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Ele o tinha descido sobre a cabeça do patrulheiro, trocou as roupas e pegou as armas. A lista de seus crimes já era tão formidável que não o preocupava de modo algum descobrir que o patrulheiro tinha sido assassinado, não atordoado.

Contudo, estava ainda em liberdade e a enferrujada máquina da justiça dos patrulheiros rangia por enquanto em vão atrás dele.

Estava na padaria. O idoso auxiliar do Padeiro, parado à porta numa vã tentativa de perscrutar a perturbação em seu intimo, chiou tenuamente à vista do terrível negro e prata da Patrulha e esvaiu-se para dentro do estabelecimento.

O Conselheiro investiu sobre ele, amassando seu colarinho folgado e farinhento com seu punho atarracado, torcendo-o. — Para onde estava indo o Padeiro?

Os lábios do velho se abriram, mas não emitiram qualquer som.

— Eu matei um homem a dois minutos atrás — disse. — Não me importo se tiver de matar outro.

— Por favor. Por favor. Eu não sei, senhor.

— Você vai morrer por não saber.

— Mas ele não me contou. Ele fez algum tipo de reservas.

— Você tem ouvido muita coisa por acaso, não tem? O que mais você ouviu por acaso?

— Certa vez ele mencionou Wotex. Acho que as reservas eram para uma espaçonave.

Terens o empurrou.

Teria de esperar. Teria de deixar o pior da excitação de fora da padaria morrer. Teria de arriscar a chegada de patrulheiros verdadeiros à padaria.

Mas não por muito tempo. Não por muito tempo. Podia adivinhar o que fariam seus companheiros de outrora. Rik era imprevisível, é claro, mas Valona era uma garota inteligente. Da forma que fugiram, devem tê-lo tomado por um patrulheiro de verdade e Valona estava certa ao decidir que sua única segurança estava em continuar a fuga que o Padeiro começara para eles.

O Padeiro havia feito reservas para eles. Uma espaçonave estaria esperando. Estariam nela.

E ele teria de chegar lá primeiro.

Havia isto sobre o desespero da situação. Nada mais importava. Se perdesse Rik, se perdesse tal arma potencial contra os tiranos de Sark, sua vida seria uma pequena baixa adicional.

Assim, quando saiu, foi sem receio, ainda que fosse à plena luz do dia, embora os patrulheiros devessem naquele momento saber que procuravam um homem em uniforme de patrulheiro, e embora dois discos tivessem bom campo de visão.

Terens conhecia o espaçoporto que estaria envolvido. Havia somente um do seu tipo no planeta. Havia uma dúzia de outros menores na Cidade Superior para uso privado de iates espaciais e havia centenas por todo o planeta para uso exclusivo de deselegantes cargueiros que transportavam gigantescos rolos de tecido kyrt para Sark, maquinaria e simples bens de consumo de volta. Mas entre todos havia somente um espaçoporto para uso de viajantes comuns, para os sarkianos mais pobres, funcionários públicos florinianos e os poucos estrangeiros que lograssem obter permissão para visitar Florina.

O floriniano no portão de entrada do espaçoporto observou a aproximação de Terens com todos os sintomas de um vívido interesse. O vazio que o rodeava tinha se tornado insuportável.

— Saudações, senhor — disse. Havia um dissimulado tom ansioso em sua voz. Afinal, os patrulheiros estavam sendo mortos. — Há uma considerável excitação na Cidade, não?

Terens não mordeu a isca. Tinha puxado o visor em arco de seu quepe para baixo e fechado o botão superior da túnica.

Falou grosseiramente: — Duas pessoas, um homem e uma mulher, entraram no espaçoporto a caminho de Wotex?

O porteiro olhou-o espantado. Por um momento engoliu em seco e então, em um tom consideravelmente moderado, disse: — Entraram, Oficial. A uma meia hora atrás. Talvez menos. — Corou repentinamente. — Existe alguma ligação entre eles e… Oficial, tinham reservas que estavam completamente em ordem. Não deixaria estrangeiros passar sem autorização adequada.

Terens ignorou-o. Autorização adequada! O Padeiro conseguira estabelecê-la no correr de uma noite. Galáxia, espantava-se, quão profundamente a organização de espionagem trantoriana havia pene trado na administração sarkiana?

— Que nomes deram?

— Gareth e Hansa Barne.

— Sua nave já partiu? Rápido!

— N-não senhor.

— Qual ancoradouro?

— Dezessete.

Terens forçou a si mesmo a refrear uma corrida, mas seu andar era pouco mais lento que uma. Se houvesse um patrulheiro verdadeiro à vista, aquela meia-corrida rápida, indigna, de Terens teria sido sua última viagem em liberdade.

Um espaçonauta com uniforme de oficial estava parado na câmara de compressão principal da nave.

Terens ofegou um pouco. — Gareth e Hansa Barne embarcaram? — perguntou.

— Não, não embarcaram — disse o espaçonauta fleugmaticamente. Era um sarkiano e o patrulheiro era somente um outro homem uniformizado para ele. — Você tem uma mensagem para eles?

Com a paciência esgotada, Terens disse: — Não embarcaram!

— Foi o que eu disse. E não estamos esperando por eles. Sairemos no horário, com ou sem eles.

Terens virou-se.

Estava novamente no abrigo do porteiro. — Eles partiram?

— Partiram? Quem, senhor?

— Os Barnes. Aqueles que iam para Wotex. Não estão a bordo da nave. Eles partiram?

— Não, senhor. Não que eu saiba.

— Que me diz dos outros portões?

— Não são saídas, senhor. Esta é a única saída.

— Verifique-os, seu miserável idiota.

O porteiro levantou o tubo de comunicação em estado de pânico. Nenhum patrulheiro antes falara consigo assim, com cólera, e ele temia os resultados. Em dois minutos abaixou-o.

— Ninguém saiu, senhor — disse.

Terens olhou-o fixamente. Sob seu quepe negro, seus cabelos ruivos estavam pegajosos contra o crânio, e abaixo de cada costeleta havia a marca brilhante da transpiração.

— Alguma nave deixou o espaçoporto desde que eu entrei? — perguntou.

O porteiro consultou o horário. — Uma — disse — a nave de carreira Endeavor.

Voluvelmente continuou, ansioso por ganhar as simpatias do irritado patrulheiro através de informações voluntárias. — A Endeavor está fazendo uma viagem especial a Sark para levar a Dama Samia Fife de volta.

Não se preocupou em descrever exatamente por que refinada forma de bisbilhotice conseguira inteirar-se da “informação confidencial”.

Mas para Terens, agora, nada importava.

Voltou-se lentamente. Eliminando o impossível, qualquer coisa que permanecesse, embora improvável, era verdade. Rik e Valona haviam entrado no espaçoporto. Não foram capturados ou o porteiro certamente saberia. Não estavam simplesmente vagando pelo espaçoporto, ou a essa hora teriam sido capturados. Não estavam na nave para a qual tinham passagens. Não haviam deixado o campo. A única nave que havia deixado o campo era a Endeavor. Portanto, nela, possivelmente como cativos, possivelmente como clandestinos, estavam Rik e Valona.

E as duas possibilidades eram equivalentes. Se fossem clandestinos logo seriam cativos. Somente uma camponesa floriniana e uma criatura de mente atrofiada não deixariam de imaginar que alguém poderia embarcar como clandestino em uma espaçonave moderna.

E de todas as espaçonaves a escolher, escolheram a que transportava a filha do Nobre de Fife.

O Nobre de Fife!

9. O Nobre

O Nobre de Fife era o individuo mais importante de Sark, e por essa razão não gostava de ser visto de pé. Como sua filha, era pequeno, mas, diferentemente dela, não era perfeitamente proporcionado, já que as suas pernas eram as principais responsáveis por sua baixa estatura. Tinha o tronco até mesmo robusto, e a cabeça era indubitavelmente majestosa, mas seu corpo era sustentado por pernas atarracadas que eram forçadas a um gingado poderoso para transportar sua carga.