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— Vejo você hoje à noite. Ou vejo você morto.

A reverência de Asmodean já não foi tão graciosa.

— Como milorde Dragão ordenar — disse, a voz rouca, e tratou de sair e fechar a porta atrás de si.

Com expressão neutra, as três mulheres observavam Rand sem nem piscar.

— O resto de vocês também pode ir. — Mat praticamente deu um salto em direção à porta. — Você, não. Ainda tenho coisas para lhe dizer.

Mat parou a meio caminho, suspirou alto e brincou com o medalhão. Era o único que havia se movido.

— Você não tem treze Aes Sedai — disse Aviendha —, mas tem duas. E eu. Posso não saber tanto quanto Moiraine Sedai, mas sou tão forte quanto Egwene e já conheço a dança. — Ela estava falando da dança das lanças, o nome Aiel para a batalha.

— Rahvin é meu — respondeu ele, baixinho.

Talvez Elayne pudesse perdoá-lo um pouco se Rand ao menos vingasse sua mãe. Era provável que não, mas talvez Rand perdoasse a si mesmo. Um pouco. Forçou-se para manter as mãos na lateral do corpo sem cerrar os punhos.

— Você vai desafiá-lo para um duelo? — questionou Egwene. — Vai chegar lá com essa raiva toda? Já passou pela sua cabeça que Rahvin pode não estar sozinho, se agora se intitula rei de Andor? Grande vantagem você aparecer lá e um dos guardas dele lhe enfiar uma flecha no coração.

Rand se lembrava da época em que desejava que Egwene não gritasse com ele, mas, no momento, teria sido bem mais fácil.

— Você achou que eu pretendia ir sozinho? — Ele pretendera, não pensara em nenhum momento em ter alguém lhe protegendo a retaguarda, mas agora escutava um sussurro débiclass="underline" ele gosta de vir por trás ou pelos flancos. Mal conseguia pensar com clareza. Sua raiva parecia ter vida própria, atiçando as chamas que a mantinham fervendo. — Mas não você. É perigoso. Moiraine pode vir, se quiser.

Egwene e Aviendha não se entreolharam antes de dar um passo à frente, mas se moveram como se fossem uma só, e só pararam quando já estavam tão próximas que até Aviendha tinha que inclinar a cabeça para olhá-lo nos olhos.

— Moiraine pode vir, se quiser — disse Egwene.

Se a voz dela era um gelo suave, a de Aviendha era uma rocha derretida:

— Mas é perigoso demais para nós.

— Você agora é meu pai? Seu nome é Bran al’Vere?

— Se você tem três lanças, deixa duas de lado só porque elas foram feitas há pouco tempo?

— Não quero que vocês corram risco — respondeu ele, rígido.

Egwene arqueou as sobrancelhas.

— Ah! — Apenas isso.

— Não sou sua gai’shain. — Aviendha mostrou os dentes. — Você nunca vai escolher quais riscos eu assumo, Rand al’Thor. Nunca. Aprenda logo.

Ele poderia… o quê? Envolvê-las em saidin e deixá-las ali? Ainda não sabia blindá-las, então as mulheres poderiam dar o troco e capturá-lo. Que bela confusão, tudo porque faziam questão de ser teimosas.

— Você pensou nos guardas — observou Moiraine —, mas e se quem estiver com Rahvin for Semirhage ou Graendal? Ou Lanfear? Estas duas aqui poderiam dar conta de um deles, mas você conseguiria enfrentar uma delas e Rahvin sozinho?

Houvera algo na voz de Moiraine quando ela mencionou o nome de Lanfear. Será que estava com medo de que, caso Lanfear estivesse lá, ele finalmente se juntasse a ela? O que Rand faria se ela estivesse lá? O que poderia fazer?

— Elas podem vir — concordou ele, entre dentes. — E você, vai?

— Como você ordenar — respondeu Moiraine, mas nenhuma delas estava com pressa. Aviendha e Egwene rearrumaram os xales cuidadosa e ostensivamente antes de partirem em direção à porta. Lordes e ladies podiam até sair em disparada quando ele falava, mas elas, jamais.

— Você não tentou me dissuadir — observou ele de repente.

As palavras foram para Moiraine, mas Egwene respondeu primeiro, ainda que para Aviendha, e com um sorriso:

— Impedir um homem de fazer o que ele quer é como tirar doce de criança. Às vezes é necessário, mas às vezes o aborrecimento simplesmente não vale a pena.

Aviendha assentiu.

— Há de ser o que a Roda tecer — foi a resposta de Moiraine.

Ela parou na porta parecendo mais Aes Sedai do que ele jamais vira, a idade indefinida, os olhos escuros parecendo prontos para engoli-lo, a silhueta esbelta, mas ainda assim tão majestosa que poderia ter dado ordens a uma sala repleta de rainhas mesmo que não fosse capaz de canalizar nem uma centelha. A pedra azul em sua testa estava atraindo a luz outra vez.

— Você vai se sair bem, Rand.

Ele continuou fitando a porta até bem depois de ela ter se fechado atrás das mulheres.

Foi um arrastar de botas que o fez se lembrar da presença de Mat, que tentava se esgueirar para a saída, movendo-se devagar para não ser visto.

— Preciso falar com você, Mat.

Mat fez uma careta. Tocando na cabeça de raposa como se fosse um talismã, girou para encarar Rand.

— Se você acha que vou colocar minha cabeça a prêmio só porque aquelas tolas puseram, pode esquecer. Não sou nenhuma droga de herói e nem quero ser. Morgase era uma mulher bonita e eu até gostava dela, tanto quanto se pode gostar de uma rainha, mas Rahvin é Rahvin, que o queime, e eu…

— Cale a boca e ouça. Você precisa parar de fugir.

— Que me queime se vou fazer isso! Eu não escolhi esse jogo e não vou…

— Eu mandei calar a boca! — Com o dedo em riste, Rand pressionou a cabeça de raposa contra o peito de Mat. — Eu sei onde você conseguiu isto. Eu estava lá, lembra? Cortei a corda em que você estava enforcado. Não sei exatamente o que foi enfiado na sua cabeça, mas, seja lá o que for, eu preciso. Os chefes de clã entendem de guerra, mas, de alguma forma, você também entende, e talvez melhor. Eu preciso disso! Então vou dizer o que você vai fazer, você e o Bando da Mão Vermelha…

— Tomem cuidado amanhã — alertou Moiraine.

Egwene parou na porta do quarto dela.

— Claro que vamos tomar cuidado. — Seu estômago estava dando cambalhotas, mas manteve a voz firme. — Sabemos como vai ser perigoso enfrentar um dos Abandonados. — Pela expressão de Aviendha, elas poderiam estar conversando sobre o que havia para jantar. Mas, em todo caso, a mulher nunca tinha medo de nada.

— Sabem mesmo? — murmurou Moiraine. — Seja como for, tomem muito cuidado, independentemente de acharem que um dos Abandonados está perto ou não. Rand vai precisar de vocês duas no futuro. Vocês controlam bem o temperamento dele, embora eu deva dizer que seus métodos são incomuns. Ele vai precisar de pessoas que ele não consiga afastar ou reprimir com seus rompantes, que lhe digam o que ele precisa ouvir, em vez de falaram o que pensam que ele quer escutar.

— Você faz isso, Moiraine — respondeu Egwene.

— Claro. Mas, mesmo assim, ele vai precisar de vocês. Descansem bem. Amanhã vai ser… difícil para todas nós. — A Aes Sedai deslizou pelo corredor, passando da penumbra para um foco de lamparina e para a penumbra. A noite já vinha caindo naqueles corredores sombreados, e o estoque de óleo estava reduzido.

— Fica um pouco comigo, Aviendha? — indagou Egwene. — Estou com mais vontade de conversar do que de comer.

— Preciso contar para Amys o que prometi fazer amanhã. E tenho que estar no quarto de Rand al’Thor quando ele for dormir.

— Elayne nunca vai poder reclamar de você não ter vigiado Rand de perto. Você saiu mesmo pelo corredor arrastando Lady Berewin pelos cabelos?

As bochechas de Aviendha ganharam um discreto rubor.

— Você acha que essas Aes Sedai em… Salidar?… vão ajudá-lo?

— Cuidado com esse nome, Aviendha. Rand não pode encontrá-las sem preparação. — Do jeito que ele estava agora, era mais provável que elas o amansassem, ou pelo menos que enviassem as próprias treze irmãs, do que o ajudassem. Egwene teria que se colocar entre elas em Tel’aran’rhiod, ela e Nynaeve e Elayne, e torcer para que aquelas Aes Sedai estivessem comprometidas demais para recuar antes que descobrissem como ele estava quase no limite.