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— Como se explicaria isso?

Rik hesitou. — Ninguém sabe exatamente.

Precipitou-se, embaraçado pelo fato de que esta imensa reserva de conhecimentos que sua mente estava gratamente jorrando pudesse chegar tão facilmente a um extremo marcado “desconhecido” sob a questão de… de… Subitamente ocorreu-lhe que Valona, afinal, não era nada mais que uma camponesa floriniana.

— Então — disse —, novamente, achamos a densidade, sabe, a espessura deste gás do espaço em todas as regiões da Galáxia. É diferente em diferentes lugares e temos de saber exatamente qual é para permitir que as naves calculem exatamente como saltar pelo hiperespaço. É como… — Sua voz desapareceu aos poucos.

Valona enrijeceu-se e esperou apreensivamente que ele continuasse, mas somente o silêncio sucedeu. Sua voz soou roucamente na completa escuridão.

— Rik? O que está errado, Rik?

Ainda o silêncio. Suas mãos buscaram os ombros de Rik, sacudindo-os. — Rik! Rik!

E foi a voz do antigo Rik, por alguma razão, a que respondeu. Era fraca, apavorada, sua alegria e confiança haviam desaparecido.

— Lona. Fizemos alguma coisa errada.

— O que há? Fizemos o que errado?

A lembrança da cena em que o patrulheiro havia atingido o Padeiro estava na mente de Rik, gravada forte e clara, como se chamada de volta pela sua exata lembrança de tantas outras coisas.

— Não devíamos ter fugido — disse ele. — Não devíamos estar aqui nesta nave.

Estava tremendo incontrolavelmente, e Valona tentava futilmente enxugar a umidade da testa de Rik.

— Por quê? — ela interpelou. — Por quê?

— Porque devíamos saber que se o Padeiro estivesse querendo nos levar à luz do dia não esperaria problemas com os patrulheiros. Lembra-se do patrulheiro? Aquele que atirou no Padeiro?

— Sim.

— Lembra-se de seu rosto?

— Não me atrevi a olhar.

— Eu olhei, e tinha alguma coisa estranha, mas eu não acreditei. Eu não acreditei. Lona, aquele não era um patrulheiro. Era o Conselheiro, Lona. Era o Conselheiro vestido como um patrulheiro.

8. A Dama

Samia de Fife tinha um metro e meio de altura, e todos seus cento e cinqüenta centímetros estavam em um estado de trêmula exasperação, e, no momento, cada um de seus cinqüenta e quatro quilos representava toneladas de sólida irritação.

Caminhava rapidamente de um lado para outro da sala, seu cabelo escuro empilhado em grandes rolos, os saltos de seus sapatos emprestando-lhe uma altura espúria e seu queixo afilado, com uma covinha pronunciada, trêmulo.

— Ah, não. Ele não faria isso comigo. Não poderia fazer isso comigo. Capitão! — chamou.

Sua voz era aguda e carregava o peso da autoridade. O Capitão Racety vergou-se à tempestade. — Madame?

Para qualquer floriniano, é claro, o Capitão Racety teria sido um “Nobre”. Simplesmente isso. Para qualquer floriniano, todos os sarkianos eram Nobres. Mas para os sarkianos havia Nobres e Nobres verdadeiros, O Capitão era simplesmente um Nobre. Samia de Fife era um Nobre verdadeiro; ou o seu equivalente feminino, o que significava a mesma coisa.

— Madame? — perguntou.

— Não devo obedecer ordens. Sou maior de idade. Sou dona de mim mesma. Decidi permanecer aqui — disse ela.

O Capitão falou cuidadosamente: — Deve entender, Madame, que não estão envolvidas ordens minhas. Não me foi pedido um conselho. Somente foi me dito clara e categoricamente o que eu deveria fazer.

Procurou desajeitadamente a cópia de suas ordens. Havia tentado apresentar-lhe a evidência duas vezes antes e ela se recusara a considerá-la, como se por não vê-la pudesse continuar, com a consciência limpa, a negar onde estava o dever do Capitão.

Disse mais uma vez, exatamente como antes: — Não estou interessada em suas ordens.

Virou-se com um tilintar de seus calcanhares e afastou-se rapidamente.

Ele a seguiu e disse-lhe suavemente: — As ordens incluem instruções para o efeito de que, se não quisesse vir, eu deveria, se me desculpar por falar assim, ter de carregá-la para a nave.

Ela voltou-se: — Você não ousaria fazer tal coisa.

— Quando eu considero — disse o Capitão — quem é que me ordenou fazê-lo, eu faria qualquer coisa.

Ela tentou a adulação. — Certamente, Capitão, não há perigo real. Isto é verdadeiramente ridículo, inteiramente maluco. A Cidade é pacífica. Tudo o que realmente aconteceu foi um patrulheiro ser nocauteado ontem à tarde na biblioteca.

— Outro patrulheiro foi assassinado esta madrugada, novamente por um ataque floriniano.

Isto a abalou, mas sua pele bronzeada escureceu e seus olhos negros faiscaram. — O que tem isso a ver comigo? Não sou um patrulheiro.

— Madame, agora mesmo a nave está sendo preparada. Partirá dentro em breve. Terá de estar nela.

— E meu trabalho? Minha pesquisa? Você não imagina… Não, você não imaginaria.

O Capitão não respondeu. Ela afastou-se dele. Seu vestido brilhante de cobre kyrt, com fios de prata leitosa, realçava a quente maciez de seus ombros e braços. O Capitão Racety olhou-a com algo mais que a árida cortesia e a humilde objetividade que um simples sarkiano devia a tal grande Dama. Admirava-se porque tal petisco digno de uma mordida, inteiramente desejável, devesse decidir desperdiçar seu tempo imitando os afazeres escolares de um professor universitário.

Samia bem sabia que sua austera cultura fazia de si um alvo de moderado menosprezo para pessoas que estavam acostumadas a pensar nas aristocráticas Damas de Sark como devotadas inteiramente ao esplendor da polida sociedade e, eventualmente, agir como incubadoras para, no mínimo, mais dois futuros Nobres de Sark. Ela não se importava.

Viriam a ela e diriam: — Você realmente está escrevendo um livro, Samia? — e pediriam para vê-lo, e dariam uma risadinha.

Estas eram as mulheres. Os homens eram até piores, com sua gentil condescendência e óbvia convicção de que bastaria uma olhada para eles ou um braço de homem em torno de sua cintura para curá-la de suas tolices e voltar sua mente para coisas de real importância.

Começara a tanto tempo que quase não podia lembrar-se, e tudo porque ela sempre estivera apaixonada pelo kyrt, enquanto que a maioria das pessoas o tomava como dádiva. Kyrt! O rei, o imperador, deus dos tecidos. Não havia metáfora bastante forte.

Quimicamente, não era nada mais que uma variedade de celulose. Os químicos juravam isso. Todavia, com todos os seus instrumentos e teorias ainda não haviam explicado por que em Florina, e somente em Florina na Galáxia, a celulose tornou-se kyrt. Era um assunto de estado físico; era isto o que diziam. Mas ao perguntar-lhes de exatamente que maneira o estado físico variava do da celulose comum havia a recusa em responder.

Ela originalmente tomara conhecimento da ignorância com sua ama.

— Por que ele brilha, Nanny?

— Porque é kyrt, Miakins.

— Por que as outras coisas não brilham assim, Nanny?

— As outras coisas não são kyrt, Miakins.

Aí está. Uma monografia em dois volumes sobre o assunto havia sido escrita somente três anos antes. Ela a lera cuidadosamente e tudo poderia ser resumido à explicação de sua Nanny. Kyrt era kyrt porque era kyrt. As coisas que não eram kyrt, não eram kyrt porque não eram kyrt.

Logicamente o kyrt não brilhava realmente por si só, mas adequadamente fiado, brilhava metalicamente ao sol numa variedade de cores ao mesmo tempo. Outra forma de tratamento podia conferir um brilho de diamante ao fio. Poderia ser tornado, com um pouco de esforço, totalmente resistente ao calor de até 600 graus centígrados, e inteiramente inerte a quase todas as substâncias químicas. Suas fibras podiam ser trançadas mais finas que as sintéticas mais delicadas e essas mesmas fibras tinham uma resistência de tração que nenhuma liga de aço conhecida poderia proporcionar.