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Mais tarde, quando estavam próximos de Morningsides Heights, o motorista murmurou:

— … um daqueles malditos curingas!

Croyd seguiu o gesto do homem onde a forma de um pterodátilo ficou à vista por diversos momentos antes de passar por trás de um prédio.

— Siga-o! — Croyd gritou.

— O pássaro de couro?

— Sim!

— Não sei onde ele está agora.

— Encontre-o!

Croyd balançou outra nota para o homem, e os pneus derraparam e uma buzina disparou enquanto o táxi fazia o retorno. O olhar de Croyd varreu o céu, mas Kid ainda estava fora de visão. Ele parou o táxi momentos depois para perguntar a um corredor que passava. O homem tirou um fone de ouvido, ouviu por um momento, então apontou para leste e partiu de novo.

Muitos minutos depois, ele viu a forma angular do pássaro ao norte, movendo-se em círculos largos. Dessa vez, conseguiram acompanhar seu rastro por um momento mais longo e se aproximar.

Quando chegaram perto da área onde o pterodátilo circulava, Croyd pediu para o motorista desacelerar. Ainda não havia nada incomum à vista no solo, mas o caminho do sauro cobria uma área de vários quarteirões. Se estivesse de fato rastreando Devil John, o cara podia estar bem próximo.

— O que estamos procurando? — o motorista perguntou.

— Um homem grande, de barba ruiva e cabelo encaracolado, com duas pernas muito diferentes — Croyd respondeu. — A direita é pesada, peluda e termina num casco. A outra é normal.

— Ouvi falar desse cara. Ele é perigoso…

— É, eu sei.

— O que você está planejando fazer se encontrá-lo?

— Espero ter um diálogo razoável — Croyd comentou.

— Não vou ficar muito perto do seu diálogo. Se o virmos, caio fora.

— Pago bem se esperar.

— Não, obrigado — o motorista disse. — Quando quiser sair, deixo você e corro. É isso.

— Bem… o pterodátilo está indo pro norte. Vamos tentar nos adiantar, e quando conseguirmos você corta pra leste na primeira rua que puder.

O motorista acelerou de novo, rumando para a direita, enquanto Croyd tentava imaginar o centro do círculo de Kid.

— Na próxima rua — disse Croyd, finalmente. — Vira lá e vemos o que vai acontecer.

Viraram devagar e cruzaram o quarteirão inteiro sem Croyd enxergar sua presa ou mesmo avistar seu dedo-duro aéreo novamente. No cruzamento seguinte, contudo, a forma alada passou de novo e, dessa vez, avistou quem estava procurando.

Devil John estava do outro lado da rua, no meio do quarteirão. Carregava nos braços um pacote enrolado numa manta. Seus ombros eram enormes, seus dentes brancos reluziram quando uma mulher com carrinho de compras correu para sair do caminho. Ele estava vestindo uma Levi’s — a perna direita rasgada até a altura da coxa — e uma blusa de moletom rosa que sugeria uma viagem à Disneylândia. Um motorista que passava atingiu a lateral de um carro estacionado quando John deu um passo normal com o pé esquerdo, dobrou a perna direita num ângulo estranho e pulou seis metros adiante até uma área aberta próxima ao meio-fio. Virou-se com um passo normal e pulou novamente, passando um Honda vermelho que se movia devagar e pousando num trecho de grama no canteiro central da rua. Dois cachorros grandes que o seguiam correram para o meio-fio, latindo alto, mas pararam e olharam o tráfego próximo.

— Para! — Croyd falou para o motorista, e abriu a porta, descendo na calçada antes de o veículo parar por completo.

Ele aproximou as mãos da boca e gritou:

— Darlingfoot! Espere!

O homem apenas olhou na sua direção, já dobrando a perna para saltar de novo.

— Sou eu… Croyd Crenson! — berrou. — Quero falar com você!

A figura, parecida com um sátiro, parou meio agachado. A sombra de um pterodátilo passou por eles. Os dois cães continuaram a latir, e um poodle pequenino virou a esquina e correu para juntar-se a eles. A buzina do carro trombeteava para duas pessoas paradas na faixa de pedestres. Devil John virou-se e o encarou. Então, sacudiu a cabeça.

— Você não é Crenson! — gritou.

Croyd avançou a passos largos.

— Tá duvidando? — respondeu, e disparou pela rua e cruzou o canteiro.

Os olhos de Devil John estavam espremidos sob as sobrancelhas desordenadas, enquanto examinava a figura de Croyd avançando. Raspou seu lábio inferior lentamente com os dentes de cima, então balançou a cabeça mais lentamente.

— Nããão — disse ele. — Croyd era mais escuro e muito mais baixo. Não importa, o que você quer de mim, hein?

Croyd deu de ombros.

— Minha aparência muda toda hora — disse ele. — Mas sou o mesmo cara que chutou seu rabo no outono passado.

— Sai fora, camarada — disse ele. — Não tenho tempo para fãs…

Os dois cerraram os dentes quando o carro parou ao lado deles e a buzina disparou. Um homem de terno cinza pôs a cabeça para fora da janela.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou.

Croyd resmungou, deu um passo para a rua e arrancou o para-choque, o qual enfiou no banco traseiro do veículo pela janela que estava fechada até então.

— Inspeção veicular — disse ele. — Você passou. Parabéns.

— Croyd! — Darlingfoot exclamou, quando o carro saiu às pressas. — É você!

Ele jogou o pacote no chão e levantou os punhos.

— Esperei o inverno inteiro por isso…

— Então, espere mais um minuto — disse Croyd. — Tenho que perguntar uma coisa.

— Quê?

— Esse corpo… Por que você o pegou?

O homenzarrão riu.

— Por dinheiro, claro. Que mais?

— Se importa em dizer quanto estão pagando por ele?

— Cinco paus. Por quê?

— Filhos da puta baratos — disse Croyd. — Falaram para que o querem?

— Não e eu não perguntei, porque não me importa. Dinheiro é dinheiro.

— É. — Croyd falou. — Quem são eles?

— Por quê? O que tem a ver com isso?

— Bem, acho que estão te passando pra trás. Acho que vale mais.

— Quanto?

— Quem são eles?

— Uns maçons, eu acho. Quanto vale?

— Maçons? Tipo, apertos de mão secretos e tudo o mais? Pensei que existissem só pra dar aos outros funerais caros. O que iriam querer com um curinga morto?

Darlingfoot balançou a cabeça.

— São uns caras esquisitos — ele respondeu. — Pelo que sei, querem comer o corpo. Agora, o que você estava falando sobre dinheiro?

— Eu acho que consigo mais por ele — disse Croyd. — O que acha se eu der os cinco deles e botar mais um? Te dou seis paus por ele.

— Não sei, Croyd… Não gosto de ferrar as pessoas pra quem trabalho. Vai rolar o boato de que não sou confiável.

— Bem, talvez eu possa chegar em sete…

Os dois viraram de repente para uma série de rosnados e estalos selvagens. Os cães — juntos com mais dois vira-latas — cruzaram a rua durante a conversa e arrastaram o pequeno corpo de inseto para fora da manta. Ele se quebrou em diversas partes, e o dogue alemão segurava grande parte de um braço nos dentes, enquanto recuava, rosnando e se afastando do pastor-alemão. Os outros dois arrancaram uma das pernas de gafanhoto e brigavam por ela. O poodle já estava na metade da rua, uma das mãos de quatro dedos na boca. Croyd percebeu um cheiro horrendo diferente do ar nova-iorquino.

— Merda! — Devil John exclamou, pulando para a frente, o casco estourando um quadrado do pavimento de concreto próximo aos restos mortais. Tentou agarrar o dogue alemão, mas este se virou e correu. O terrier soltou a perna. O vira-lata marrom não. Arrastou a perna, atravessando a rua para a outra direção, carregando o apêndice.

— Vou pegar o braço! Pega a perna! — Devil John gritou, partindo atrás do dogue alemão.

— E a mão? — Croyd berrou, chutando outro cachorro que acabara de chegar no local.