles todos os dias, mas Rand al’Thor parece ter se esquecido disso. Está mandando as lanças para o sul, em direção a Tear. Metade já foi. Rhuarc diz que ele nem explicou o motivo para os chefes, e acho que Rhuarc não mentiria para mim. Tirando talvez Aviendha, Moiraine é quem fica mais perto de Rand al’Thor, mas, ainda assim, ela se recusa a fazer perguntas a ele. — Balançando a cabeça, ela resmungou: — Mas, em defesa dela, posso dizer que nem Aviendha descobriu alguma coisa.

— A melhor maneira de guardar um segredo é não contá-lo a ninguém — respondeu Elayne, o que rendeu a ela um olhar sério. Amys não ficava muito longe de Bair quando o assunto era olhares que deixavam qualquer um inquieto.

— Não vamos chegar a uma conclusão aqui — disse Nynaeve, fixando o olhar em Egwene, que parecia incomodada. Se havia um bom momento para começar a consertar o equilíbrio entre as duas, era melhor que fosse aquele. — O que eu quero saber…

— Você tem razão — cortou Egwene. — Não estamos no gabinete de Sheriam, onde podemos ficar à toa fofocando. O que vocês têm para nos dizer? Ainda estão com o conjunto itinerante de Mestre Luca?

Nynaeve prendeu a respiração, as perguntas lhe escapando da mente. Havia tanto o que contar. E tanto a não contar. Ela contou como tinha seguido Lanfear até a reunião com os Abandonados, e só falou de ter visto Moghedien espionando. Não que estivesse evitando contar como Moghedien a tratara — não muito, não exatamente —, mas Birgitte não liberara as duas da promessa de guardar segredo. Claro que aquilo significava não dizer nada a respeito de Birgitte, que a mulher estava com elas. Era estranho, já que Egwene sabia que Birgitte as estava ajudando, e ainda tinham que fingir que Egwene não sabia de nada. Mas Nynaeve conseguiu, apesar de gaguejar toda vez que Egwene arqueava as sobrancelhas. Graças à Luz, Elayne ajudou-a a contar de Samara como sendo culpa de Galad e Masema. O que, de fato, era verdade. Se qualquer um dos dois tivesse simplesmente lhe contado sobre o navio, nada do que se seguiu teria acontecido.

Quando ela terminou — mencionando Salidar —, Amys perguntou, com a voz calma:

— Você tem certeza de que elas vão apoiar o Car’a’carn?

— Elas devem conhecer as Profecias do Dragão tão bem quanto Elaida — respondeu Elayne. — A melhor maneira de se oporem a ela é se unirem a Rand e deixarem claro para o mundo inteiro que elas pretendem apoiá-lo até o fim, até Tarmon Gai’don. — Não havia o menor sinal em sua voz que indicasse que não estava falando de um completo estranho. — Do contrário, elas não passam de rebeldes, sem nenhuma pretensão de legitimidade. Elas precisam dele, no mínimo, tanto quanto ele precisa delas.

Amys fez que sim, mas não parecia concordar totalmente.

— Acho que me lembro de Masema — afirmou Egwene. — Olhos encovados e rabugento? — Nynaeve aquiesceu. — Não consigo vê-lo como Profeta, mas posso imaginá-lo incitando um motim ou uma guerra, sim. Tenho certeza de que Galad só fez o que achava que era o melhor. — As bochechas de Egwene ficaram levemente coradas. Até a mera lembrança do rosto de Galad era capaz daquilo. — Rand vai querer saber a respeito de Masema. E de Salidar. Se eu conseguir fazê-lo ficar parado o suficiente para ouvir.

— Quero saber como é possível vocês duas estarem aqui — disse Amys. Ela escutou a explicação e examinou a placa na mão quando Nynaeve a entregou. Outra pessoa tocando o ter’angreal enquanto ela o usava lhe causou arrepios. — Acho que você está menos aqui que Elayne — opinou a Sábia, por fim. — Quando uma andarilha entra no Mundo dos Sonhos no sono, só um pedacinho bem pequeno dela permanece no corpo, apenas o bastante para mantê-la viva. Se ela dorme um sono leve, onde pode estar aqui e também conversar com alguém no mundo desperto, fica com a aparência igual a sua para alguém que está aqui por inteiro. Talvez seja a mesma coisa. Não sei se gosto de que qualquer mulher que saiba canalizar entre em Tel’aran’rhiod, mesmo neste estado. — Ela devolveu o ter’angreal para Nynaeve.

Deixando escapar um suspiro de alívio, Nynaeve se apressou em guardar a placa. Seu estômago ainda estava embrulhado.

— Se já disseram tudo… — Amys fez uma pausa enquanto Nynaeve e Elayne confirmavam às pressas que aquilo era o fim. Os olhos azuis da mulher eram incrivelmente penetrantes. — Então temos que ir. Admito que há mais vantagens nestes encontros do que eu supus inicialmente, mas ainda tenho muito o que fazer hoje à noite. — Ela lançou um olhar para Egwene, e as duas desapareceram juntas.

Nynaeve e Elayne não hesitaram. Em torno delas, em um piscar de olhos, as grandes colunas de pedra vermelha se transformaram em uma salinha de paredes escuras e pouca mobília, toda simples e robusta. A raiva de Nynaeve estivera vacilante, e, com isso, sua retenção de saidar, mas o gabinete da Mestra das Noviças firmou as duas coisas. Insolente e teimosa! Esperava que Sheriam estivesse em Salidar. Seria um prazer encará-la de igual para igual. Contudo, queria estar em outro lugar. Elayne se olhava no espelho de moldura dourada e tocava o cabelo, distraída, arrumando-o. Não que ela precisasse usar as mãos para isso, ali. Ela também não gostava de estar naquele aposento. Por que Egwene sugerira reunir-se ali? O gabinete de Elaida podia até não ser o local mais confortável, mas era melhor que aquilo.

No momento seguinte, Egwene apareceu do outro lado da ampla mesa, os olhos gélidos e as mãos na cintura como se aquele cômodo pertencesse a ela.

Antes que Nynaeve pudesse abrir a boca, Egwene começou:

— Suas tagarelas desmioladas, vocês por acaso viraram duas burras sem juízo? Se eu peço para alguma coisa ficar só entre vocês, vocês saem contando imediatamente para a primeira pessoa que veem pela frente? Nunca pararam para pensar que não precisam dizer tudo para todo mundo? Pensei que fossem boas em guardar segredos. — As bochechas de Nynaeve foram esquentando. Pelo menos não havia como estar tão vermelha quanto Elayne. Egwene ainda não tinha acabado: — Quanto a como eu fiz aquilo, não posso ensinar. Vocês precisam ser Andarilhas dos Sonhos. Se conseguem tocar os sonhos de alguém usando o anel, não sei como. E duvido que consigam com aquele outro troço. Tentem se concentrar no que estão fazendo. Talvez Salidar não seja nada do que vocês estão esperando. Agora, também tenho outras coisas para fazer hoje à noite. Pelo menos tentem ser espertas! — E ela desapareceu tão de repente que a última palavra quase pareceu ecoar do ar vazio.