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Red teve uma recaída de catolicismo irlandês e fez o sinal da cruz.

— Jesus, Maria, José — disse ele.

Funciona, Jhubben pensou. Ele deveria estar celebrando. Em vez disso, sentia-se fraco e confuso.

— Preciso de uma bebida — Red falou.

— Tem uma garrafa de rum encorpado embaixo da pia.

Red encontrou a garrafa e encheu dois copos com rum e gelo picado. Bebeu o seu de uma vez. Jube sentou-se no sofá, copo na mão, e encarava o transmissor de táquions, seu som alto e agudo pouco audível com o ar-condicionado ligado.

— Morsa — disse Red enquanto enchia o copo novamente —, pensei que você fosse um lunático. Um lunático amável, claro, e agradeço por me trazer para sua casa e tudo o mais, com a polícia atrás de mim do jeito que está. Mas, quando vi que você construiu sua própria máquina Shakti, bem, quem me culparia por pensar que você tinha pouca massa cinzenta? — Ele deu mais gole no rum. — A sua é quatro vezes maior que a do Kafka — ele falou. — Parece um modelo feio. Mas nunca vi a do barata brilhar desse jeito.

— É maior do que precisa porque construí com componentes eletrônicos primitivos — Jube disse para ele e esticou as mãos, três dedos grossos e o dedão rombudo curvado. — E estas mãos são incapazes de fazer um trabalho delicado. O dispositivo no Mosteiro teria acendido se tivesse sido energizado. — Ele olhou para Red. — Como o Venerável Mestre planejava fazer isso?

Red balançou a cabeça.

— Não posso te dizer. Claro, e você é um príncipe por salvar meu traseiro vermelho, mas ainda é um príncipe de primeiro grau, se é que me entende.

— Um iniciado de primeiro grau poderia construir uma máquina Shakti? — Jube perguntou a ele. — Quantos graus você passou antes de eles revelarem que o dispositivo existia? — Ele balançou a cabeça. — Tudo bem, eu sei o final da piada. Quantos curingas são necessários para acender uma lâmpada? Um, contanto que o nariz dele seja de corrente alternada. O Astrônomo ia energizar a máquina.

O olhar no rosto de Red era toda a confirmação de que Jube precisava.

— O Shakti de Kafka deveria dar à Ordem o domínio sobre a Terra — disse o maçom.

— Sim — disse Jube. O Irmão Brilhante na floresta entregou o segredo a Cagliostro, e disse a ele para mantê-lo seguro, entregá-lo de geração a geração até a chegada da Irmã Obscura. Provavelmente o Irmão Brilhante deu a Cagliostro outros artefatos; sem dúvida, deu a ele uma fonte de força, não havia maneira de o carta selvagem takisiano ter sido antecipado dois séculos antes.

— Esperto — Jube disse em voz alta —, sim, mas ainda um homem do seu tempo. Primitivo, supersticioso, ganancioso. Usou as coisas que recebeu para ganho pessoal e egoísta.

— Quem? — Red perguntou, confuso.

— Balsamo — Jube respondeu. Balsamo inventou o restante ele mesmo, os mitos egípcios, os graus, os rituais. Pegou as coisas que ouvira e distorceu-os em seu próprio benefício. — O Irmão Brilhante era um ly’bahr — ele anunciou.

— O quê? — Red perguntou.

— Um ly’bahr — Jube disse. — São ciborgues, Red, mais máquina que carne, extraordinariamente poderosos. Os curingas do espaço, nenhum deles é parecido, mas você não gostaria de encontrar um no beco. Alguns dos meus melhores amigos são ly’bahres. — Percebeu que estava balbuciando, mas não conseguia parar. — Ah, sim, pode ter sido outra espécie, talvez um kreg, ou mesmo um do meu povo num traje espacial de metal líquido. Mas acho que foi um ly’bahr. Sabe por quê? TIAMAT.

Red apenas o encarava.

— TIAMAT — Jhubben repetiu, o jornaleiro desaparecera de sua voz e do comportamento, falando como um cientista da Rede poderia falar. — Uma deidade assíria. Eu verifiquei. Ainda assim, por que chamar a Irmã Obscura por aquele nome? Por que não Baal ou Dagon, ou uma daquelas divindades inferiores que vocês, humanos, inventaram? Por que a principal palavra de poder é assíria, quando o resto da mitologia que Cagliostro escolheu era egípcia?

— Não sei — Red falou.

— Mas eu sei. Porque TIAMAT parece vagamente com algo que o Irmão Brilhante disse. Thyat M’hruh. Escuridão-da-raça. O termo ly’barês para o Enxame. — Jube riu. Contava piadas havia trinta anos, mas ninguém tinha ouvido sua gargalhada verdadeira antes. Soava como o grito de uma foca. — O Mestre Comerciante nunca daria a vocês o domínio do mundo. Não entregamos nada de graça. Mas teríamos vendido o mundo para vocês. Vocês teriam sido uma elite de altos sacerdotes, com “deuses” que de fato ouviriam e produziriam milagres sob demanda.

— Você é louco, camarada — Red falou com jocosidade forçada. — O dispositivo Shakti iria…

Shakti significa apenas poder — disse Jhubben. — É um transmissor de táquions e sempre foi. — Ele se ergueu do sofá e bamboleou até ficar ao lado da máquina. — Setekh viu isso e me poupou. Pensou que eu fosse um desgarrado, um resto de algum ramo do desdobramento. Provavelmente sentiu que seria inteligente me manter por perto no caso de algo acontecer com Kafka. Ele estaria aqui agora, mas quando TIAMAT voltou para as estrelas, o dispositivo Shakti deve ter parecido algo irrelevante.

— Claro, e não é?

— Não. O transmissor foi calibrado. E se eu mandar a chamada, será ouvida no posto avançado da Rede mais próximo numa questão de semanas. Poucos meses depois, a Opportunity chegará.

— Que Opportunity é essa, irmão? — Red perguntou.

— O Irmão Brilhante virá — Jhubben disse a ele. — A carruagem dele é do tamanho da ilha de Manhattan, e os exércitos de anjos e demônios e deuses lutam aos seus serviços. Eles levaram a melhor. Conseguiram contratos vinculativos, todos eles.

Os olhos de Red se apertaram.

— Você está me dizendo que não acabou — ele quis saber. — Ainda pode acontecer, mesmo sem a Irmã Obscura.

— Poderia, mas não vai — disse Jube.

— Por que não?

— Não pretendo enviar o chamado. — Ele queria fazer Red entender. — Pensei que fôssemos a cavalaria. Os takisianos usaram sua raça como cobaias. Pensei que fôssemos melhores que isso. Não somos. Não vê, Red? Sabíamos que ela estava a caminho. Mas não haveria lucro se ela nunca chegasse, e a Rede não dá nada de graça.

— Acho que estou entendendo — Red disse. — Ele pegou a garrafa, mas o rum havia acabado. — Preciso de outra bebida. E você?

— Não — respondeu Jube.

Red foi até a cozinha. Jube ouviu-o abrindo e fechando gavetas. Quando voltou, tinha uma grande faca de trinchar na mão.

— Mande a mensagem — ele falou.

— Uma vez, fui ver os Dodgers — Jube lhe disse. Estava cansado e decepcionado. — Três tacadas e você está fora no velho jogo, não é isso o que dizem? Os takisianos, minha própria cultura e, agora, a humanidade. Existe alguém que se importe por qualquer coisa além de si mesmo?

— Não estou brincando, Morsa — Red falou. — Não quero fazer isso, meu camarada, mas nós, irlandeses, somos um bando de camaradas teimosos. Ei, a polícia está caçando a gente lá fora. Que tipo de vida é essa para mim e para Kim Toy? Se existe uma escolha entre comer de latas do lixo e dominar o mundo, todas as vezes vou optar pelo mundo. — Ele sacudia a faca de trinchar. — Mande a mensagem. Então, eu largo isso aqui e podemos pedir uma pizza e trocar algumas piadas, ok? Você pode pedir carne podre na sua metade.

Jube pôs a mão embaixo da camisa e mostrou uma pistola. Era preta, vermelha e translúcida, suas linhas suaves e sensuais e, ainda assim, inquietantes, seu cano da finura de um lápis. Pontos de luz piscavam bem dentro dela, e encaixava-se com perfeição na mão de Jube.