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— Só descansando — disse o Conselheiro. — Decidi dar um passeio e perdi a noção do tempo. Temo que esteja atrasado para um compromisso agora.

Acenou com a mão num gesto deturpado. Podia imitar o sotaque sarkiano razoavelmente bem pela sua longa associação, mas não cometeria o erro de tentar exagerá-lo. O exagero era mais fácil de detectar que a deficiência.

— Encalhado sem um deslizador, hem? — disse o outro. — Era o homem mais velho, divertido com a insensatez da juventude.

— Sem deslizador — admitiu Terens.

— Use o meu — veio o oferecimento instantâneo. — Está estacionado à direita aí fora. Você pode ajustar os controles e trazê-lo de volta para cá quando terminar. Não precisarei dele pela próxima hora, mais ou menos.

Para Terens, isto era quase ideal. Os deslizadores eram rápidos e deslizavam como um raio, podia correr mais e manobrar melhor que qualquer carro diamagnético dos patrulheiros. Era o ideal somente pelo detalhe de que Terens sabia dirigir um deslizador tanto quanto sabia voar sem ele.

— Daqui a Sark — disse. Sabia esta expressão da gíria de Sark para “obrigado” e a inseriu na conversa. — Acho que irei andando. Não é muito longe até o Porto 9.

— Não, não é longe — concordou o outro.

Isto não deixou Terens melhor que antes. Tentou novamente.

— Claro, queria estar mais próximo. A caminhada até a Rodovia Kyrt é bastante saudável por si mesma.

— Rodovia Kyrt? O que isto tem a ver com ela?

Estaria ele olhando duvidosamente para Terens? Ocorreu ao Conselheiro, de repente, que suas roupas provavelmente estavam folgadas. Disse rapidamente: — Espere! Estou confuso com isso. Eu tenho de cruzá-la caminhando. Vamos ver agora. — Olhou em tomo, vagamente.

— Olhe. Você está na Rua Recket. Tudo o que você tem a fazer é descer até Triffis e virar à esquerda, então seguir até o porto. — Apontara automaticamente.

Terens sorriu. — Você está certo. Vou ter de parar de sonhar e começar a pensar. Daqui a Sark, senhor.

— Você ainda pode usar meu deslizador.

— Gentileza sua, mas…

Terens estava se afastando, uru pouco rápido demais, balançando sua mão. O Nobre olhava espantado atrás dele.

Talvez amanhã quando encontrarem o cadáver nas pedras e começarem a procurar, o Nobre poderá pensar nesta conversa novamente. Provavelmente dirá: — Havia algo de esquisito nele, se entende o que eu digo. Tinha um estranho jeito de falar e não parecia saber onde estava. Eu juro que ele nunca tinha ouvido falar da Avenida Triffis.

Mas isto seria amanhã.

Caminhava na direção que o Nobre havia indicado. Chegou à placa brilhante, “Avenida Triffis”, quase sem brilho contra a iridescente estrutura laranja que lhe servia de fundo. Virou à esquerda.

O Porto 9 fervilhava com jovens em roupas de iatismo, que pareciam chapéus de bicos altos e calções. Terens sentiu-se distinto mas ninguém prestou atenção a ele. O ar estava cheio de conversas temperadas com termos que ele não entendia.

Encontrou o Abrigo 26 mas esperou alguns minutos antes de aproximar-se dele. Não queria um Nobre persistentemente parado nas suas vizinhanças, um Nobre que acontecesse de ter um iate de um abrigo próximo que conhecesse o verdadeiro Alstare Deamone de vista e procurasse saber o que um estranho estava fazendo com seu iate.

Finalmente, com a vizinhança do abrigo aparentemente segura, avançou. A quilha do iate despontava para fora de seu hangar, no campo aberto no qual os abrigos estavam colocados. Esticou seu pescoço para olhá-lo.

E agora?

Havia assassinado três homens nas Últimas doze horas. Subira de Conselheiro floriniano para patrulheiro, de patrulheiro para Nobre. Tinha vindo da Cidade Inferior para a Cidade Superior e da Cidade Superior para um espaçoporto. Para todos os efeitos, ele tinha um iate, um vaso suficientemente bom para o espaço para levá-lo em segurança para qualquer mundo inabitado deste setor da Galáxia.

Havia somente um embaraço.

Ele não podia pilotar um iate.

Estava morto de cansaço, verde de fome. Tinha chegado até aqui, e agora não poderia ir além. Estava à beira do espaço mas não havia jeito de passar da beira.

A esta hora os patrulheiros devem ter decidido que ele não estava em lugar nenhum da Cidade Inferior. Passariam a procurá-lo na Cidade Superior tão logo metessem em suas cabeças duras que um floriniano ousaria subir. Então o corpo seria encontrado e uma nova decisão seria tomada. Procurariam por um Nobre impostor.

E aqui estava ele. Tinha atingido o nicho mais distante do beco sem saída e com suas costas para o extremo fechado somente poderia esperar que os fracos sons da perseguição se tomassem mais altos e altos até que eventualmente os cães de caça estivessem sobre ele.

Trinta e seis horas atrás a maior oportunidade de sua vida estivera em suas mãos. Agora, a oportunidade se fora e sua vida logo a seguiria.

11. O Capitão

Era a primeira vez, realmente, que o Capitão Racety descobria-se incapaz de impor sua vontade sobre um passageiro. Fosse esse passageiro um dos próprios Grandes Nobres, ele poderia ainda contar com a cooperação. Um Grande Nobre poderia ser todo-poderoso em seu próprio continente, mas numa nave reconheceria que só poderia haver um mestre, o Capitão.

Uma mulher era diferente. Qualquer mulher. E uma mulher que fosse filha de um Grande Nobre era completamente impossível.

— Madame — disse ele — como posso permitir que os entreviste em particular?

Samia de Fife, seus olhos escuros dardejando, disse: — Por que não? Estão armados, Capitão?

— Claro que não. Este não é o motivo.

— Qualquer um pode ver que são somente um par de criaturas bastante apavoradas. Estão até meio mortos.

— Gente aterrorizada pode ser muito perigosa, Madame. Não se pode confiar que ajam sensivelmente.

— Então por que os mantêm aterrorizados? — Ela gaguejava um pouco quando estava zangada. — Você tem três tremendos marinheiros parados à frente deles com explosores, coitados. Capitão, eu não vou esquecer isto.

Não, não esqueceria, pensou o Capitão. Estava começando a condescender.

— Sua Senhoria tem a bondade de me contar exatamente o que quer?

— É simples. Vou contar-lhe. Quero falar com eles. Se forem florinianos, como você diz que são, posso obter deles informações tremendamente valiosas para meu livro. Não posso fazer isso, contudo, se estiverem muito apavorados para falar. Se eu pudesse estar sozinha com eles seria excelente. Sozinha, Capitão! Pode entender uma simples palavra? Sozinha!

— E o que eu direi a seu pai, Madame, se ele descobrir que eu permiti que permanecesse sem guarda na presença de dois criminosos desesperados?

— Criminosos desesperados! Ai, Grande Espaço! Dois pobres idiotas que tentaram escapar de seu planeta e não tiveram mais bom senso que embarcar numa nave que ia para Sark! Além disso, como meu pai iria saber?

— Se eles a machucarem, ele saberá.

— Por que eles iriam me machucar? — Seu pequeno punho elevou-se e vibrou, enquanto ela punha todo átomo de força que pudesse encontrar em sua voz. — Eu exijo, Capitão!

— Então que tal isso, Madame? Estarei presente. Eu não terei três marinheiros com explosores. Serei um homem sem explosor á vista. De outra forma… — e por sua vez pôs toda sua resolução em sua voz — …eu devo recusar sua exigência.

— Muito bem, então. — Ela estava ofegante. — Muito bem, mas se eu não conseguir que falem por sua causa, pessoalmente verei que não mais comande uma nave.