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— É sempre assim? — perguntou. Nunca havia estado em uma espaçonave antes; nunca sonhara estar em uma. Apertou os lábios e seu coração batia pesadamente.

— Não — disse Rik. — Somente durante a ventilação.

Caminhou alegremente pela passarela de metalita dura, inspecionando ansiosamente os compartimentos vazios.

— Aqui — disse. Era o passadiço.

Falou rapidamente. — Não é pela comida. Podemos passar sem comida um bom pedaço. É pela água.

Remexeram as caixas arrumadas e compactas de utensílios e apanharam um recipiente grande, com tampa. Procuraram em torno pela torneira da água, murmurando ofegantes a esperança de que não tivessem esquecido de encher os tanques de água, então sorriram aliviados quando o suave som das bombas foi ouvido, e veio o fluxo constante do líquido.

— Agora é só encher algumas latas. Não muitas. Não devemos deixar que percebam.

Rik tentava desesperadamente pensar em meios de evitar ser descoberto. Novamente buscava em vão alguma coisa de que não podia lembrar-se totalmente. Ocasionalmente, ainda ocorriam tais vazios em seu pensamento e, covardemente, evitava-os, negando sua existência.

Encontrou um pequeno compartimento destinado a equipamentos de combate a incêndios, material médico e cirúrgico de emergência, e equipamento de soldagem.

Disse, com uma certa falta de confiança: — Não virão para cá, exceto em emergências. Você está com medo, Lona?

— Não vou ficar com medo com você, Rik — disse ela humildemente. Dois dias antes, não, doze horas antes, fora ao contrário. Mas a bordo da nave, por alguma transmutação de personalidade que ela não questionara, era Rik o adulto e ela a criança.

— Não poderemos usar as luzes porque eles iriam notar o consumo de potência — disse ele — nem os toaletes; teremos de esperar pelos períodos de repouso e tentar sair depois de qualquer das turmas da noite.

A corrente de ar cessou repentinamente. Seu toque frio em suas faces não mais estava ali e o zunido constante, suave, que à distância o acompanhava, cessou e deixou um grande silêncio tomar seu lugar.

— Logo estarão à bordo — disse Rik — e então sairemos para o espaço.

Valona nunca vira semelhante alegria no rosto de Rik. Ele parecia um enamorado indo ao encontro de seu amor.

Se Rik se sentira como um homem ao acordar naquele dia, era um gigante agora, seus braços abraçando toda a Galáxia. As estrelas eram suas bolinhas de gude, e as nebulosas eram teias de aranha a serem limpas.

Estava numa nave! As lembranças se precipitavam continuamente num longo fluxo e outras saíam para dar espaço. Estava esquecendo os campos kyrt e a usina e Valona cantando para ele no escuro. Foram somente brechas momentâneas em um arranjo que agora retornava com suas pontas desfiadas lentamente se ligando.

Era a nave!

Se o tivessem colocado em uma nave há muito tempo atrás, não teria esperado tanto para que seus neurônios queimados se curassem

Falou suavemente a Valona na escuridão. — Agora, não se preocupe. Você vai sentir uma vibração e ouvir um ruído, mas será só o motor. Vai haver uma grande pressão sobre você. É a aceleração.

Não havia uma palavra floriniana comum para o conceito e então utilizou uma outra, que lhe veio facilmente à mente. Valona não entendeu.

— Vai machucar? — perguntou.

— Será bastante desconfortável — disse Rik — porque não temos equipamento anti-aceleração para absorver a pressão, mas não vai durar muito. Somente fique de pé contra a parede, e quando você se sentir empurrada contra ela, relaxe. Veja, está começando.

Ele havia escolhido a parede certa, e quando o som monótono dos motores de empuxo hiperatômicos aumentou, a gravidade aparente mudou, e o que fora uma parede vertical parecia tornar-se cada vez mais diagonal.

Valona então lamuriou, em seguida caiu em um silêncio ofegante. Suas gargantas se irritaram quando seus peitos, desprotegidos pela ausência de correias e amortecedores hidráulicos, trabalharam para livrar suficientemente seus pulmões para que somente um pouco de ar fosse inspirado.

Rik procurou arquejar algumas palavras, quaisquer palavras que pudessem fazer Valona saber que ele estava ali e suavizar o terrível medo do desconhecido que devia estar envolvendo-a. Era somente uma nave, somente uma nave maravilhosa; mas ela nunca havia estado antes em uma nave.

— Há o salto, claro, quando passamos através do hiperespaço e atravessamos subitamente a maior parte da distância entre as estrelas — disse. — Isto não vai aborrecê-la, afinal. Você nem mesmo saberá que aconteceu. Não é nada comparado a isto. Somente um pequeno puxão por dentro de você e acabou-se. — Deixou escapar as palavras grunhidas sílaba por sílaba. Levou muito tempo.

Lentamente, o peso sobre seus peitos diminuiu e a corrente invisível que os prendia à parede distendeu-se e sumiu. Caíram, arquejando.

Finalmente Valona falou: — Você está machucado, Rik?

— Eu, machucado? Não. — Conteve uma gargalhada. Não havia ainda tomado fôlego, mas riu quando considerou a idéia de que poderia ferir-se numa nave.

— Eu vivi numa nave anos atrás — disse. — Eu não aterrissava em um planeta durante meses de cada vez.

— Por quê? — ela perguntou. Arrastara-se para mais próximo de Rik e colocara uma das mãos em seu rosto, certificando-se de que ele estava ali.

Ele passou seu braço pelos ombros de Valona, e ela nele se apoiou quietamente, aceitando a inversão.

— Por quê? — perguntou.

Rik não podia lembrar-se por quê. Ele o tinha feito; detestara pousar em um planeta. Por alguma razão fora necessário permanecer no espaço, mas não podia lembrar-se por quê. Novamente esquivara-se pelo vazio.

— Eu tinha um emprego — disse.

— Sim, eu sei, você analisava Nada.

— Certo. — Estava satisfeito. — Era isso exatamente o que eu fazia. Você sabe o que isso significa?

— Não.

Não esperava que ela entendesse, mas tinha de conversar. Tinha de divertir-se com as lembranças, deliciar-se embriagadamente com o fato de que podia evocar fatos passados ao piparote de um dedo mental.

— Veja — começou —, toda matéria no universo é composta de uns cem tipos diferentes de substâncias. Chamamos estas substâncias de elementos. Ferro e cobre são elementos.

— Eu pensei que eram metais.

— E são, e são elementos também. Também oxigênio, e nitrogênio, carbono e paládio. Os mais importantes são o hidrogênio e o hélio. São os mais simples e os mais comuns.

— Nunca ouvi falar deles — disse Valona, tristemente.

— Noventa e cinco por cento do universo são hidrogênio e a maior parte do resto é hélio. Até mesmo do espaço.

— Uma vez me contaram — disse Valona — que o espaço era um vácuo. Disseram que significava que não tinha nada lá. Tá errado?

— Não inteiramente. Não há quase nada lá. Mas veja, eu era um analista espacial, o que significa que eu ia de um lado para outro do espaço coletando aqui e ali quantidades extremamente pequenas e as analisando. Isto é, eu verificava o quanto tinha de hidrogênio, de hélio e o quanto de outros elementos.

— Por quê?

— Bom, isso é complicado. Veja, a distribuição dos elementos não é a mesma em todo lugar do espaço. Em algumas regiões há mais hélio que o normal, em outros lugares, mais sódio que o normal; e assim por diante. Estas regiões de composição analítica especial sopram através do espaço como correntes. É assim que são chamadas. São as Correntes do espaço. É importante saber como as correntes se distribuem, porque isso poderia explicar como o universo foi criado e como se desenvolveu.