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Ela havia estado em salas com todo o tipo de coisas que ela jamais vira. Esta agora era maior que qualquer uma das outras, mas estava nua. Havia mais pessoas nela, porém. Havia um homem de aparência severa atrás de uma escrivaninha, e um homem muito mais velho, enrugado, numa cadeira, e três outros…

Um era o Conselheiro!

Ela saltou de seu lugar e correu para ele. — Conselheiro! Conselheiro!

Mas ele não estava lá!

Ele se ergueu e fez-lhe um sinal. — Volte, Lona, volte!

E ela passou direto através dele. Chegou a agarrar sua manga, ele a afastou. Ela investiu, meio cambaleante, e passou através dele. Por um momento sua respiração cessou. O Conselheiro havia se virado, estava encarando-a, mas ela somente podia olhar fixamente para suas próprias pernas.

Ambas estavam trespassando o pesado braço da cadeira em que o Conselheiro estava sentado. Ela podia vê-la claramente, em toda sua cor e solidez. Circundava suas pernas, mas ela não a sentia. Esticou uma mão trêmula e seus dedos afundaram alguns centímetros no estofamento que ela também não podia sentir. Seus dedos permaneceram visíveis.

Ela deu um grito estridente e caiu, sua última sensação sendo de que os braços do Conselheiro automaticamente tentaram alcançá-la e ela mesma caindo através do aro que formavam como se fossem peças de fumaça cor da carne.

Ela estava novamente na cadeira, Rik segurando uma de suas mãos firmemente e o homem velho e enrugado inclinando-se sobre ela.

Ele estava dizendo: — Não se assuste, minha querida. É somente uma figura. Uma fotografia, você sabe.

Valona olhou em tomo de si. O Conselheiro ainda estava sentado lá. Ele não estava olhando para ela.

— Ele não está lá? — ela apontou um dedo.

Rik disse de repente: — É personificação trimênsica, Lona. Ele está em algum outro lugar, mas nós podemos vê-lo daqui.

Valona balançou a cabeça. Se Rik disse que era, estava tudo bem. Mas ela baixou os olhos. Não ousava olhar para pessoas que estavam e não estavam lá ao mesmo tempo.

— Então você sabe o que é personificação trimênsica, jovem? — perguntou Abel.

— Sim senhor. — Tinha sido um dia tremendo para Rik, também, mas enquanto Valona estava cada vez mais deslumbrada, ele encontrava coisas cada vez mais familiares e compreensíveis.

— Onde você aprendeu isso?

— Não sei. Eu sabia antes… antes de esquecer.

Fife não se movera de seu assento atrás da escrivaninha durante a selvagem investida de Valona March para o Conselheiro.

— Sinto ter de atrapalhar este encontro por apresentar uma nativa histérica — disse acidamente. — O chamado analista espacial exigia sua presença.

— Está tudo bem — disse Abel. — Mas eu noto que seu floriniano de mentalidade subnormal parece estar familiarizado com a personificação trimênsica.

— Ele foi bem treinado, imagino — disse Fife.

— Ele foi interrogado desde que chegou a Sark? — perguntou Abel.

— Certamente que foi.

— Qual foi o resultado?

— Nenhuma informação nova.

Abel voltou-se para Rik. — Qual é seu nome?

— Rik é o único nome de que me lembro — disse calmamente.

— Você conhece alguém daqui?

Rik examinou rosto por rosto, sem medo, e disse: — Somente o Conselheiro. E Lona, é claro.

— Este — disse Abel, apontando para Fife — é o maior Nobre que jamais viveu. Ele tem o mundo todo. O que você acha dele?

— Eu sou um terráqueo. Ele não me possui — disse Rik audaciosamente.

Abel falou num aparte para Fife: — Eu não acho que um nativo floriniano adulto pudesse ser treinado neste tipo de provocação.

— Mesmo com uma sondagem psíquica? — retorquiu Fife desdenhosamente.

— Você conhece este cavalheiro? — perguntou Abel, voltando a Rik.

— Não, senhor.

— Este é o Dr. Selim Junz. Ele é um importante oficial do Departamento Analítico-espacial Interestelar.

Rik observou-o atentamente. — Então deve ter sido um de meus chefes. Mas — com desapontamento — eu não o conheço. Ou talvez somente não me lembre.

Junz balançou a cabeça desanimado. — Eu nunca o vi, Abel.

— Isto deve ser registrado — resmungou Fife.

— Agora ouça, Rik — disse Abel. — Vou contar-lhe uma história. Eu quero que você ouça com toda a atenção e pense. Pense e repense! Entendeu?

Rik confirmou com a cabeça.

Abel falou lentamente. Sua voz era o único som na sala por muitos minutos. Enquanto falou, as pálpebras de Rik fecharam-se e se comprimiram. Seus lábios se repuxaram, seus punhos tocavam o peito, e sua cabeça vergou-se para trás. Tinha a aparência de um homem em agonia.

Abel continuava, indo e voltando pela reconstrução dos eventos como originalmente apresentados pelo Nobre de Fife. Ele falou da mensagem original do desastre, de sua interceptação, do encontro entre Rik e X, da sondagem psíquica, de como Rik havia sido encontrado e levado a Florina, do médico que o diagnosticou e então morreu, de sua memória que retomava.

— Esta é toda a história, Rik. Eu lhe contei inteira. Alguma coisa lhe pareceu familiar? — perguntou.

Lentamente, dolorosamente, Rik disse: — Eu me lembro da última parte. Sabe, dos últimos dias. Eu me lembro de alguma coisa mais lá atrás, também. Talvez fosse o médico, quando eu comecei a falar. É muito confuso… mas é tudo.

— Mas você se lembra mesmo de um pouco antes. Você se lembra do perigo para Florina — disse Abel.

— Lembro-me. Lembro-me. Esta é a primeira coisa de que me lembrei.

— Então não pode se lembrar de depois disso? Você pousou em Sark e encontrou um homem.

— Não posso. Não posso me lembrar — lamentou Rik.

— Tente! Tente!

Rik levantou o olhar. Seu rosto pálido estava úmido pela transpiração. — Eu me lembro de uma palavra.

— Que palavra, Rik?

— Não faz qualquer sentido.

— Diga-nos, de qualquer modo.

— Não creio que faça sentido. Foi há muito tempo. É muito confuso. Eu estava sentado. Eu acho, talvez, alguém mais estava sentado. Então ele se levantou, olhando para baixo, para mim. E havia uma palavra.

Abel foi paciente. — Que palavra?

Rik apertou os punhos e sussurrou: — Fife!

Todos os homens, exceto Fife, puseram-se de pé. Steen gritou estridentemente — Eu te disse — e explodiu numa esfuziante gargalhada aguda.

17. O Acusador

— Vamos acabar com esta farsa — disse Fife com paixão firmemente controlada.

Aguardara antes de falar, seus olhos duros e seu rosto inexpressivo, até que em mero anticlímax os outros fossem forçados a retornar a seus assentos. Rik tinha curvado a cabeça, olhos contorcidos dolorosamente fechados, examinando sua própria mente dolorida. Valona puxou-o para si, tentando com dificuldade colocar a cabeça dele em seu ombro, afagando seu rosto suavemente.

— Por que você diz que isso é uma farsa? — perguntou Abel, trêmulo.

— E não é? — disse Fife. — Concordei com este encontro em primeiro lugar somente por causa de uma ameaça em particular que mantêm sobre mim. Eu teria recusado mesmo se tivesse sabido que a conferência havia sido planejada para ser um julgamento de mim mesmo com renegados e assassinos atuando como promotores e júri.