Apontou para Fife com desdém. — Lá está um Grande Nobre. Somente um Grande Nobre, diz este Grande Nobre, pode ter o conhecimento ou as facilidades para fazer o que o sondador fez. Ele acredita nisso, também. Mas o que ele sabe? O que mesmo sabe qualquer um dos sarkianos?
— Eles não têm o governo. Os florinianos o têm! O Funcionalismo Público Floriniano o tem. Eles pegam os documentos, fazem os documentos, arquivam os documentos. E são os documentos que governam Sark. Certo, a maioria de nós é espancada até para choramingar, mas você sabe o que poderíamos fazer se quiséssemos, mesmo debaixo do nariz de nossos malditos Nobres? Bem, você viu o que eu fiz.
— Eu fui temporariamente superintendente de tráfego no espaçoporto há um ano atrás, era parte de meu treinamento. Está nos registros. Você terá de cavar um pouco para encontrá-los porque o superintendente de tráfego catalogado é um sarkiano. Ele tinha o título, mas eu tinha o trabalho real. Meu nome seria encontrado na seção especial intitulada Pessoal Nativo. Nenhum sarkiano teria sujado suas mãos procurando lá.
— Quando o DAI local enviou a mensagem do analista espacial para o porto com uma sugestão de que encontrássemos a nave com uma ambulância, eu peguei a mensagem. Passei o que era seguro. Este assunto da destruição de Florina eu não passei.
— Arranjei o encontro com o analista espacial em um pequeno porto suburbano. Eu podia fazer isso facilmente. Todos os fios e cabos que faziam Sark funcionar estavam nas pontas de meus dedos.
— Eu estava no Funcionalismo Público, lembre-se. Um Grande Nobre que quisesse fazer o que eu fiz, não poderia, a menos que mandasse algum floriniano fazer por ele. Eu podia fazê-lo sem a ajuda de ninguém. Tanto mais pelo conhecimento e facilidade.
— Encontrei o analista espacial, mantive-o longe tanto de Sark como do DAI. Extraí tanta informação dele quanto pude e comecei a usar essas informações para Florina e contra Sark.
As palavras saíram forçadas de Fife: — Você enviou aquelas primeiras cartas?
— Eu enviei aquelas primeiras cartas, Grande Nobre — disse Terens calmamente. — Eu pensei que poderia forçar o controle de parte suficiente das terras do kyrt para minhas próprias mãos para fazer um acordo com Trantor em meus termos e expulsá-los do planeta.
— Você estava louco!
— Talvez. De qualquer forma, não funcionou. Eu havia dito ao analista espacial que era o Nobre de Fife. Eu tinha de dizer, porque ele sabia que Fife era o maior homem do planeta, e enquanto ele pensasse que eu era Fife, estaria disposto a falar abertamente. Fez-me rir imaginar que ele pensasse que Fife estaria ansioso para fazer o que fosse melhor para Florina.
— Infelizmente, ele era mais impaciente que eu. Insistia que qualquer dia perdido era uma calamidade, enquanto que eu sabia que minhas negociações com Sark precisavam mais de tempo que qualquer outra coisa. Eu vi que era difícil controlá-lo e eventualmente tive de sar uma sonda psíquica. Eu podia obter uma. Eu a tinha visto ser usada em hospitais. Sabia alguma coisa sobre ela. Infelizmente, não o bastante.
— Ajustei a sonda para apagar a ansiedade dos depósitos superficiais de sua mente. Esta é uma operação simples. Ainda não sei o que aconteceu. Acho que a ansiedade deve ter se assentado muito fundo, muito mais fundo, e a sonda automaticamente a seguiu, escavando a maior parte da mente consciente junto com ela. Fui deixado com uma coisa sem cérebro nas mãos… Sinto muito, Rik.
Rik, que estava ouvindo atentamente, disse tristemente: — Você não devia ter interferido comigo, Conselheiro, mas eu sei como deve ter se sentido.
— Sim — disse Terens —, você viveu no planeta. Você sabe dos patrulheiros e Nobres e a diferença entre Cidade Inferior e Cidade Superior.
Retomou o fio de sua narrativa: — Assim, lá estava eu com o analista espacial completamente indefeso. Não poderia deixá-lo ser encontrado por alguém que pudesse descobrir sua identidade. Não podia matá-lo. Estava certo de que sua memória retornaria e eu ainda iria precisar de seu conhecimento, para não falar do fato de que matá-lo me privaria da boa vontade de Trantor e do DAI, de que eu eventualmente precisaria. Além disso, naqueles dias, eu era incapaz de matar.
— Arranjei para ser transferido para Florina como Conselheiro e levei o analista espacial comigo com papéis forjados. Arranjei para encontrá-lo, escolhi Valona para cuidar dele. Não houve risco depois a não ser naquela vez, com o médico. Então, eu tinha de entrar nas usinas de força da Cidade Superior. Isto não era impossível. Os engenheiros eram sarkianos, mas os zeladores eram florinianos. Em Sark eu aprendi o bastante sobre transmissão de potência para saber como curto-circuitar uma linha de transmissão. Levei três dias para encontrar o momento exato para isso. Depois disso, eu poderia matar facilmente. Eu nunca soube, entretanto, que o médico mantinha registros em duplicata em ambas as metades de seu consultório. Quisera ter sabido.
Terens podia ver o cronômetro de Fife de onde estava sentado.
— Então, cem horas atrás — parecem ser cem anos — Rik começou a lembrar-se outra vez. Agora vocês têm a história toda.
— Não — disse Junz —, não temos. Quais são os detalhes da história de destruição planetária do analista espacial?
— Você acha que eu entendi os detalhes do que ele tinha a dizer? Era alguma espécie de — perdoe-me, Rik — loucura.
— Não era — inflamou-se Rik — não podia ter sido.
— O analista espacial tinha uma nave — disse Junz. — Onde ela está?
— No ferro-velho há muito tempo — disse Terens. — Uma ordem para reduzi-la a sucata foi expedida. Meu superior a assinou. Um sarkiano nunca lê documentos, claro. Virou ferro-velho sem discussão.
— E os papéis de Rik? Você disse que ele lhe mostrou os papéis!
— Entregue-nos este homem — disse Fife repentinamente — e nós descobriremos o que ele sabe.
— Não — disse Junz. — Seu primeiro crime foi contra o DAI. Ele raptou e danificou a mente de um analista espacial. Ele pertence a nós.
— Junz está certo — interveio Abel.
— Agora olhem aqui — disse Terens. — Eu não digo uma palavra sem garantias. Eu sei onde estão os papéis de Rik. Estão onde nenhum sarkiano ou trantoriano jamais poderá encontrar. Se você os quiser terá de concordar que eu seja um refugiado político. O que quer que eu tenha feito foi por patriotismo, em atenção às necessidades de meu planeta. Um sarkiano ou um trantoriano podem se afirmar patriotas, por que não também um floriniano?
— O Embaixador — falou Junz — disse que você será entregue ao DAI. Eu lhe asseguro que você não será entregue a Sark. Pelo seu tratamento ao analista espacial será julgado. Não posso garantir o resultado, mas se você cooperar conosco agora, contará a seu favor.
Terens olhou penetrantemente para Junz. Então disse: — Aproveitarei a chance que me deu, Doutor… De acordo com o analista espacial, o Sol de Florina está no estágio de pré-nova.
— O quê! — A exclamação ou seu equivalente veio de todos, menos Valona.
— Está quase explodindo e fazendo bum — disse Terens sardonicamente. — E quando isto acontecer, toda Florina vai fazer puf, como um bocado de fumaça de cigarro.
— Eu não sou analista espacial — disse Abel —, mas ouvi que não há jeito de predizer quando uma estrela vai explodir.
— Isso é verdade. Até agora, pelo menos. Rik explicou o que lhe fez pensar assim? — perguntou Junz.
— Suponho que seus papéis mostrarão isso. Tudo que eu posso me lembrar são as correntes de carbono.
— O quê?
— Ele ficou falando “as correntes de carbono do espaço”. “As correntes de carbono do espaço”. Isso e as palavras “efeito catalítico”. Era isso.