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Um floriniano idoso, atrofiado no serviço, parou diante dele.

— Dr. Junz?

— Sim.

— Venha comigo.

Um número reluzente numa tela teria sido tão eficiente para convocá-lo, e um canal fluorescente através do ar igualmente eficiente para guiá-lo, mas quando o potencial humano é barato, nada precisa ser substituído. Dr. Junz pensou “potencial humano” de maneira adversa. Nunca havia visto mulheres em qualquer departamento governamental de Sark. As mulheres sarkianas eram deixadas em seu planeta, excetuando-se algumas serviçais domésticas que eram igualmente proibidas de miscigenarem-se, e as mulheres sarkianas estavam, como dizia Abel, fora de cogitação.

Foi-lhe indicado um assento ante a escrivaninha do Funcionário para a Subsecretaria. Sabia o título do homem pelo brilho acanalado gravado sobre a escrivaninha. Nenhum floriniano poderia, claro, ser mais que um escrivão, independentemente dos reais tortuosos caminhos do departamento que passassem através de seus alvos dedos. O Subsecretário e o Secretário para Assuntos Florinianos eram eles mesmos sarkianos, mas embora o Dr. Junz pudesse encontrá-los socialmente, sabia que nunca os encontraria ali no departamento.

Sentou-se, ainda impaciente, mas um pouco mais próximo de seu objetivo. O escrivão estava olhando cuidadosamente o arquivo, virando cada folha minuciosamente codificada como se contivessem os segredos do universo. O homem era bastante jovem, um recém-graduado talvez, e como todos os florinianos, muito claro de pele e na cor dos cabelos.

O Dr. Junz teve uma sensação atávica. Ele mesmo viera do mundo de Libair, e como todos os libairianos, era de grande pigmentação e sua pele tinha um bronzeado profundo, rico. Existiam poucos mundos na Galáxia onde as cores das peles eram tão extremas como em Libair ou em Florina. Geralmente, a regra eram matizes intermediários.

Alguns dos jovens e radicais antropologistas estavam jogando com a noção de que os homens de mundos como Libair, por exemplo, haviam surgido independente mas por evolução convergente. O homem mais velho denotava amargamente qualquer noção de uma evolução que convergia espécies diferentes ao ponto onde a hibridação fosse possível, como certamente o era entre todos os mundos da Galáxia. Insistiam em que, no planeta original, qualquer fosse ele, a humanidade já havia se dividido em subgrupos de pigmentação variável.

Isto meramente colocava o problema um pouco mais recuado no tempo e não respondia a nada, de forma que o Dr. Junz não encontrara qualquer explicação satisfatória. Contudo, até mesmo agora, às vezes, achava-se pensando no problema. Lendas de um passado de conflito prolongaram-se, por alguma razão, nos mundos em trevas. Os mitos libairianos, por exemplo, falavam de tempos de guerra entre homens de pigmentação diferente e a fundação do próprio Libair era atribuída a um grupo de negros refugiados de uma derrota em batalha.

Quando o Dr. Junz saiu de Libair para o Instituto Arcturiano de Tecnologia Espacial e posteriormente iniciou-se em sua profissão, os contos de fadas anteriores foram esquecidos. Somente uma vez desde então realmente se espantara. Descobrira por acaso um dos remotos mundos do Setor Centauro durante seu trabalho; um daqueles mundos cuja história poderia ser contada em milênios e cuja linguagem era tão arcaica que seu dialeto bem poderia ser aquela linguagem perdida, mítica: o inglês. Tinham uma palavra especial para um homem com pele escura.

Agora, por que deveria haver uma palavra especial para um homem de pele escura? Não havia uma palavra especial para um homem com olhos azuis, ou grandes olhos, ou cabelo cacheado. Não havia…

A voz precisa do escrivão interrompeu seu devaneio. — O senhor esteve neste departamento antes, de acordo com o registro.

O Dr. Junz respondeu com certa aspereza: — Certamente estive, senhor.

— Mas não recentemente.

— Não, não recentemente.

— O senhor ainda está à procura de um analista espacial que desapareceu — o escrivão movia as folhas rapidamente — a cerca de onze meses e treze dias atrás.

— Correto.

— Em todo esse tempo — disse o escrivão em sua voz seca e fragmentada, fora da qual toda a essência parecia cuidadosamente pesada — não houve sinal do homem e nenhuma evidência no sentido de que em qualquer momento estivesse em qualquer ponto do território sarkiano.

— A última vez que deram notícias dele — disse o cientista — estava no espaço, próximo a Sark.

O escrivão fitou-o e seus pálidos olhos azuis por um momento focaram o Dr. Junz, então baixaram rapidamente. — Pode ser assim, mas não há evidência de sua presença em Sark.

Sem evidências! Os lábios do Dr. Jung se apertaram. Era o que o Departamento Analítico-espacial Interstelar havia lhe contado com progressiva indelicadeza por meses.

Nenhuma evidência, Dr. Junz. Achamos que seu tempo poderia ser melhor empregado, Dr. Junz. O Departamento cuidará para que a busca seja mantida, Dr. Junz,

O que realmente queriam dizer era: Pare de gastar nossa grana, Junz!

Começara, como o escrivão cuidadosamente expusera, a onze meses e treze dias atrás pela Hora-padrão Interstelar (o escrivão não seria culpado por utilizar a hora local em um assunto desta natureza, claro). Dois dias antes que aterrissasse em Sark, no que deveria ser uma inspeção de rotina às agências do Departamento naquele planeta, mas que se transformara em… bem, que se transformara no que era.

Havia sido contatado pelo representante local do DAI, um jovem fino que ficou marcado na memória do Dr. Junz principalmente pelo fato de mascar, incessantemente, algum produto elástico da indústria química de Sark.

Foi quando a inspeção estava quase terminada que o agente local recordou-se de alguma coisa, ajustou seu lasto-plugue no espaço entre seus molares e disse: — Mensagem de um dos homens de campo, Dr. Junz. Provavelmente nada importante. Você os conhece.

Era a expressão usual de exoneração: Você os conhece. O Dr. Junz olhou com um lampejo momentâneo de indignação. Estava pronto a dizer que quinze anos atrás ele mesmo tinha sido um “homem de campo”, então lembrou-se que após três meses não mais era capaz de agüentar. Mas tinha aquele bocadinho de cólera que o fez ler a mensagem com diligente atenção.

Veio assim: Por favor mantenha linha codificada direta aberta para QG Central DAI para mensagem detalhada envolvendo assunto máxima importância. Toda Galáxia afetada. Amplitude modulada por trajetória mínima.

O agente se divertia. Seus maxilares haviam voltado ao mascar rítmico e ele disse: — Imagine, senhor, “Toda Galáxia afetada”. Parece muito bom, mesmo para um homem de campo. Eu o chamei depois que recebi isto para verificar se poderia entendê-lo, mas fracassei. Ele só continuava a dizer que a vida de todo ser humano em Florina estava em perigo. O senhor sabe, meio bilhão de vidas em jogo. Parecia um verdadeiro psicopata. Assim, francamente, eu não quero tentar lidar com ele quando aterrissar. O que sugere?

— Tem uma transcrição de sua conversa? — disse o Dr. Junz.

— Sim, senhor. — Passaram-se poucos minutos numa busca. Um pedaço de filme foi finalmente encontrado.

O Dr. Junz passou-o pelo leitor. Franziu as sobrancelhas. — Isto é uma cópia, não?

— Eu enviei o original para o Departamento de Transporte Extraplanetário daqui de Sark. Eu achei que seria melhor se o encontrassem no campo de aterrissagem com uma ambulância. Provavelmente está mal.

O Dr. Junz sentiu o impulso de concordar com o jovem. Quando os solitários analistas das profundezas do espaço finalmente terminam seu trabalho, suas psicopatias podem ser violentas.

Então disse: — Mas espere. Você fala como se ele ainda não tivesse aterrissado.

O agente olhou-o, surpreso. — Eu suponho que tenha aterrissado, mas ninguém me avisou disso.